DESUMANIZAÇÃO DO BRASIL
(14/05/2001)

O mundo enfrenta um processo de mudanças aceleradas que afetam profundamente a vida. Os negócios cada vez mais competitivos. Os avanços tecnológicos provocam a rápida obsolescência de muitos produtos, acirrando a competição internacional. Um excesso de capacidade promove forte luta pelos mercados em que os países dependentes são obrigados a abrir e desregulamentar. Essa instabilidade toda exige mais liderança e maior preparo da mão de obra, o que deixa a situação desses países mais delicada ainda.

Os países dependentes como o Brasil adentraram numa situação de dependência crescente de capital externo para atender os compromissos com importações, juros sobre financiamentos, remessas de lucro. A situação é tão complexa porque as variáveis dos compromissos apresentam tendência crescente. As estruturas de produção interna perderam os requisitos de atender as necessidades de consumo de forma competitiva em preços e qualidade. As remessas de lucro tendem a aumentar, face as aquisições feitas pelo capital externo na área de produtos de consumo e serviços. Finalmente, para cobrir o déficit, se fazem necessários mais financiamentos que aumentam a conta de juros. Do outro lado, as exportações não crescem o suficiente, gerando uma dependência crônica.

Assim a oferta de dólares é insuficiente para atender aos compromissos assumidos, e o fluxo instável, sujeito às incertezas da economia. Agora surge também a escassez de energia elétrica como novo agravante sobre os arredios investimentos externos. O dólar, insuficiente e assustado, vai encarecendo, provocando inflação numa economia sem espaço para reajustamento dos salários, ampliando ainda mais as desigualdades.

Para enfrentar a delicada situação torna-se indispensável a formação de líderes, profissionais e empresariais, aptos e dispostos a enfrentar o grande desafio de competir com os produtos importados e encontrar produtos que possam ser exportados para contrabalançar os crescentes encargos. Ou isso, ou um futuro desolador, sombrio e sem esperanças.

O País precisa estabelecer metas que envolvam a melhoria das condições de vida da população. Uma visão comum de paz e prosperidade. Tais metas deverão ser amplamente comunicadas para que haja adesão da população como um todo, envolvendo-se ativamente na conquista dos objetivos, mas isso requer gerenciamento sério e liderança sincera das autoridades governantes. Pra frente Brasil, salve a produção, porque só futebol não resolve.

As cidades estão falidas. A destruição ambiental e a desordenada ocupação provocam problemas sanitários e de saúde. A dengue é um deles. Mas há todo um quadro de deterioração humana e ambiental que se reflete na feiura e abandono das cidades, na falta de ocupação para a população adulta, nas deficiências escolares e de lazer para os jovens.

É imperioso buscar soluções. É imperioso que as autoridades governamentais se dediquem aos problemas que ficaram em plano secundário devido à premência com que se apresentam os déficits orçamentários, por força da imposição das organizações internacionais que supervisionam as finanças dos países devedores.

E agora um novo problema: a energia elétrica não será suficiente nem para manter o atual nível de produção, quanto mais para aumentá-lo. O que fazer? São problemas preocupantes, de tirar o sono de qualquer governante comprometido com o futuro de seu povo.

A desestruturação urbana parece acompanhar a desestruturação do Estado. Dezenas de assessores e ministros, centenas de Congressistas, mas tudo isso não foi suficiente para um planejamento preventivo de geração e transmissão de energia elétrica, apesar das inúmeras advertências da imprensa e de analistas particulares. Isso decepciona a população numa fase em que a vida se torna cada dia mais complicada e problemática, deixando os nervos à flor da pele, porque tudo parece se opor a uma existência alegre e serena.

Assim enfrentamos mais um percalço impeditivo para que a nação evolua combatendo a ignorância, a desigualdade social e a crescente desumanização que avança em todas as direções.