ORIGENS DO CAPITALISMO
(18/05/2001)

Quando recuamos no tempo, pesquisando a origem do capitalismo, dois enfoques têm sido usualmente apresentados pelos pesquisadores. Há os que seguem pela via da análise da atividade econômica, desde o simples escambo, das trocas de coisas por outras coisas, até a complexidade econômica de nossos dias. Outros, seguindo por direção diversa, procuram explicar a evolução do capitalismo, como resultante da cisão ocorrida na Igreja com a Reforma Protestante, que liberou os seres humanos para a atividade econômica desvinculada da tutela dogmática, surgindo a partir daí a gênese do moderno capitalismo, como forma de estabelecer a produção e circulação das mercadorias e serviços para o atendimento das necessidades humanas.

Alguns pesquisadores se esforçam por mostrar uma Igreja hegemônica, que exercia amplo controle das atividades humanas, tolhendo as iniciativas pioneiras no sentido de uma ousada procura de outros significados que não os propostos, sistemática e impositivamente, como a verdade dita única e permanentemente inalterável.

Assim, a ruptura com os cânones da Igreja possibilitou o surgimento de uma nova casta preocupada em desempenhar um novo papel na atividade econômica que, ao lado da organização da produção e comercialização dos bens, tinha também por objetivo o ganho do empresário, do investidor. Iniciou-se um novo ciclo de conflitos e desavenças entre os que condenavam as novas formas de organizar a produção e o comércio e a nova classe de empreendedores, estando a religião no cerne dos conflitos.

Contudo, a capacidade de produção foi sendo enormemente ampliada. A possibilidade de ganhos crescentes e cumulativos deslocou o eixo do poder das propriedades para o potencial da riqueza financeira.

A luta pelo poder e a sede por lucros crescentes, provocaram amplos desequilíbrios. Tudo o que reduzia o lucro foi sendo submetido a mudanças com o propósito de gerar mais lucros, sem preocupações com as conseqüências econômicas e sociais ou ambientais. Contudo foi alcançado um grande desenvolvimento material e da indústria do entretenimento.

A Igreja perdeu a sua hegemonia, embora mantenha ainda expressiva participação no mundo ocidental. A população, porém, não se preocupa muito, e se vai acomodando à filosofia de vida concebida pelo capitalismo, cujos elementos básicos são a educação para o trabalho oferecido pelas empresas e o consumismo como o grande ideal da vida. Mas o grande impasse é a crescente exclusão do trabalho e do consumo. Pode ser que alguma redução no tamanho dessa exclusão venha ser alcançada, mas os seres humanos ainda não encontraram o caminho alegre para a evolução em sua plenitude, e continuam distantes do verdadeiro sentido da vida. Quando isso vier a ocorrer, estarão mais próximos do reconhecimento das leis da Criação, e, se aprenderem a respeitá-las, tudo que o ser humano construir será melhor e mais duradouro, porque respeitar as leis da Criação é respeitar a Vontade de Deus.

Mas atualmente impera a "lei da selva", os mais fortes tirando proveito dos mais fracos. A grande capacidade produtiva atingida pelos grandes conglomerados, em parte ociosa, precisa de vazão. Os pequenos são devorados. Elimina-se a concorrência através das grandes fusões, que por sua vez reduzem os custos. Os que perdem o emprego porém ficam marginalizados. São excluídos do mercado.

O Planeta inteiro se transforma num grande mercado em que os capitais vagam livremente em busca da melhor taxa de juros, do menor salário, dos melhores incentivos fiscais. Enfim o ganho é o que interessa. Se os consumidores diminuem, ajusta-se o preço, para isso a concorrência vai sendo eliminada.

"As grandes corporações representam um enorme perigo para o Estado Democrático. Através da crescente concentração de empresas surge um violento potencial de poder, para além do parlamento e do governo, e sem nenhuma legitimidade democrática. As corporações têm uma posição forte o bastante para impor seus objetivos à política e às pequenas empresas." (Em "As dez mentiras da Globalização", Edit. Aquariana, G. Boxberger e H. Klimenta).

Mas não deveria ser assim. As grandes corporações, promotoras das doutrinas da redução da interferência estatal dominada por vícios e descaminhos, deverão assumir seu papel na condução das relações humanas sob um prisma mais elevado, promovendo um aprimoramento educacional e cultural da população, pois do jeito como estamos caminhando, estamos perdendo a essência da humanidade, cedendo lugar a um grupo homogêneo de acomodados consumidores. A relação entre as grandes corporações e os consumidores não difere muito daquelas entre os aristocratas e seus servos ou escravos. O ser humano não nasceu para ser um mero consumidor. Finalidades mais nobres fazem parte da vida, tais como evoluir em paz e alegria, criando beleza em tudo que fizer, para que o Planeta seja uma verdadeira pátria de seres humanos em busca de sua evolução, não um supermercado de apáticos e revoltados consumidores.