APAGÃO
(16/07/2001)

As pessoas são muito ligadas a ambientes claros. Podem até, em dados momentos, preferirem a penumbra, porém a sensação de permanente penumbra ou escuridão provoca insegurança, despertando medos inconscientes que mexem com a psique humana, fazendo os indivíduos pensarem sobre coisas que normalmente não pensariam preferindo ater-se ao trivial: comida, diversão e trabalho. Mas o apagão está levando muitas pessoas a refletirem a vida, o seu significado, a sua fragilidade.

O mundo também já enfrenta a falta de água. A Humanidade viveu milênios sem energia elétrica, mas quando a água desaparece, a população perece ou tem que mudar de região. O corpo humano é constituído essencialmente de água, e sem ela não há como produzir alimentos.

A poluição desenfreada acaba com os mecanismos que repõem os mananciais. As alterações climáticas também. No Brasil, mesmo sendo dotado de um gigantesco aqüífero subterrâneo, presente no subsolo dos Estados do Rio Grande do Sul até ao Mato Grosso do Sul, não deixa de ser uma grave incivilidade a desenfreada poluição dos rios e a falta de uma firme vontade de limpá-los impedindo a sua continuada destruição.

Os seres humanos não deram valor a água porque consideravam-na abundante e barata. Não se detiveram ante a poluição e morte dos rios. Importante é o que produza dinheiro como o petróleo, que produz resultados econômicos financeiros imediatos através da energia que libera. Quanto a água, elemento vital, pouca atenção tem sido dada, porque face a sua abundância, foi sempre considerada desprezível como riqueza. Mas no século XXI a humanidade acabará descobrindo o real valor da água, pois sem ela, a vida fenecerá.

As coisas se estão complicando, nas famílias, nas organizações, nos Estados. Mas as pessoas tinham muita pressa, não sobrava tempo para análises mais profundas. As horas de folga sempre foram preferencialmente empregadas em divertimentos. Não é por acaso que encontramos em muitos bairros ou cidades várias vídeo-locadoras e quase nenhuma biblioteca ou livraria.

Livros exigem tempo e atenção, mas oferecem aos leitores a possibilidade de ampliar a visão e a capacidade de reflexão. Os livros educam, enquanto as imagens vão sendo aceitas pelo cérebro, influenciando as mentes de forma semiconsciente. As imagens vão surgindo velozmente na tela. Quando a pessoa se apercebe a imagem já foi vista e não sabe exatamente o quanto foi contaminado inconscientemente. Por isso a sua grande força manipuladora das mentes e do estado de ânimo.

A esse respeito cabe ressaltar as palavras de Shimon Peres em entrevista para a revista Veja: "Não é a imagem que define a realidade. A imagem é parcial, irreal. Isso decorre do fato de ser construída a partir do noticiário da televisão. A televisão mostra a história, mas não a conta. Seu noticiário é baseado na rapidez, sem profundidade nem refinamento. A humanidade está dividida em duas partes: a que lêlivros e a que assiste à televisão. As pessoas que lêem têm mais tempo, participam mais, contemplam mais. Esse ritmo mais lento é que forma a aristocracia de uma civilização. É uma pena que a maior parte das pessoas tenha pressa. O vai-e-vem rápido do noticiário da televisão não ajuda a entender situações complexas como a do Oriente Médio".

Assim também "o apagão" e tantas coisas complexas que estão pressionando a vida humana de forma mais intensa estão a exigir uma análise menos apressada e mais profunda, comprometida com a busca da verdade:

Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? O ser humano necessita de uma religião?

No filme "Stigmata", da MGM, o grande segredo que se desejava ocultar é que entre os ensinamentos originários de Cristo, constava que a criatura humana não necessita de intermediários na busca de seu Criador, mas, para tanto, deverá ser espiritualmente ativa em sua busca até encontrar a Luz da Verdade fortalecedora do espírito. "O Reino de Deus está dentro de você." As capacitações latentes, os talentos, capacitam o ser humano para o reconhecimento do sentido da Mensagem de Deus sem a necessidade de intérpretes. E isso, abrange a humanidade inteira, não apenas a cristandade.

"De que vale a construção de um reino terrestre, se não visa a glória de Deus, se não age segundo o sentido de Deus que ainda ignorais por completo e tampouco até agora quisestes aprender a conhecer, visto colocardes vossa opinião acima de tudo o mais. Apenas quereis satisfazer-vos, e esperais ainda que Deus abençoe vossa obra mal feita! Mas servir e cumprir vossas obrigações para com Deus não tendes a mínima vontade de fazer." (Mensagem do Graal, de Abduschin, Vol.1, pág.179).