IMPACTOS DA CRISE DE ENERGIA
(23/07/2001)

Por maiores que sejam as dificuldades, sempre haverá uma saída, desde que haja perseverança e sinceridade de propósitos visando o bem. Não devemos aceitar a derrota antes da hora. Persistência e análise sincera, mesmo que isso implique em aceitar e reconhecer as próprias falhas, propiciarão reconhecimento dos caminhos para as soluções.

A Inter News Eventos promoveu no dia 16 de julho p.p., no Maksoud Plaza Hotel, Seminário sobre o tema: "Impactos da Crise de Energia no Desempenho da Economia", reunindo experientes conferencistas como Eustáquio Reis, Diretor do IPEA; Horácio Lafer Piva, Presidente da FIESP; Francisco Gros, Presidente do BNDES e o líder empresarial Antonio Ermírio de Moraes, que apresentaram um quadro nítido e realista da situação.

O plano B é de um realismo estarrecedor prevendo que o preço poderá aumentar em até 69%, e o PIB crescer no máximo 3% em 2002. Há um forte desânimo entre os empresários por verem frustradas as suas esperanças de crescimento, face a elevação dos juros, ameaças aos empregos e retração do consumo. Uma revisão do que está sendo importado poderia indicar alternativas para o incremento da produção interna. Os investimentos foram efetuados dentro do possível, mas inferiores às necessidades. A grande estiagem antecipou a crise. A energia não atende às necessidades.

A forte concentração da renda incrementada pelas fusões atua negativamente para o País, não obstante a inexorabilidade da globalização. Fusão não significa entrada de recursos mas acelera a concentração da renda.

Chamou a atenção os relatos sobre as atividades da Comissão incumbida de lutar contra o apagão. Assim como a população deu uma resposta altamente positiva no sentido de economizar energia, a Comissão, conforme relatado, desdobra-se em recuperar o tempo perdido em encontrar soluções "que nos livrem dessa aflição do corte de energia", como espera o empresário Antonio Ermírio de Morais.

Eis o lado positivo da questão. A população, desprendidamente, faz a sua parte. Não precisou de grandes campanhas publicitárias que custam milhões aos cofres públicos. Espontaneamente as pessoas estão fazendo a sua parte para economizar energia. A Comissão do Apagão também dá mostras de uma seriedade e patriotismo que há muito não tem sido observado no País. É disso que estamos necessitando.

É fato que não se pode agora atribuir a culpa somente à forte estiagem que não representa nenhuma novidade para os meteorologistas. A seca vem sendo anunciada há tempo. Não foi falta de aviso, embora se trate de uma situação anormal que foge aos padrões. Aliás, no mundo inteiro estão ocorrendo profundas alterações climáticas que estão criando dificuldades e quebrando rotinas tradicionais, seja com calor excessivo, frio muito intenso, inundações em vários países e estiagens prolongadas como é o nosso caso.

Mas, inegavelmente, os seres humanos não procuram organizar a vida de tal forma que os problemas sejam previstos e solucionados com tempo, paciência e dedicação. Prevalecem as lutas políticas pelo poder, a lógica maquiavélica, que visa destruir o inimigo, mesmo que para isso tenham que agir permanentemente de forma destrutiva, enfeiando o planeta, criando condições sub-humanas de vida.

O Brasil saiu dos anos 80 como a década perdida. Nos anos 90 foi iniciado um grotesco programa de abertura irrestrita e combate a inflação com âncora cambial que no fundo era apenas uma cópia diferenciada do sistema argentino de paridade cambial. Ao final atingimos um passivo externo líquido de US$355 bilhões e uma situação tributária perversa que abate a capacidade competitiva das empresas e reduz o poder aquisitivo dos consumidores. Apesar de uma arrecadação que bate recordes sucessivamente, o orçamento da União dispõe de magros US$ 5 bilhões para investimentos, num País onde falta tudo: estradas, escolas, hospitais, saneamento, moradias e mais recentemente energia elétrica. Não diversificamos em busca de fontes alternativas de energia como solar, eólica, biomassa. A nuclear ainda representa um sério risco. Não alcançamos o estagio evoluído para utilização pacifica dessa poderosa energia.

Assim, a forte estiagem nos pegou como as cigarras cantantes, quando deveríamos ter sido prudentes como as formigas da fábula, trabalhando ativamente sem desperdícios em consumo de supérfluos.

Enfim é tempo de o poder público voltar-se para as necessidades fundamentais do país de forma continuada, saindo de seu enfoque unilateral monetarista. O Brasil tem tudo para crescer, precisa de trabalho planejado, sinceridade de propósitos, seriedade, amor e dedicação a esta maravilhosa terra colorida de verde e amarela pela pujança de suas florestas nativas, para que a sua população possa evoluir em paz e harmonia.