NOVA YORK ENSANGUENTADA
(14/09/2001)

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(Inicialmente esta crônica entitulava-se "Inteligência Artificial". Com os trágicos e lamentáveis acontecimentos havidos em 11 de setembro, foi ampliada e o título alterado.)

A estória apresentada no filme "Inteligência Artificial" tem vários ângulos, permitindo inúmeras análises e comparações de sua simbologia com a vida real. Daria para escrever um livro, tantas são as nuances enfocadas nos 140 minutos de filme. Contudo, inteligente mesmo é Steven Spielberg, que sempre consegue lançar filmes com grande sucesso nas bilheterias.

Uma boa parte da estória se refere ao relacionamento dos seres humanos, designados por "orgânicos" ou simplesmente orgs, e os "robôs" apelidados de "mecas", de mecânicos sem entranhas, sem alma e sem coração. Meras máquinas construídas para prestar serviços de todo o tipo, inclusive sexuais.

No mundo real em que vivemos já existem robôs, através da automação. Não tão perfeitos ainda, mas o suficiente pra ter ampliado enormemente a capacidade de produção, gerando ociosidade na capacidade produtiva, reduzindo a necessidade de mão de obra, tornando-a um fator de custo muito baixo em toda a periferia do mundo desenvolvido. Assim, muitos se aventuram em procurar uma vida melhor, fugindo do seu país de origem em direção aos mais desenvolvidos, onde falta mão de obra para serviços de menor qualificação. Os "mecas" do terceiro mundo não se importam com isso. Querem fugir da miséria, da violência urbana, da falta de escolas e hospitais.

E lá vão eles em busca de um trabalho com um salário semanal. Mas isso causa problemas aos países hospedeiros porque, nestes tempos de miséria, não há espaço para todos. Então os países se fecham, permitindo apenas permanência provisória, para que através de um rodízio, não lhes faltem prestadores de serviços, sem criar o inconveniente de inchar a população com um tipo não muito desejável para uma estada permanente.

Em recente visita aos Estados Unidos, o presidente Fox, do México, não vacilou em cobrar de Bush, uma posição quanto aos imigrantes mexicanos e a instabilidade de sua permanência. Os "mecas" da periferia do mundo também sonham com a "fada azul" de Pinóquio, querendo se tornar seres humanos de primeiro mundo.

No Brasil temos o uso e abuso do turismo sexual. Mais barato que comprar um "meca". Agora que o Real caiu na real, ficou tudo num preçinho bem atraente. Os Europeus vão para Fortaleza realizar fantasias sexuais com as ninfetas.

Até aqui fizemos uma pequena analise comparativa do trabalho humano na periferia e no mundo desenvolvido. Mas, na vida real podemos focalizar outras imagens. Quem são os "mecas" e quem são os "org"? O que diferencia os seres humanos dos robôs?

O que deveria diferenciá-los é a intuição, a voz interior. O cérebro frontal, com sua atividade intelectiva está amplamente habilitado a lidar com todos os aspectos da matéria visível aos olhos normais ou com a ajuda de instrumentos especiais. Comparar, medir, qualificar, examinar causas e efeitos, planejar a realização de projetos ou tarefas. Enfim poderíamos dizer que o cérebro está apto a realizar todas as atividades mecânicas de pensamentos ou raciocínios lógicos. Também dispõe de especial habilidade na utilização da astúcia.

Já a intuição procede do interior. É a voz interior ou a voz do espírito propriamente, mas que atualmente, na grande maioria dos seres humanos, se acha atada, enfraquecida, ante a hipertrofia da vontade mental gerada no cérebro. Sobre esse assunto vide "A Mensagem do Graal", de Abdruschin. Alguns estudiosos falam na inteligência emocional, como manifestação a ser cultivada para fugir ao mecanicismo cerebral que determina o bitolamento do pensar, a ponto de por isso mesmo, possibilitar o emprego de táticas de manipulação e condicionamento das ações por impulso, mormente pela psicologia da propaganda aplicada sobre as massas, induzindo a comportamentos previamente desejados.

Então, a esse respeito podemos dizer que grande parte dos seres humanos se tornou "meca". Isto é, o seu comportamento e atitudes tem mais a ver com o que é absorvido de fora para dentro, do que de uma decisão própria, maduramente examinada através de análises e reflexões intuitivas. O contínuo aprimoramento das reflexões intuitivas, permitiria aos seres humanos caminhar pela vida com mais firmeza e segurança, e com certeza, tomando sempre as decisões mais adequadas, mais condizentes com a sua condição de ser humano, portanto sempre de forma beneficiadora, enquanto que as decisões mecânicas, sempre se caracterizam pela sua aspereza e falta de coração, acarretando o enrigecimento e embrutecimento humano, isto é, fortalecedora do fator mecanicista. E tudo isso pode ser observado no filme. Outras considerações exigiriam várias páginas adicionais, que ficam para uma outra oportunidade.

Concluindo, um ser humano normal de corpo e alma, com a sua intuição vivificada e ativa, jamais poderia agir de forma a causar danos ao seu próximo. Um "meca" sim, posto que age com o seu lado mecânico, sem coração, movido unicamente por sua vontade intelectiva alimentada pelo ódio e frieza de seu raciocínio. Somente um "meca" sem coração se habilitaria a por em execução um projeto tão brutal como o praticado contra o povo de Nova York, que indiscutivelmente, é a capital onde o mundo se encontra, onde vivem e trabalham pessoas procedentes de todos os países. Nova York pode ser a capital do mundo, isto é, a cidade onde se concentra o capital, mas é também a cidade habitada por seres humanos com alma, com sentimentos e sensibilidade artística, enfim habitada também por "orgs" espiritualizados.

A Nova York, tão procurada pelos alegres e sorridentes "brazucas", ficou triste, ficou enlutada com o sangue de milhares de seres humanos. É um grande sofrimento que um verdadeiro ser humano jamais provocaria.

Um "orgânico" se torna verdadeiramente ser humano tanto mais quanto se espiritualizar. Já em oposição, um "meca", tanto mais quanto sufocar o espiritual que lhe dá vida, separando-se da Luz. Somente um "meca", se torna apto a executar atrocidades como a de Nova York. É necessária a conclusão das investigações. Tanto podem ser "mecas" de fora, estrangeiros, como de dentro. Ou ambos, em macabra associação, visando a destruição e o mal, trabalhando a serviço das trevas.