MUNDO AMEAÇADOR
(05/11/2001)

O planeta não é mais o mesmo. Perigos de todos os tipos nos ameaçam. De todos os lados surgem riscos. Antes, a insegurança era coisa de país decadente onde tudo é muito perigoso. Do trânsito confuso e caótico, com muitos irresponsáveis no volante, ao risco de assalto nas esquinas, nas paradas nos semáforos. Temerosas e preocupadas as pessoas saem de casa para o trabalho cientes que sempre poderão se defrontar com ocorrências perigosas e desagradáveis.

Acidentes acontecem, mas muitas pessoas não conseguem compreender como dois caminhões carregados com pneus, se chocam de frente, dentro de um túnel de 17 quilômetros, o de Gotthard, na Suiça, interrompendo a saída da Itália para o norte da Europa. O fato é que na vida, atualmente, são muitas as incertezas e poucas as explicações.

Mas, Hollywood já produz filmes direcionados para os conflitos do século 21. Vide “A Conspiração” do original “The Contender”, filmado em Washington. Jeff Bridges dá uma aula de como ser o presidente da nação número um em tudo, inclusive na astucia. Mas a principal mensagem ficou por conta da vice-presidente democrata, Joan Allen, colocando os EUA na vanguarda do combate ao terrorismo. “Meu templo é a democracia. Igreja e Estado devem estar separados para evitar a danosa interferência de religiosos fanáticos.”

Esta é sem dúvida, a dura realidade que se evidencia no início do milênio. Os fundamentalismos se exacerbam e causam apreensões entre os seres humanos. Mas não se poderia esperar nada diferente, posto que os fundamentalismos são produzidos no interior das oficinas dos intelectos humanos, sem a luz do espiritual, portanto afastados das leis da Criação.

No mais o filme se recheia das costumeiras vulgaridades, como ensinar o efeito danoso de uma facada no umbigo, ou a morbidez e mau gosto de fazer caminhadas atléticas no cemitério. Ora, caminhadas deviam ser mostradas em parques e bosques, em contato com a natureza, não com túmulos.

Hollywood deve perceber a sua grande responsabilidade, mostrando imagens positivas e construtivas, pois a sua atuação exerce poderosa influencia sobre as massas, tanto para o bem como para o mal.

As populações do ocidente agora se conscientizam das rachaduras que permeiam a população muçulmana. Uma reduzida elite adaptada aos confortos da moderna tecnologia, ao lado de um enorme contingente para se virar como pode, tendo apenas os fundamentos da religião para se apegar com as duas mãos.

Mas, no ocidente subdesenvolvido, a situação não é muito diversa. A desigual distribuição da renda cria um cenário bem semelhante. A infra estrutura da sociedade também se apresenta rota, seja na saúde, na educação, no saneamento. Não há um cenário de guerra, mas a violência urbana se agrava, sem prevenção nem proteção.

O nível da renda tem conexão com o nível de corrupção. No país onde o nível de renda é baixo, a corrupção tende a ser mais disseminada, seja na área privada ou na esfera pública, estando por vezes interconectadas. No país onde a renda é baixa, ocorre também um rebaixamento da moral e da auto-estima, tanto em homens como mulheres. A vida apresenta muitas dificuldades e o comportamento das mulheres foge aos padrões dos países mais ricos onde as relações mulher-homem tendem a ser mais estáveis, mesmo fora do casamento formal.

Houve um breve período no qual as massas adquiriram uma esperança de melhoras na qualidade de vida, mas logo depois surgiram os fortes programas de contenção de gastos públicos na área social e, no setor privado, as empresas adotaram reestruturações e reengenharias que cortaram milhares de empregos, principalmente da classe média de melhor remuneração.

Então, olhando para isso tudo, o mundo muçulmano não vêestímulos para modernização através da ocidentalização do sistema econômico, separando o Estado da religião.

Mas há uma grande diferença, no mundo ocidental ainda respiramos a liberdade de culto e do que fazermos com a nossa vida pessoal, desde que não adentremos no espaço alheio.

Contudo, países que se tornaram dependentes de capitais externos para o giro das operações normais, isto é, não só para os investimentos, mas até para o suporte do dia a dia das contas correntes com o exterior, não se podem dar ao luxo de pensar em desenvolvimento. As prioridades são todas para o equilíbrio das variáveis monetárias e cambiais que assegurem o suprimento de recursos externos. E, nesse curso, dolarização será a tendência dominante face a dependência e ao atrelamento ao dólar. A moeda interna vai perdendo a sua expressividade, a menos que houvesse pujança ou equilíbrio no saldo comercial, e equilíbrio nas demais contas. Quando o fluxo cambial assume tendência negativa, a situação se torna cada ano mais grave. Toda a economia parece ir definhando, dificultando e impossibilitando o tão necessário desenvolvimento. Aumenta o descontentamento e a insatisfação da população que, inconformada, passa a agir de forma irrefletida, apresentando exigências que nem sempre podem ser atendidas de imediato, gerando assim, conflitos de difícil solução.

No Afeganistão, estudantes e professores não fazem greves. Eles estudam muita religião nas escolas que se chamam “madrassas”.

Ensinar uma determinada religião às crianças não é o procedimento humano mais adequado, porque elas não têm discernimento para analisar. É o mesmo que ministrar o catecismo ou o judaísmo desde a mais tenra idade, porque ao crescer, o jovem não terá margem nem espaço para decidir individualmente, fazendo uso do seu livre arbítrio, para escolher que caminho seguir em termos de religião.

Aos jovens deveria ser oferecido um conhecimento sobre a Criação e o seu funcionamento. A origem dos mundos. O funcionamento da maravilhosa natureza e os seus mecanismos automáticos de evolução, o surgimento dos primeiros seres humanos. A trajetória espiritual da humanidade. A história das religiões e a sua evolução. Assim, com a mente bem aberta, os jovens deveriam ser orientados, recebendo o adequado preparo para que possam decidir, com o uso dos atributos da intuição, o próprio caminho. Esta seria a grande revolução da nova era. Mas, ao invés disso, no ensino de religião é inculcado nas crianças as noções e ensinamentos que mais interessam aos respectivos grupos dominantes.

Também é muito importante a participação da multimídia eletrônica que não raro mostra um mundo artificial e destituído de humanismo, deixando os jovens completamente desorientados sobre o que fazer com a sua vida num mundo sem emprego.