SONHAR COM O MELHOR
(25/03/2002)

A correria pela vida está acabando com os sonhos. Máquinas e computadores não sonham, apenas executam suas funções em resposta aos comandos recebidos, e é nisso que os seres humanos se estão transformando. Mais do que nunca é preciso sonhar com a beleza, com a paz e com a alegria. O sonho não deve ser uma fuga da aspereza da realidade, mas sim a modelagem de uma vida melhor. É acreditar que a melhora é sempre possível, mas que exige esforço e dedicação de cada indivíduo.

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Os seres humanos estão perdendo a capacidade de sonhar, assim como estão perdendo a capacidade de enxergar o que está se passando com a vida. As coisas estão piorando de um modo geral, mas poucos estão percebendo ou querendo ver, por isso nada é feito. Então, as coisas terão que piorar muito antes que possam surgir melhoras.

Estamos diante de um quadro muito delicado. Após o atentado de 11 de setembro se tornou nitidamente visível que o mundo atravessa uma fase em que eclode simultaneamente uma tríplice crise envolvendo religião, política e economia. Essa é uma zona perigosa de atrito, porque falta uma base para o entendimento e as divergências se acirram e tudo conspira para que ao invés de sonhos, surjam brutais pesadelos.

O ser humano sempre se defrontou com o dilema de buscar o significado da vida além da sua existência terrena, vivendo responsavelmente. Ou aceitar a idéia de que a vida se exaure por aqui mesmo, e que se torna inútil e desnecessária a busca da espiritualidade, o que importa mesmo são os prazeres sem que haja uma responsabilidade com que se preocupar.

Este simples dilema representa o arcabouço do destino humano. A escolha do caminho a seguir é puro exercício do livre-arbítrio. E, dependendo do caminho escolhido, o indivíduo e a humanidade, constróem o seu futuro, colhendo o respectivo resultado.

A história ganha agora contornos bem realistas, mostrando com fidelidade os fatos marcantes do mundo ocidental. A religião, ou melhor os seus dirigentes, sempre caminharam ao lado da política, abraçados na perseguição dos mesmos objetivos. O sagrado era um aspecto colateral, nunca tendo sido o mais importante, a razão de ser. Com o desenvolvimento do econômico, a política foi sendo assimilada, distanciando-se gradativamente da religião, até a completa separação, estabelecendo-se contudo uma diplomática convivência. Patenteou-se o domínio do econômico como a principal opção dos humanos, o que eqüivale a dizer que a busca da espiritualidade acabou sendo postergada, posto que objetivos mais imediatistas se tornaram prioritários para os seres humanos individuais, os quais guindaram à governança seres humanos que pensavam dessa mesma forma. Na religião islâmica não ocorreu esse tipo de transformação. O econômico se manteve estagnado, enquanto a religião e a política permaneceram intimamente ligadas.

A população do Planeta cresceu muito estando acima de seis bilhões de habitantes, dos quais metade vive com menos de 2 dólares por dia. A cada década aumenta a pobreza. A miséria econômica e social avança impetuosamente pondo em risco a própria governabilidade. Nesse quadro, a crise econômica, política e religiosa assume aspecto inquietante face a fundamentalismos irreconciliáveis, a intolerância que vai tomando corpo, e a clandestinidade dos atos terroristas, num momento em que os estoques de armas químicas, bacteriológicas e nucleares, estão espalhados pelo mundo em quantidades assustadoras, aptas a uma descomunal destruição da vida.

Nesse cenário torna-se fundamental a busca da compreensibilidade das leis básicas da Criação como meio de estabelecer um entendimento certo e justo entre as religiões e o poder político. No reconhecimento das Leis da Criação surgirão as convergências. Sendo as leis da Criação, cósmicas e universais, indiferentes aos postulados que os seres humanos introduziram nas religiões, os existentes grãos de verdade despontarão em sua similitude, seja no judaísmo, no cristianismo ou em qualquer outra religião, porque estão de conformidade com as leis.

A ausência disso tem levado os seres humanos a provocarem danos sobre danos, transformando a vida nesse pesadelo de inquietação e insegurança geral. Mas a vida poderia ser maravilhosamente bela, como um lindo sonho digno de ser sonhado e defendido a todo custo.