OS PESSIMISTAS DOMINAM
(14/06/2002)

Temos que tomar muito cuidado com a visão pessimista da vida. Não adianta ficar remoendo continuamente o mal, pois dele jamais nos libertaremos se permanecermos dando-lhe nutrição diariamente, tornando-o cada vez mais forte e dominante sobre a comportamento das pessoas que se quedam desanimadas, incapazes de iniciarem uma virada em busca da paz e da alegria. A vida não era para ser o que é atualmente, um palco de horrores onde ocorrem os mais trágicos e torpes acontecimentos vividos pelos seres humanos.

Sobre desgraças nem é bom falar. Quando temos uma situação como a do Brasil, onde mais de 50 por cento das crianças que entram na escola não concluem os oito anos de estudo básico do primeiro grau, não é para admirar que tenhamos uma população alfabetizada que não sabe ler. E pensar que essas crianças vão adquirir a educação complementar diante do pessimismo exibido nas telas das televisões, talvez aíesteja um indicativo de porque acontecem tantas desgraças.

O mundo passa por uma fase de grandes transformações. Embora a grande maioria das pessoas não queiram admitir há algo diferente no ar. Alega-se que a vida é assim mesmo, que sempre houveram guerras e tragédias, mas estamos sendo surpreendidos por uma avalanche de acontecimentos fora de qualquer controle: Excesso de população despreparada. Deterioração ambiental. Aquecimento global. Desequilíbrio nas contas governamentais. Desemprego crescente. Terrorismo. Ameaça de guerra nuclear.

Num momento de desordem da economia mundial, acentua-se o protecionismo dos países ricos. Todos querem exportar criando embaraços para as importações. Minguam os fluxos de capitais para os países pobres que necessitam desesperadamente de superávit para cumprir seus compromissos sem dar margem a que os credores fiquem assustados. No mercado financeiro os governos se tornaram os grandes devedores.

Só os tolos poderiam pensar em retaliação, uma ilusão que tornaria a situação ainda pior, pois a qualquer deslize seguiremos os passos da Argentina No Brasil estaremos engessados pelo menos por uns 20 anos trabalhando para a situação melhorar, isso se houver uma firme disposição governamental. As dívidas cresceram muito, mas as exportações permaneceram estagnadas. O equilíbrio nas contas externas nunca é alcançado. Neste exato momento de incertezas eleitorais o mercado mostra a sua cara, o dólar sobe, a taxa de risco aumenta e o futuro fica incerto. A fragilidade das contas vem à tona. As gerações do futuro provavelmente não conseguirão compreender como foi possível chegar-se a tal desequilíbrio das contas.

Não se trata de uma visão pessimista da vida, mas de uma constatação através de fatos reais que deveriam levar a população à análises e reflexões mas sem pânico, pois onde não há compreensão acabam surgindo o medo e o ódio.

Então as populações são desviadas, mantidas como que anestesiadas. Os acontecimentos desagradáveis que demonstram a irresponsabilidade humana são mostrados parcialmente, em doses homeopáticas para evitar o pânico e a inquietação. Criam-se cenários de aparente normalidade, de que a vida é assim mesmo e nem poderia ser de outra maneira. Sem energia e disposição para analisar os fatos, os seres humanos preferem acreditar em tudo que lhes é impingido.

A humanidade está doente, mas não intui isso porque perdeu a capacidade de usar a intuição. Está intoxicada de conceitos falsos e errôneos, não conseguindo mais enxergar a verdade, porque foi levada a crer estar de posse da verdade, mas está de posse apenas de pedaços da verdade sem que haja a correta conexão. Enquanto não houver uma nítida compreensão do real sentido da vida, a vida continuará sendo isso, uma áspera progressão de sofrimentos sobre todos os povos, sobre todas as camadas sociais. É triste constatar que quanto mais a humanidade avançou no progresso tecnológico e material, mais empedernida se tornou, e não mais consegue compreender como um ser humano se tornou capaz de cometer tantas atrocidades. Então a visão pessimista se esparrama por este mundo onde deveriam imperar apenas a paz, a alegria e a continua evolução da qualidade humana.

De forma sutil, subliminar, ou agressivamente violenta, os seres humanos estão sendo sempre colocados diante da fatalidade da morte. A vida não pode ser só isso, tantas lutas e sofrimentos para que? E depois? E antes, o que era? O marco que deveria despertar as atenções para o significado da vida, acaba contribuindo para fortalecer o medo paralisante, dificultando o surgimento de oportunidades para a pesquisa do real sentido da vida?

Sem amor, amizade e compaixão pelo sofrimento alheio, tudo fica tão frio, áspero, brutal. Desaparece o nobre sentimento de ajudar. As condições de vida pioram progressivamente. Mesmo assim, não há reconhecimento. Nem as elites nem as massas pensam no aprimoramento da alma, no reconhecimento das leis da Criação, o que é imperioso se realmente se desejam melhoras.