AS ILUSÕES ECONÔMICAS SE REDUZEM
(13/08/2003)

Os seres humanos estão perdendo a capacidade de enxergar a realidade, seja na economia, na educação, na medicina. Tudo passa a ser visto em função deíndices, indicadores, relatórios, resultado de exames de laboratórios. Para muitos a informação revelada no papel se torna mais importante do que a própria realidade.

imagem

Evidente que de forma geral há um aumento do empobrecimento material e espiritual da humanidade. Mas as elites governantes necessitam constatar, através de indicadores para reconhecerem, por exemplo, que nos anos 90 aumentou a pobreza na América Latina. Contudo basta um olhar observador por cidades importantes como São Paulo para se verificar que de fato o aumento da pobreza geral está deixando marcas profundas em toda a paisagem econômica e social.

Ruas mal cuidadas, prédios abandonados, aumento de imóveis a venda ou para alugar, população desmotivada, subemprego. Mas é imperioso ir em busca da esperança e da alegria através de atitudes positivas e criativas, pois quanto maiores forem as lamurias, mais difícil será encontrar o caminho.

Mas quem não quiser abrir os olhos para enxergar a realidade tal qual ela se apresenta, recomendamos assistir e comparar dois filmes que caminham em paralelo na temática da carência humana. Vejam o brasileiro, "O Homem que Copiava", dirigido por Jorge Furtado, 2003. Trata-se da estória de André, um jovem de origem africana que vivia na periferia de Porto Alegre com a mãe, a qual era mais uma criatura apática viciada em televisão. Ele tinha pouca escolaridade, só conseguia ler o elementar, para ele Shakespeare era grego. Mas isso não é novidade porque a juventude do Brasil se situa em 37º lugar em leitura, entre jovens de 41 países analisados pelo instituto Alfabetização para o Mundo de Amanhã, que pesquisou a capacidade de estudantes de 15 anos de compreenderem o que lêem.

André queria arranjar dinheiro, se queixava de tudo, do patrão, do trabalho, tinha pouco amor pela vida. Ele se apresenta como o protótipo do vazio existencial emocionalmente desamparado. Ao invés de procurar entender a vida, buscar um aprimoramento, ele ficava cismando como poderia dar um golpe milionário. A valorização do ser humano deve ter o seu inicio na atuação do próprio individuo. André tinha um emprego do qual não gostava e nem se interessava, não aproveitando as oportunidades para aprender nada. Muitos jovens porem, nem emprego possuem, e suas vidas é um permanente vazio.

Comparemos o comportamento do jovem Jamal, do filme americano "Procurando Forrester", com Sean Connery, dirigido por Gus van Sant. Jamal morava com sua Mãe no Bronx, bairro negro de muita pobreza em Nova York, onde nem a policia entra à noite. Recebendo muito estímulo de sua mãe, ele foi à luta em busca de oportunidades utilizando-se de fatores positivos, sem ficar se queixando da vida, e encontrou um caminho de ascensão na escala social através da dedicação ao estudo da literatura.

Ele estudava na escola pública, e seu lazer predileto era ler.

Os amigos de André passavam drogas, mas os amigos de Jamal, diariamente jogavam basquetebol com ele. André sabia apertar os botões da máquina de tirar fotocópias. Jamal sabia usar o computador para fazer trabalhos e pesquisas. Assim Jamal, bom de pesquisa e bom de basquete, recebeu convite para ganhar uma bolsa de estudo em badalada escola particular.

Forrester, escritor deprimido, dava aulas sobre literatura para Jamal, mas também sobre a amargura da vida. E como a vida não dá certo para ele, o whisky é sugerido como solução.

Os filmes mostram os contrastes existentes entre um país pobre e um país rico com problemas de preconceito racial. André se apresenta como perdedor, assim como o Brasil também o tem sido na corrida para o desenvolvimento, sem conseguir consolidar um coerente projeto de nação tendente a propiciar o efetivo desenvolvimento humano. André por sua vez se deixou dominar por sentimentos destrutivos, sem ter sido capaz de eliminá-los, substituindo-os por atitudes construtivas. Ponto comum entre os filmes, os dois tinham namoradas de pele branca. Não sabemos dizer se no futuro isso poderá se constituir num problema para os filhos.

O que fica nitidamente visível, é que as ilusões econômicas estão se desvanecendo no mundo de uma forma geral, e a segurança se tornando instável e precária, seja pelo terrorismo ou pelo aumento da violência urbana. Jamal, porém foi concebido para ser vencedor num mundo de contrastes, oferecendo um modelo a ser seguido, mostrando que com educação, dedicação e perseverança, ainda é possível aos indivíduos realizarem os seus sonhos sem caírem na marginalidade e no crime.