DECIFRANDO O FILHO DO HOMEM
(22/10/2003)

"Pai do céu
me manda alguma ajuda
a luz numa mensagem, careço de saber
senhor, só preciso de um recado
há coisas nessa vida
que não posso entender"
(Milton Nascimento, Imagem e Semelhança)
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Um dos pontos que propiciam significativas incertezas são exatamente aqueles que mencionam a vinda do Filho do Homem. Muitos deduziram que Jesus se auto definia como o Filho do Homem. Segundo John Bowker, essa teria sido a “maneira de Jesus apregoar a sua natureza humana. No relato que depois se tornaria a Bíblia, há dois significados possíveis. Nos Salmos e em Jó, a expressão equivale a ser um mortal, alguém sujeito à morte. Já em Daniel 7, o “Filho do Homem” representa o fiel que, após perseguição, é resgatado por Deus da morte”. (Deus, uma breve história, Edit. Globo).

Essa porém, como muitas outras, é uma dedução humana feita muito posteriormente ao período em que Jesus as pronunciara. Mas é evidente que todo aquele que recebe um corpo material de carne e sangue fica sujeito às leis naturais da Criação quanto ao processo de geração, desenvolvimento, crescimento e perecimento da matéria constituinte do corpo.

A menção em Daniel 7 nos fala da vinda de um como o Filho do Homem, que será honrado por todos os povos e o seu reino será tal que não será destruído.

Os textos constantes da Bíblia, mesmo por vezes, sendo carentes em clareza de compreensão, oferecem uma visão diferente do que tem sido a interpretação dada. Assim vejamos, referindo-se ao período das grandes aflições Mateus teria escrito (24.30), então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. Mas ninguém sabe quando ele virá, (24.44), “por isso, estai vós apercebidos porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis”.

Ao se referir ao grande julgamento que pesa sobre os seres humanos, Mateus teria escrito no versículo 25.31: E quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos e anjos com ele, então se assentará no trono de sua gloria.

Em Apocalipse, (14.14) outra menção: E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do Homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda.

Todas as citações se referem ao futuro, e todas elas se referem à terceira pessoa do verbo, isto é, “ele”, logicamente ele não pode ser “eu”. No evangelho de João também há a menção: quando o Messias vier ele nos anunciará tudo (4.25). Não há um nexo evidente para que seja decifrado como se chegou a conclusão de que Jesus e o Filho do Homem sejam a mesma entidade. Fica bem nítido que se trata de diferentes pessoas.

Em 1928, Edmond Szekely publicou um manuscrito escrito originalmente em aramaico e conhecido como "The Gospel of the Essenes" (Evangelho dos Essênios). Szekely declarou ter encontrado esse trabalho antigo em um arquivo secreto do Vaticano. Apresento abaixo uma passagem desse evangelho: Um dia, Jesus sentou-se entre as pessoas que ouviam suas palavras maravilhadas. Não procure a Lei nas suas escrituras, pois a Lei é vida, enquanto a escritura é morte. A Lei é a palavra viva do Deus vivo dos profetas vivos para os homens vivos. Em tudo que há vida, está escrito a Lei. Vocêa encontra na grama, nas árvores, no rio, na montanha, nos pássaros do céu, nos peixes do mar, mas busque a principalmente em si mesmo. Deus não escreve a Lei em livros e sim em seu coração e em seu espírito. (Jesus, A Verdade e a Vida, Prof. Fida Hassnain, Edit. Madras).

Odon Vallet, no livro Uma outra história das Religiões, indaga: seria ele o “filho de Deus ou o “Filho do Homem”? Segundo Odon, como a mensagem de Jesus foi transmitida de forma oral, não se pode atribuir exatidão aos relatos.

“Isaías anunciava “Imanuel”, o Filho do Homem; o anjo, porém, “Jesus”, o Filho de Deus. Trata-se, nitidamente de duas anunciações distintas, exigindo duas realizações diferentes, as quais, por sua vez, têm de ser efetuadas por duas pessoas distintas”. (Mensagem do Graal, dissertação Cristo Falou...!).

Ao que tudo indica, os seres humanos não atentaram adequadamente para a significativa profecia ligada ao Filho do Homem, que foi dada por Jesus como estrela de esperança e também como severa advertência.

Os fortes abalos anímicos fizeram os discípulos se centrarem sentimentalmente na pessoa de Jesus, que o seu falar, referente a uma outra pessoa num futuro remoto, não foi considerado nesse sentido, e sim relacionado novamente com ele próprio.

“Assim perdurou até os dias de hoje o erro na concepção dos seres humanos, uma vez que os descrentes não se preocuparam com as palavras do Salvador, ao passo que os fiéis suprimiram à força, exatamente por causa de sua fé, qualquer análise séria e critica às tradições, pelo temor de tocar mesmo de leve nas palavras do Salvador. Não viam com isso, porém, que não se tratava das próprias palavras dele, verdadeiramente autênticas, mas tão só de reproduções que foram escritas muito tempo depois de sua passagem pela Terra. Em virtude disso, porém, ficaram sujeitas naturalmente às alterações inconscientes do raciocínio humano e da concepção humana e pessoal”. (Mensagem do Graal, de Abdruschin, dissertação O Filho do Homem).

Dos relatos através dos quais, posteriormente, originou-se a bíblia, surgiu a interpretação de que Jesus e o Filho do Homem seriam a mesma pessoa. Menções mais explicitas sobre o Filho do Homem, constam do livro Jesus o Amor de Deus, editado pela Ordem do Graal. No livro há a menção de que Ele, Jesus, era o enviado da misericórdia divina. “Depois de mim é que virá o Filho do Homem para desencadear o Juízo... mas, o tempo exato para isso, só o Pai o saberia, tratando-se portanto duas pessoas diferentes”.

“Haverá por esse tempo uma luta tremenda em busca de poder, como jamais se presenciou na Terra. O ódio cegará os povos e os desencaminhará. Todos desfrutarão passageiramente dos prazeres deste mundo até a saturação. Tudo então se encaminhará com espantosa velocidade para o fim. O Deus que os antigos judeus adoram sob o nome de Jeová estenderá então a Sua magnificência também sobre esta Terra. Então habitareis num paraíso terrestre”.