CÁLICE NO GETSÊMANI
(01/12/2003)

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta...
(Gilberto Gil e Chico Buarque)
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Por dois milênios não se tem compreendido o exato significado do rogo de Cristo, ao Pai, no Getsêmani. Pois, como esclarece Abdruschin, Cristo não viera a Terra para ser sacrificado, mas sim, para trazer aos seres humanos a explicação da Vontade Divina, que é sempre no fundo apenas a interpretação do funcionamento de sua Criação, na qual vivem os seres humanos que a ela pertencem. E conhecer a Criação significa tudo! Pois, exatamente o desconhecimento das automáticas leis da Criação é que levou os seres humanos a construírem um mundo tão áspero e cruel, no qual o desejo de dominar e controlar forjou uma construção em bases frágeis e instáveis, que já dão mostras de exaustão, não mais suportando o peso de tantas falhas.

Interpretem como interpretarem, os estudiosos prontamente acabam chegando a essa mesma conclusão. Para Zigmunt Bauman, professor emérito de sociologia na universidade de Leeds, Reino Unido, “os humanos supérfluos tem sido depositados nas regiões vazias do Planeta, mas hoje a modernidade se tornou, como previsto, condição universal, ou quase universal da humanidade, e a produção de resíduos humanos generalizou-se em praticamente todo o globo.” (FSP, Mais n.o 614).

Para o professor se torna necessária a busca de soluções globais para problemas produzidos em nível mundial.

Outro pesquisador, o sociólogo alemão Robert Kurz, examinando a tão decantada terceirização, concluiu que o que surgiu foi uma terceirização da miséria em massa nas aglomerações urbanas, que incham monstruosamente.”...Das antigas promessas de uma terceirização progressista, sob o nome de sociedade da cultura, da assistência e do lazer, não restou nada. Inclusive o turismo foi apanhado pela crise.” Para ele a classe média social acabou derretendo.

Mas o sociólogo acrescenta: “Se a humanidade não quiser findar, ela terá de superar o reducionismo orgânico e mecânico e se relacionar de maneira humana consigo própria. Só então ela poderá se relacionar também de maneira humana com a natureza biológica e física”. (FSP, Mais n.o 613).

Nestes dois milênios depois de Cristo, tivemos praticamente quinze séculos de imobilismo nos quais as comunidades humanas não atingiram o apogeu de seu desenvolvimento. A partir do século 15 houve uma ruptura, e começaram a surgir mudanças. As comunidades se transformaram em Nações e estas em Estados Soberanos que passaram a interferir profundamente nas atividades regulamentando a vida. Três poderes se confrontam, o religioso, o do Estado burocrata, e o econômico que, crescentemente, amplia a sua influencia. Por trás de tudo isso, sempre estiveram os próprios seres humanos que, ao invés de buscarem intensamente o reconhecimento e atuação conforme as leis da Criação, sempre estiveram disputando o controle das riquezas, a influencia e o poder. Assim as incompreensões permaneceram e a Missão de Cristo não foi reconhecida pelos seres humanos com exatidão.

Conforme esclarece a Mensagem do Graal, “Cristo não teria rogado no Getsêmani que o cálice do sofrimento lhe fosse desviado, se a morte na cruz devesse ser um holocausto necessário. Nunca! Cristo não teria feito isso. Durante dois milênios não se tem refletido nisso.”

O ATUAL CENÁRIO

A violência urbana se alastra pelas grandes cidades de forma assustadora, intranquilizando os habitantes. Os poderes constituídos se vêem diante da insolvência, sem condição de saldar os débitos mais essenciais. A AIDS retoma o seu avanço, tendo sido registrados mais de cinco milhões de casos novos durante o ano de 2003. O terrorismo também se globalizou, criando um clima planetário de incertezas e insegurança de difícil combate. E o meio ambiente, o habitat humano, se encontra seriamente danificado e sobrecarregado de agentes poluidores.

As novas gerações se encontram particularmente desesperançadas. As possibilidades de emprego se concentram principalmente nos ramos de atuação que empregam grande número de pessoas com qualificação e remuneração baixa, com gestão autocrática totalitária e que se utilizam largamente das idéias de Skiner que não deram grande apreço à “noção de uma Humanidade que age por vontade própria. Assim, “embora apresente algumas vantagens no ambiente organizacional e tenha seduzido as organizações totalitárias, a ciência skinneriana sinaliza para a criação de uma sociedade composta de mortos-vivos, condicionada, sem lustro, superficialmente bem-educada, depressiva.” (Dimensões Funcionais, Sandra Regina da Rocha-Pinto, Coordenadora, Edit. FGV).

A raiva e a frustração com a economia estão em alta em todo o Planeta. Esta é uma conclusão que faz parte das “Profecias do Pai Rico”, (Edit. Campus). Para os autores, Robert Kiyosaki & Sharon Lechter, "tudo indica que o grande crash do mercado de ações se arma no horizonte, mas esse não é o problema. Todos os mercados financeiros sobem e descem. Os ciclos econômicos são parte da vida. Dizer que o mercado de ações cairá é como prever a chegada do inverno. A questão é quais serão as conseqüências do próximo crash e a intensidade da queda....A má noticia é que o próximo grande crash do mercado de ações revelará um nível de pobreza nos Estados Unidos que abalará o mundo.”

Então, como os sociólogos o descrevem, o quadro hoje é de verdadeiro caos. O falhar está em toda a parte. “Para onde quer que se olhe, há um quadro da mais desoladora confusão e de muita miséria. Inúmeras cisões e o sempre crescente ódio mutuo.”

Como entender essa situação?

“Nem empregador nem empregados têm culpa disso, nem o capital nem a sua falta, nem a igreja nem o Estado, nem as diferentes nações, mas tão-somente a sintonização errada das pessoas, individualmente, fez com que tudo chegasse a tanto!”
- Mensagem do Graal, de Abdruschin, dissertação: Pai Perdoai-lhes, Pois Não Sabem o Que Fazem!

Uma nova sintonização se torna indispensável. Sonhar com um mundo melhor em constante melhora. Desejar fazer do mundo um lugar melhor, com mais alegria e beleza, apropriado para uma existência humana condigna. Quando o ser humano reconhecer que é uma espécie diferenciada, que além do instinto e do cérebro, também é dotado de alma e intuição para agir com nobreza, colocando o raciocínio a serviço de alvos mais elevados para construir uma civilização verdadeiramente humana, teremos alcançado um estágio mais avançado, de real evolução e enobrecimento da vida. Caso contrário o ser humano se embrutecerá de forma irreversível. Viveremos num inferno autodestrutivo!