OLGA BENARIO
(29/08/2004)

imagem

Ela era forte, bonita e corajosa. Desde pequena teve a oportunidade de ver de perto a situação crítica em que viviam muitas pessoas, sem emprego, sem recursos, passando necessidades. Nela o descontentamento e a insatisfação se tornaram dominantes, surgindo a idéia de que a situação somente poderia ser revertida através de um radicalismo político que estabelecesse igualdade e justiça social.

Os aspectos de sua formação estão suficientemente documentados e dispensam repetição. O fato é que ao fugir da Alemanha para a Rússia, logo se destacou como camarada útil para auxiliar os planos expansionistas dos comunistas que queriam adentrar na América do Sul através do Brasil, o que de forma alguma convinha para a Inglaterra e Estados Unidos, que já naquela época exerciam forte influência no continente sul americano.

Assim o trabalho sujo ficou para Filinto e Getulio, e logicamente para os insensíveis nazistas, enquanto os espiões ingleses e americanos davam o serviço de como e onde neutralizar o atrevimento de Prestes e sua bem amada que pretendiam entregar o Brasil aos Russos.

Com certeza, em seu idealismo, nem Prestes nem Olga se aperceberam da complexidade dos lances do poder internacional. Fugindo disso tudo o filme de Jayme Monjardim figura entre os melhores já feitos no Brasil, mas seguindo a regra geral da atual safra de filmes, com muita insatisfação, sofrimentos e mortes trágicas constituindo o ingrediente principal.

Demétrio Magnoli, da USP, escreveu para a Folha de São Paulo, (22/08/2004), que o filme de Michel Moore, sobre o 11 de setembro, manipula os fatos dando-lhes uma versão em defesa de interesses políticos pessoais. Mas que filme não faz isso? Sempre há alguma manipulação, explícita ou não, influenciando a mente humana sem que haja uma nítida consciência disso.

Contudo, há duas questões intrigantes: Como estaríamos hoje no Brasil se a intentona de novembro de 1935 tivesse tomado o poder? Outra questão, o que diriam hoje Prestes e Olga, ao verificarem a atual situação do Brasil, com crescimento medíocre há mais de vinte anos, com uma população tão despreparada para a vida e com uma enorme dívida pública mobiliária do Tesouro Nacional beirando aos 50 por cento do PIB, remunerada em juros reais dos mais elevados do mundo?

A história de Olga, tal como tem sido contada, induz as novas gerações a uma incompreensão da realidade, pois é dadaênfase ao grande sofrimento sem que fique bem claro qual era o seu ideal e contra o que ela lutava.

Olga, no Brasil, assim como Eva Perón, na Argentina, queriam solucionar as dificuldades materiais das classes pobres sem que houvesse um foco espiritual sobre o drama da miséria humana, que se naquela época era áspera, atualmente é muito, muito mais.

Evita queria tirar os pobres da miséria material sem atentar para a miséria espiritual. Segundo o livro “Fios do Destino”, de Roselis Von Sass, “Eva organizou asilos luxuosos para os pobres, além de fundar várias instituições filantrópicas. Mostrava-se acessível pessoalmente a qualquer um que a procurasse. Ajudava quem lhe solicitasse. Sofria diante da circunstância de existirem ricos e pobres neste mundo. Só vislumbrava, entretanto o lado material dos necessitados, pois espiritualmente, no sentido genuíno da palavra, havia caído em certa letargia”.

Olga queria tomar o poder pelas armas para comunizar a riqueza distribuindo-a para os pobres. Ela queria que o povo se rebelasse contra um governo bem armado para tomar conta do poder, como se os poderosos que se consideram donos do mundo, fossem assistir passivamente, sem permitir o derramamento de muito sangue dos imprudentes.

Olga acabou sendo entregue aos carrascos nazistas como advertência e para calar aqueles que, confusamente, sonhavam com a entrega do Brasil ao “paraíso do comunismo”.

Complementando o esclarecimento sobre Eva, a autora Roselis Von Sass escreveu: “Na Terra só pode ajudar, efetivamente, quem estiver espiritualmente desperto. Caso contrário, tudo ficará obra incompleta. A grande dama teve por objetivo apenas o socorro material, sem reconhecer que ao espírito cumpre sobrepor-se ao corpo, para o indivíduo subsistir. Em sentido amplo, essa bem-intencionada senhora incitava tão-só a indolência espiritual na grande massa que liderava”.

O significado disso nos é dado por Abdruschin. Segundo o Autor o espírito do ser humano exerce a direção segundo a sua vontade. “Assim, a vontade do espírito humano é responsável por muita coisa que se desenvolve na Criação posterior, pois ele exerce como espírito a pressão que determina a espécie da forma. Nada pode ele querer sem simultaneamente formar! Seja lá o que for! Por isso nunca pode se subtrair também à responsabilidade por tudo quanto tem formado. O seu querer, o seu pensar e o seu agir! Tudo toma forma na engrenagem deste mundo. Que o ser humano não o soubesse ou mesmo não quisesse saber, fica por sua conta, é sua culpa. Sua ignorância não altera o efeito.

“Assim, mediante seu querer errôneo, sua obstinação e sua presunção, reteve não somente qualquer desabrochar verdadeiro, como estragou a Criação posterior e, em lugar de agir beneficamente, só o fez de modo nocivo!”(Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal, de Abdruschin, Vol. 1, pg. 211)

Lamentavelmente, nenhuma das duas, Olga ou Evita, atentaram para a condição espiritual da humanidade nem para o funcionamento das leis da Criação, pois com suas capacitações de lideres, poderiam ter prestado uma grande contribuição para a real evolução humana.