CRIMES INJUSTIFICÁVEIS
(01/04/2007)

A sociedade se encontra traumatizada diante de tantos crimes hediondos que estão ocorrendo em várias partes do mundo, e principalmente no Brasil, com requintes de desalmada crueldade. A violência se faz cada vez mais presente no cotidiano das grandes cidades, como comprovam os recentes episódios de assaltos a bancos, em bairros nobres de São Paulo, com trocas de tiros que acabaram ferindo vários inocentes, entre os quais uma menina de 13 anos que estava em um ponto de ônibus e cuja conseqüência poderá ser uma paralisia permanente dos membros inferiores. Outro exemplo de puro desrespeito à vida foi o injustificado assassinato de uma criança, que ficou presa ao carro pelo cinto de segurança e arrastada por quilômetros pelos criminosos. Casos como esse, que escandalizam a sociedade, se repetem todos os dias, em todo o país.

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Os especialistas falam que a desestruturação familiar seria o fator determinante na prática de crimes que fogem completamente aos princípios da ética e da convivência humana. No entanto a questão é muito mais complexa, pois quando se trata do comportamento de seres humanos, existem muitos aspectos pouco considerados que remontam ao próprio ato de geração. Os animais obedecem aos imperativos do instinto que determinam um comportamento padronizado de conformidade com a sua espécie. Aos humanos caberia um comportamento mais consciente e com responsabilidade individual. Mas não é isso que verificamos na prática. A começar pelos filhos que, em muitas vezes, são gerados sem a mínima preocupação, resultando daías mais desastrosas conseqüências.

Nas principais cidades brasileiras vemos isso em cada esquina e nos semáforos em que muitos meninos aprendem a viver pedindo esmolas. É uma prova inconteste de que os pais abandonaram seus rebentos, de que a sociedade se limitou a fechar o vidro do carro e a ignorar o que vêà sua volta, e de que as autoridades competentes cruzaram os braços, argumentando que esse problema não lhes cabe solucionar.

Em conseqüência, as crianças permanecem jogadas pelas ruas das cidades, sem acesso à educação, sem preparo para a vida, sem amor, sem sonhos. Resta-lhes apenas a brutal luta pela sobrevivência e, nesse processo, se desumanizam cada vez mais. Em alguns casos, as crianças com essa triste sina são recolhidas pelos órgãos encarregados, que as conduzem às instituições em que, ao invés de lhes dar um atendimento adequado, se restringem a aplicar técnicas de repressão, que por vezes são até mais violentas e nesse ambiente, geralmente, absorvem um aprendizado de sobrevivência baseado na incompreensão, intolerância e preconceito, típicos das “selvas de pedra” em que se transformaram as grandes cidades.

Essa é a dura realidade de um mundo em que o lado econômico sobrepujou tudo, relegando para segundo plano os valores nobres, como a solidariedade, a fraternidade, o aconchego e o amor. Sem lar, sem educação, sem disciplina, uma grande quantidade de menores acaba se rendendo à marginalidade. Ao serem gerados de forma irresponsável, já foram estigmatizados por uma paternidade inconseqüente, e jogados, ainda na tenra infância, num ambiente hostil e violento. No seu dia a dia são, continuamente, expostos a imagens de crueldade e imoralidades e, dessa forma, a vida passa a ser encarada como uma aventura em que não há nada a perder, e a morte, invariavelmente, chega por meio da doença ou da violência.

Num mundo assim áspero, o coração não fala mais. Só a mente domina como máquina fria, buscando ardis e justificativas para atos sem explicação. Nessas condições não há como despertar os sentimentos mais nobres. Discutir a idade do criminoso é supérfluo. Não é essa a questão fundamental. O ser humano permanece ignorante quanto ao significado da vida. Perdeu a sua essência e, tornando-se vazio de alma, comete crimes abomináveis que envergonham a espécie humana. Mas o mais terrível, no entanto, é ter que reconhecer que estamos, simplesmente, colhendo os frutos de milênios de descaso sobre o real significado da existência.