RETORNO AO HUMANISMO
(17/09/2009)

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Os graves e brutais acontecimentos em nossa volta provocam uma insensibilização de muitas pessoas. Se pararmos um pouco quando assistimos aos noticiários da televisão e perguntarmos: para onde o mundo está indo, por certo ficaremos desanimados, pois se tantas coisas ruins estão acontecendo e se multiplicando, o que esperar do futuro? Diferente não é com telenovelas e filmes. As pessoas querem se distrair, passar momentos agradáveis, mas o que vêem é a pura desagregação da sociedade humana, em ritmo cada vez mais acelerado.

Quando surgiu o rádio, sua penetração foi incrivelmente incisiva porque ele atingia simultaneamente um grande número de ouvintes e havia ótimos radialistas que buscavam informar e distrair com seriedade. O rádio adquiriu grande credibilidade, a ponto de as pessoas acreditarem em tudo o que ouviam, como ocorreu no episódio em que Orson Welles, em 1938, trabalhando para a rádio CBS, provocou pânico relatando uma suposta invasão da Terra pelos marcianos.No entanto, o rádio criou uma facilidade: o ouvinte não precisava saber ler, bastava ouvir e criar o imaginário, como se estivesse lendo. Ao mesmo tempo, dava início à cultura de massa, que foi se consolidando com o advento da televisão, inicialmente colocada à disposição como meio educativo e de lazer, mas que assumiu uma posição dominante na modelagem do comportamento das massas.

Televisão, videogames, internet. Tudo pronto, falas e imagens prontinhas para serem absorvidas pela mente que não precisa mais criar quadros e dispensa a imaginação individualizada. Todos passaram a ver as mesmas coisas ao mesmo tempo. Na leitura, vamos formando os cenários na imaginação. Ouvindo o rádio, também, mas na televisão vem tudo pronto. As máquinas são excelentes inventos, mas não podemos ficar aprisionados e nos tornar seus objetos, perdendo a visão correta da vida.

O conhecimento é a chave para o crescimento humano. No entanto, no Brasil, 59% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental não estão suficientemente habilitados para a leitura compatível com a sua escolaridade. As novas gerações não estão sendo direcionadas para adquirir discernimento do que lhes é dado a ver, e não sabem distinguir o que é positivo e construtivo do que é nocivo e pernicioso, agindo por imitação dos modelos menos saudáveis. Assim, jovens estão perdendo a capacidade de ler e interpretar textos, vivem de forma sedentária, ingerem alimentos e bebidas inadequados, entregam-se ao consumismo e à iniciação sexual precoce.

Muitos dos jovens de hoje cresceram em lares desfeitos pela separação dos pais e tiveram a tv como babá, situação cujos efeitos ainda não foram amplamente pesquisados. Além disso, ingressaram em escolas que tiveram o sistema de ensino adaptado para uma forma de viver adequada ao marketing cujo objetivo é incrementar as vendas. Desta forma, grande parte das novas gerações se constitui de pessoas individualistas, com feições duras, pois foram levadas a isso desde cedo. Como consequência, estão se desvalorizando como seres humanos, assumindo uma forma mecânica de agir e raciocinar e perdendo a sensibilidade.

Não por acaso, tudo ficou descartável, inclusive o ser humano, que agora ensaia um retorno ao humanismo, isto é, à valorização da vida e à colocação dos valores humanos acima dos demais. No entanto, o fundamental é a busca do aprimoramento da espécie humana em sua forma mais ampla. Énecessário compreender o funcionamento do corpo, da mente e a essência espiritual que nos distingue entre todas as criaturas diante da indispensável liberdade de decisão e da inerente responsabilidade pelos nossos atos. E não podemos nos esquecer que fazemos parte da natureza, cujas leis ainda não dominamos totalmente. Então, para não perdermos a sensibilidade, a natureza deve ser tomada como base da educação e esta como fonte da ciência e tecnologia.