TSUNAMI FINANCEIRO
(22/04/2012)

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A descoberta do Brasil com seus 8,5 milhões de km2, pelos portugueses, no século 15, veio ao encontro dos interesses comerciais dos europeus: ouro, marfim, escravos, especiarias. Aos povos da Europa interessava o comércio altamente lucrativo, nada mais. Mais tarde, para obter melhores resultados, tornou-se necessário estabelecer um povoamento capaz de produzir bens de interesse para o comércio europeu.

A partir do século 17, as lutas político-religiosas travadas na Europa levaram as populações a buscar abrigo na América do Norte, onde foram procurar um local para construir o seu lar, gerando um tipo de ocupação diferente daquelas efetivadas para atender aos interesses comerciais mediante a exploração dos recursos naturais das regiões descobertas.

Essa condição de colônia marcou profundamente o desenvolvimento do Brasil e de sua população em todos os sentidos, incluindo educação, saúde e padrão de vida, sendo notório que até aos dias atuais, ainda não conseguimos escapar totalmente desse passado colonial, voltado para atender interesses externos e a consequente falta de objetivos próprios da população. Ficou a cultura de tirar vantagens, em prejuízo do desejo de construir um local agradável para viver.

O objetivo de qualquer população deveria ser focado prioritariamente na conquista do desenvolvimento humano. O ser humano não surgiu pronto, e sua tarefa principal consiste no esforço para o autoaprimoramento, fato nem sempre posto em prática, seja pela falta de lideranças conscientes ou pela falta de maturidade da população.

A fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808 deu margens para que a população se conscientizasse um pouco de si e de seu país, buscando a independência. Mesmo assim, o desenvolvimento tem se processado de forma muito lenta, com mais recuos do que avanços, que fazem do Brasil um país pujante pela sua riqueza natural, mas muito atrasado pela falta de desenvolvimento de sua população.

Conforme relato do jornalista e sociólogo Jorge Caldeira, no período imperial o Visconde de Mauá, diante de uma sociedade provinciana de senhores e escravos, favores e conchavos, destacou-se com seu pioneirismo criando um grande estaleiro e uma fundição em Niterói, a primeira estrada de ferro e o primeiro banco a operar em grande escala no Brasil. Mas quando expandiu seus negócios visando o desenvolvimento da nação, teve de se defrontar com poderosos interesses dos financistas internacionais e de políticos influentes, sendo forçado a liquidar seus negócios por falta de apoio do governo.

Atualmente, o mundo se defronta com a flexibilização financeira, o tsunami promovido pelos emissores de moedas que levam à valorização da taxa cambial dos países emergentes reduzindo a competitividade dos setores de bens e serviços. Há um volume descomunal de dólares no mercado, uma onda inesperada. Se os bancos centrais querem assegurar liquidez, que emitam quanto dinheiro acharem necessário, porém não se poderia permitir essamobilidade especulativa pelo mundo. Diariamente, 4 trilhões de dólares se movimentam de uma moeda para outra, enquanto o movimento de mercadorias não passa de 20 trilhões de dólares por ano.

No Brasil, apesar do mercado promissor, ainda temos sido tratados como colônia. Nossa principal indústria, a automobilística, tem disponibilizado automóveis inferiores no seu acabamento, no desempenho e na segurança. Mesmo assim, comprava-se para gerar emprego, mas os importados através do México estão chegando com melhores condições, inclusive no preço, graças ao dólar barato.

E não é isso que os países desenvolvidos querem? Quando vamos aos “outlets” em Miami ou Nova York, os produtos feitos na China, além de ficarem mais em conta, também apresentam melhor qualidade do que os produzidos no Brasil ou por aqui importados. Então, toda essa emissão de dinheiro será apenas para cobrir os desmandos financeiros? Ou não será para atrair os consumidores dos países emergentes e também fazer frente ao caixa alto da China que a habilita a fazer aquisições onde ela quiser?

Enfim, temos de reconhecer que, desde o tempo do Visconde de Mauá, falta-nos visão de futuro. Produzimos pouco e vendemos mais caro. Sempre estivemos atrasados, sendo surpreendidos pela ausência de cuidados com o futuro. Falta-nos planejamento prevendo o crescimento da população e da economia. Temos de fazer um esforço para conscientização e bom preparo da população para sairmos do subdesenvolvimento e alcançarmos o desenvolvimento humano de forma continuada.