"QUERO A ALEGRIA DE UM BARCO VOLTANDO"
(23/04/2012)

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Por mais que as emissoras de TV priorizem as desgraças e tragédias, é da essência do ser humano sentir-se bem com desfechos favoráveis. Não foi isso que aconteceu com o comandante Billy Tine, interpretado por George Clooney no filme Mar em Fúria (Perfect Storm), baseado em uma história real. Billy e seu grupo de pescadores não quiseram ver que o mar não “estava para peixe” e, ao invés de propiciarem a alegria de um barco voltando (o pesqueiro Andrea Gail), preferiram desafiar a tormenta com o objetivo de perseguir uma pescaria que lhes desse a oportunidade de maiores ganhos. Assim caminha a humanidade, “com os olhos maiores que a barriga”, deixando que a cobiça e o imediatismo vençam a prudência e o bom senso.

No Brasil, enfrentamos a ameaça do enfraquecimento do setor industrial fragilizado pela valorização cambial que, sem dúvida, é uma poderosa arma usada pelos competidores externos mais fortes. Queremos a recuperação da indústria e a preservação dos empregos, mas o nosso problema industrial vem de longe e não depende só do câmbio. Vários fatores interferem, alguns deles descuidados há décadas. Em alguns estados estão aportando navios carregados de mercadorias produzidas fora do País, beneficiando-se de incentivos dados para o ICMS em prejuízo dos empregos na indústria.

Temos de estar atentos aos riscos de se acostumar com dólar de curto prazo, barato e abundante. Basta lembrar as dificuldades enfrentadas pelos países do leste asiático na crise de 1997, com a fuga dos dólares após um longo período de abundância, gerando miséria e desemprego.

Estamos atrasados por vários fatores, mas o básico tem sido a falta de uma vontade perseverante na construção de um país equilibrado que ofereça oportunidades lucrativas para o trabalho sério e bem feito. Por enquanto, tem prevalecido a ânsia por ganhos fáceis e o desejo de levar vantagens sem precisar fazer esforço. Parece que fomos sabotados e nossos governantes deixaram de cumprir o que era esperado deles ao não promoverem o desenvolvimento das capacitações humanas da população, elevando a sua qualidade. Estamos enfrentando custos crescentes, lento progresso na educação e despreparo das novas gerações.

Ademais, o próprio governo se perdeu em disputas sem coordenar um esforço para o continuado fortalecimento das bases de produção que permaneceram estagnadas desde a sua origem, sem que houvesse maior empenho para reduzir custos e oferecer melhor qualidade. Temos problemas na infraestrutura. Privilegiamos o transporte rodoviário sucateando as poucas ferrovias existentes ao invés de ampliá-las. Adistribuição e custo da energia chegam a ser vergonhosas. A burocracia é paralisante. A regulamentação tributária e as alíquotas são desanimadoras.

O vigor da classe empreendedora está se exaurindo, e nunca tivemos uma condição tão precária como agora no preparo das novas gerações para a vida e o trabalho. Urge que se faça um esforço integrado de revitalização industrial, com sustentabilidade, qualidade, eficiência e aumento da produtividade. O governo não pode mais adiar a simplificação burocrática e a adequação tributária aos padrões internacionais. No entanto, isso deve ser feito com contrapartidas que se agreguem à melhora do resultado.

As empresas devem assumir a sua parte na formação e bom preparo da mão de obra, incluindo também as crianças, os filhos de seus colaboradores, contribuindo com a implantação de creches que ofereçam às crianças boa educação, hábitos alimentares sadios, contato com a natureza, permitindo que sejam crianças, fortalecendo nelas o desejo de serem úteis e a importância do equilíbrio entre o dar e o receber.

Um outro aspecto importante é a participação dos colaboradores nos resultados através de programas de aumento de produtividade, que fortalecem a motivação e melhoram os resultados, o sentimento de pertencimento e o desejo de busca continuada de melhora que deve se refletir no respeito ao consumidor através da qualidade dos produtos oferecidos.