HIPOTECAMOS O FUTURO
(16/08/2013)

imagem

Não há espaço para uma decisão conjunta entre as nações no sentido de disciplinar o trabalho, a produção e o consumo de forma equitativa, extraindo os recursos da natureza de forma sustentável.

Em recente participação no programa Milênio, exibido pelo canal Globo News, da TV paga, o sociólogo Zigmunt Bauman declarou que estamos vivendo uma forte crise mundial do sistema econômico. Sob a influência do crédito fácil, todos passaram a gastar mais do que as posses permitiam. O futuro foi hipotecado num mar de dívidas pessoais e governamentais, contraídas numa fase de bonança e supervalorizações, que agora está em declínio, e os rendimentos mostram-se insuficientes para dar conta das dívidas.

Há a insatisfação crescente daqueles cujos baixos rendimentos não lhes permite consumir tudo quanto desejam, mesmo vendendo todo o tempo de que dispõem. Apesar dos acordos e da criação de oligopólios, há uma luta competitiva entre as empresas para assegurar a posição conquistada. Trava-se uma batalha econômica num planeta com avantajada população, recursos limitados, avançado processo de devastação das florestas e poluição geral dos rios, solos e mares.

Acrescente-se a esse cenário a questão da redução dos empregos nos Estados Unidos e Europa. O sistema adentra em crise, sem que se visualize uma diretriz saneadora. As soluções adotadas no passado não funcionam mais, e ainda não existem novas alternativas. Não há uma liderança capaz de conduzir o processo, pois os governantes que representam os Estados se tornaram impotentes diante do novo poder econômico multinacional que é determinante para os rumos da produção e do consumo.

Nesse cenário confuso, prevalecem os interesses dos grupos dominantes com seus ativos. Não há espaço para uma decisão conjunta entre as nações no sentido de disciplinar o trabalho, a produção e o consumo de forma equitativa, extraindo os recursos da natureza de forma sustentável.

Como ave migratória, o dinheiro especulativo voa de um país para outro, de moeda em moeda, buscando sempre fazer mais dinheiro. Não há regulamentos fortes para disciplinar a sua entrada ou saída.

Algumas pessoas consomem abusivamente, enquanto muitas o fazem abaixo do essencial. O avanço da produtividade e do PIB deveria promover a evolução humana e a cultura, mas em vez disso, a acirrada competitividade acarretou o aumento do subemprego e da precarização do trabalho. A cultura massiva tem se tornado rasteira, sem incentivar voos mais arrojados na busca do aprimoramento humano.

A sociedade exaltava o sucesso econômico dos indivíduos, para afastá-los dos conflitos com o eu interior, por natureza inquieto, na busca de respostas sobre o sentido da vida. A crise está colocando os conflitos em destaque, aumentando a insatisfação. A sociedade consumista tende para a decadência moral. Os estudiosos falam em regeneração do capitalismo sem alma, mas o problema está na degeneração humana. Deveríamos almejar um viver compatível com a espécie humana, onde todos trabalham e produzem sem estarem acossados pelos fantasmas da insegurança e da falta de recursos.

Incorre-se em erro quando se aponta o capitalismo como a fonte dos desequilíbrios e misérias, pois na verdade é o ser humano que se afastou da finalidade espiritual da vida, envolvendo-se com o desejo de ganho crescente e que se utiliza da exploração da natureza e do seu semelhante com a finalidade precípua de acumular riqueza e poder, antepondo-se a uma distribuição mais equitativa da riqueza gerada pelo capital e pelo trabalho, mantendo a iniciativa e a individualidade, sem adentrar no comunismo paralisante.

Em vez de fortalecer o seu lado espiritual, o ser humano incorporou a estrutura monetária. Divorciado de sua essência, com a finalidade de acumular riqueza, ele passou a construir tudo, tendo o dinheiro como base da vida, o meio para medir todas coisas. Poderíamos dizer que Karl Marx (1818 – 1883), intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, construiu uma coerente teoria sobre o capital, mas ao não considerar o espiritual em suas análises, introduziu uma dose de sua própria fantasia, sem perceber que o grande falhar se encontra na sintonização errada do homem moderno progressista que, regredindo, acabou se restringindo ao poder criado pelo dinheiro, transformando a paz em escombros, provocando cisões e ódios mútuos, pondo de lado a sua responsabilidade maior. Como escreveu Abdruschin (1875 – 1941), autor do livro Na Luz da Verdade, a culpa disso tudo está na sintonização errada das pessoas individualmente.