FUTURO RESPONSÁVEL
(15/01/2014)

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Organizar a economia do país de forma equilibrada não é tarefa fácil devido à limitação de recursos, despreparo da mão de obra, superpopulação, alterações climáticas. Mas no Brasil isso fica muito mais complicado com as manipulações especulativas praticadas sobre o câmbio, cujo volume, conforme José Paulo Kupfer, colunista de Economia do jornal O Estado de S. Paulo, supera em mais de quatro vezes as operações reais.

Uma boa lição a aprender com a China seria o manejo do dinheiro e o sistema cambial. Lá não se permite especulação com a moeda. As reservas são criteriosamente utilizadas. Não há dependência de capital externo. As populações pobres do campo ficarão entusiasmadas com alguma melhora ao serem incorporadas à produção industrial, mas no futuro, apesar do PIB elevado, é provável um aumento da infelicidade geral num sistema de vida rígido de rotinas massacrantes.

Enquanto isso, no resto do mundo uma minoria vai concentrando a riqueza cada vez mais. No entanto, a grande massa se vê constrangida a possibilidades de ganhos que vão se estreitando, provocando o descenso da chamada classe média, o que reduz suas oportunidades de ganho, sendo essa a grande desigualdade. Nos Estados Unidos, isso era contornado com crédito barato, mas com o acúmulo de dívidas e redução nos ganhos o sistema implodiu.

Há uma distorção mundial na utilização da mão de obra, nas taxas de juros e de câmbio. Com nova cara o velho mercantilismo impera nas relações e na maximização dos ganhos, sem que se note preocupação com o aumento da miséria. É um comportamento egoístico que se reveste de uma implacável luta pela sobrevivência e ampliação do poder. Vale tudo: enganar, subfaturar, sonegar, corromper. Falta responsabilidade com o amanhã desde longa data. O que o futuro nos reserva com todo esse descuido com a qualidade humana e de vida? Um problema essencial para as nações ocidentais será promover o restabelecimento do equilíbrio da produção, consumo e contas pessoais e do Estado, frente à maior participação da Ásia na produção industrial.

Depois de duas décadas perdidas administrando a dívida externa que influenciou a elevação da inflação, o Brasil adentrou no Plano Real que congelou o dólar, manteve elevada a taxa de juros, reduziu a inflação, exportou empregos, fragilizou a indústria, que até então fora o polo de evolução técnica e da mão de obra. Além disso, os governantes não conseguiram administrar as finanças com equilíbrio, não fortaleceram a infraestrutura e permitiram o desperdício do dinheiro. Houve contenção da inflação, mas o preço foi alto em termos do futuro.

Equilibrar as contas é uma tarefa difícil com tantas variáveis externas e internas, mas o fundamental não tem sido aplicado: planejar os gastos com eficiência, evitar os déficits e desperdícios, acabar com esse desmando, o que para nós resulta em as obras pública tenham custos até três vezes superiores.

Produzir alimentos deveria ser um trunfo no mundo superpovoado. No entanto faltou consistência e melhor planejamento na produção e seu escoamento. O sucesso na exportação de primários elevou a reserva, mas amoleceu a fibra. Descuidou-se do câmbio e da indústria. O declínio na indústria de autopeças é bom exemplo entre tantos outros. Deve-se considerar também que a agropecuária e a industrialização não podem ser feitas com a destruição da natureza, sob pena de inviabilizar as condições de vida.

Agravamos o descuido no que se refere ao bom preparo da população. Permitimos muita precariedade nas moradias e na mobilidade urbana, na falta de saneamento, no declínio na qualidade das famílias e na educação. Descuidamos da formação técnica dos jovens para que pudessem vir a ser incluídos na moderna sociedade do trabalho. Estamos enfrentando a civilização do medo e insegurança. A violência se esparrama pelas cidades com assaltos e atos de vandalismo.  As pessoas se iludem com o engodo de alguma melhora no acesso a bens duráveis, mas falta uma perspectiva de melhor futuro duradouro.

A ideia de melhor distribuição dos ganhos das empresas aos trabalhadores deveria ser pensada, com o governo dando sua contribuição, reduzindo um pouco a carga tributária. Seria excelente para dinamizar o consumo, sem incentivar o aumento do endividamento da população, o que aumentaria o PIB do Brasil, contribuindo também para melhorar a participação nos resultados.

Com o encerramento de 2013 poderíamos ficar desfiando um montão de problemas. Os mais críticos parecem ser o crescimento do individualismo, que reduziu a consideração, e o avanço da religião do dinheiro, que insensibilizou a vida, tornando-a mecânica e áspera. As coisas ficaram mais difíceis; os relacionamentos humanos se mostram com pouca consistência. Além da destrutiva inveja, há como uma dormência no ar, faltam vibração e autenticidade no falar e no agir. É o domínio do raciocínio e a ausência do Amor e generosidade.

O Ano Novo já está aí para pensarmos em metas a serem alcançadas com garra e otimismo. Em vez de reclamar, criticar e falar mal, temos de definir as metas que queremos alcançar e transformar o querer em ação, com trabalho sereno, constante, cumprindo tarefa por tarefa com alegria. Assim conservaremos a paz e a saúde, física e psíquica. Temos de colocar uma base sólida para o pensar. Já se disse que somos o resultado do que pensamos. Darwin escreveu que “o estágio mais elevado possível na cultura moral é quando reconhecemos que devemos controlar os nossos pensamentos”.

Temos de inspirar os jovens para pensarem de forma serena, e que tenham o propósito de alcançar melhora contínua das condições de vida e do aprimoramento da espécie humana, tendo como base para a educação o bom preparo para a vida, com mente lúcida e flexível, desejosa de alcançar a excelência, como meio que assegura o progresso. Para alcançarmos a paz duradoura, precisamos criar no planeta condições de vida que nos permitam ser verdadeiramente humanos.

Necessitamos de líderes empenhados com o progresso do país e sua população. Faltam rumos e um projeto de nação que promova a evolução integral. Ficamos fornecendo matéria-prima e alimentos, barateando os importados, enquanto a indústria submerge. Permanecemos sem autossuficiência financeira. Se continuarmos desse jeito poderemos cair de novo na armadilha de necessitar de empréstimos externos para cobrir o déficit. E agora? Qual seria a receita para evitar uma decadência ainda maior? Que o digam nossos ilustres candidatos.

Para concluir, retomo a questão do pensamento, citando Abdruschin, autor da Mensagem do Graal, que recomenda que nos esvaziemos de pensamentos, deixando irromper livremente o impulso para as coisas nobres e boas, o que nos dá a base para o pensar sobre o que procede do espírito, ou como outros preferem, da alma, do coração, ou do eu interior.

Caros Companheiros, aproveitemos este momento significativo aceitando o convite para a renovação. Feliz Ano Novo!