DESPERTAR O EU INTERIOR
(08/03/2014)

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As novas gerações estão enfrentando vários impactos dentre os quais a desaceleração econômica que vem reduzindo os empregos nos países desenvolvidos e o aumento da violência urbana em nações desiguais como o Brasil. Também estão observando os efeitos das alterações climáticas e suas consequências catastróficas. Há um descrédito nos gestores da religião, da economia e das finanças públicas. Qual influência exerce sobre os jovens tantas notícias de crises, onde supostamente não deveriam existir, como na religião, nos governos, na administração pública ou privada? Onde encontrar um alento esclarecedor, uma saída? Onde encontrar a Verdade?

O grande desafio é atingir o eu interior, que todos nós possuímos, e que se manifesta na consciência do próprio existir. Ele está adormecido. Precisa ser despertado para ajudar, para agir. Reflexões fortalecem. Pensamentos esvoaçantes atrapalham. Ouvir com atenção, interiorizar as vivências, favorece a movimentação. A partir dos anos 1970 ocorreram mudanças que afetaram profundamente o preparo das novas gerações com o aumento dos estímulos para o fortalecimento do raciocínio em prejuízo da intuição.

Os jovens de hoje são seres humanos da mesma forma como as pessoas de mais idade, cujo eu interior ainda se mantém mais ou menos ativo, agindo com bom senso e algum lampejo intuitivo. Mas com os avanços da tecnologia e as mudanças na educação, e com a redução do hábito de ler e do aprendizado por convivência, o eu interior se apresenta mais travado nas novas gerações.

Atualmente se fortalece a crença de que a felicidade está na conquista do prazer imediato, o que cria uma barreira para a busca do sentido da vida.  Estamos diante de uma geração que quer o prazer imediato sem grandes preocupações com o significado da existência.

Às vezes, quando adentramos num recinto ou numa moradia, somos surpreendidos por algum arranjo de flores com sua beleza e sua leveza. No entanto, nem sempre observamos a mesma delicadeza nas formas de pensamento presentes nesse local. Isso porque as pessoas não se preocupam com a sua maneira de pensar, falar e agir; não ouvem o seu íntimo. Então, percebemos formas agressivas, ríspidas, sem coração, geradas na oficina do cérebro, pois o eu interior está travado. O escritor alemão Abdruschin (1875 – 1941) explica com clareza a origem disso, mostrando a diferença entre o ser humano materialista, que obedece cegamente ao seu raciocínio, e o ser humano de coração, que age com amor e generosidade, movido pelo lampejo espiritual - a sua intuição.

A beleza das flores indica o caminho da leveza, mas teimosos, os humanos frequentemente preferem a rudeza do raciocínio movido pela desconfiança, medo e cobiça.

Algumas vezes consegui manter uma conversa com o “eu interior” da pessoa com a qual estava falando. Outras vezes notei como o raciocínio atrapalha e dificulta, impedindo o diálogo, pois o eu interior geralmente age com justiça e generosidade, o que contraria o ego. Hoje está cada vez mais difícil estabelecer o verdadeiro diálogo entre as pessoas. As novas gerações sofrem com isso e com o peso da tecnologia, cada vez mais baseada no raciocínio, e sua forte influência na educação.

E enquanto o raciocínio trava, o eu interior abre o caminho para uma visão mais ampla. A época exige comedimento e bom senso. Os jovens não pensam sobre isso; não são conduzidos a isso. Tudo conspira contra, para que os pensamentos permaneçam na superfície, sem análise, sem interiorização. E sem a conexão com o eu interior, as pessoas agem como robôs, preponderando as influências externas nas tomadas de decisões.

Com o eu interior desperto vamos adquirindo visão de conjunto, capacidade de análise e melhor compreensão da situação, reconhecendo os pontos críticos. Para alcançar melhores resultados temos de fazer um esforço visando o fortalecimento do eu interior e a sua movimentação. Precisamos compreender que a presença humana no planeta deveria promover a melhora das condições de vida, não o contrário. Isso, a família e a educação precisariam transmitir às novas gerações.