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FUTURO OBSCURO E INCERTO

No início do século 20, as indústrias florescentes da Inglaterra, França e Alemanha travavam uma guerra econômica pela conquista dos mercados, acabando por gerar duas guerras mundiais. Ao final dos conflitos, os Estados Unidos e a Rússia emergiram enquanto a Europa e o Japão se quedavam derrotados. A partir do final dos anos 1970, os EUA adentravam no chamado neoliberalismo que reduzia a influência do Estado e, dando primazia ao controle do dinheiro, rentismo e ganhos financeiros, ampliaram a ânsia por ganhos imediatos, colocando a produção fabril de lado. Mas com o passar dos anos, as crises financeiras foram surgindo.

Nos anos 1980, a China, com seu partido único e autoritário, dava início ao aproveitamento de sua mão de obra barata para produzir manufaturas em larga escala para exportação com preços arrebatadores. Os empresários acharam que transferir a produção industrial para a China era uma boa oportunidade de obter ganhos, mas os empregos foram junto e a classe média foi decaindo.

As oportunidades de trabalho estão encolhendo. Os EUA estão encalacrados na dívida e no balanço do FED. Canadá está chamando, precisa examinar que oportunidades oferece. Europa sem turismo está devagar. A China quer produzir mais. O Brasil foi empurrado para a beira do abismo porque faltou preparo para a vida. Tudo interrelacionado com a globalização econômico-financeira. É preciso ter o diagnóstico certo para encontrar as soluções. A economia fica subordinada aos interesses de ganhos da classe empresarial, ou à geopolítica daqueles que dirigem o Estado.

Com a eleição de Trump, surgiu a percepção de que o caminho adotado pelos antecessores gerou uma forte dependência e, como consequência, teve início a guerra comercial. Biden vai seguindo na mesma política de recuperar o espaço perdido na produção e na competitividade. A pandemia agravou ainda mais a crise econômica do ocidente. O endividamento dos países alcançou montantes inéditos. Enquanto o ocidente fica se digladiando internamente por ninharias, China e Rússia vão consolidando posições na economia global. A humanidade inquieta pressente que está se formando um futuro obscuro e incerto.

A desigualdade econômica espalha-se pelo globo, evidenciando o declínio da espécie humana; porém raramente se vai às causas, às origens da miséria, da falta de preparo para a vida, da pandemia 2020, da má utilização pelo ser humano do seu livre arbítrio, manipulado de fora pela ausência da voz intuitiva – a consciência interior que se deixou arrastar aos abismos da indolência espiritual e dos pendores baixos. Sempre cabe ao indivíduo bem-preparado para a vida examinar o seu querer interior e ter a liberdade de decidir, com responsabilidade perante os direitos do próximo.

O planeta está em reboliço econômico e climático. Diariamente são necessários cerca de sete bilhões de quilos de comida para a população, mas a tendência é de insegurança alimentar, o que exige todos os cuidados com as condições naturais da produção de alimentos, com a preservação das matas, água e solo. A economia foi para o fundo do poço. Na América Latina há mais de 28 milhões de desempregados. Estados Unidos emite. O Brasil sempre tem optado por aumentar a dívida. Em ambos os casos aumenta o dinheiro em circulação e inflação, mas na dívida há juros que recaem sobre a população. A grande questão é: para onde vai o dinheiro, seja da emissão ou do empréstimo? Cada país precisa ter um mínimo de produção, empregos e consumo. O aumento na taxa de juros tem de ser criterioso para que o remédio não debilite o paciente ainda mais.

Surgem rupturas porque tudo que desenvolvemos através da civilização e da tecnologia atingiu limites críticos, sem ter produzido melhoras no ambiente em que vivemos e na psique humana, encontrando-se agora a humanidade diante de uma séria crise econômico-social e ambiental sem descortinar um caminho por onde escapar dessa trajetória embrutecedora. Temos de aproveitar as coisas boas que foram conquistadas, extirpando as distorções que provocaram o caos no meio ambiente e nas finanças.

Ao longo dos séculos, não construímos um viver decente. Faltam estadistas sábios e um bom sistema de governo que não acabe com as liberdades das pessoas, e atue decisivamente para o bom preparo da população e combate à miséria criada pela cobiça e indolência.

* Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br. E-mail: bicdutra@library.com.br