7. A Grande Pirâmide

Uma pirâmide de 150 metros de altura. Como os arquitetos da antiguidade puderam erigir uma obra tão perfeita nos mínimos detalhes? Como acreditar que uma obra tão grandiosa, estruturada com uma intrincada rede de corredores e salas pudesse ter sido construída tão somente para abrigar o corpo de um rei morto?

Uma única pirâmide deveria existir, mas as trevas facilmente conquistaram seres humanos decaídos para aviltar a obra. O seu significado acabou ficando oculto nas complicadas e mentirosas teorias engendradas pelo cérebro do homem do século 20, perdendo os seres humanos mais uma oportunidade de obter esclarecimento verdadeiro sobre o sentido espiritual da existência terrena.

Transcrevemos do livro A Grande Pirâmide Revela o Seu Segredo, de Roselis Von Sass o trecho que narra a extraordinária reunião dos sábios de Ereth, na Caldeia, onde foi planejada a grandiosa construção.

“Num dos terraços sobre a casa de cura de Mênfis, estava Sunrid, o egípcio. Com sua elevada estatura, vestindo um burnus branco, ele olhava, como se estivesse em grande expectativa, para a luz do sol poente. Há muito que o sol, ao se deitar, não apresentava um vermelho tão cor de sangue. Sunrid, contudo, pouco percebia do esquisito brilho vermelho que também o envolvia. Seu espírito estava escutando um chamado… O sacerdote-rei da Caldéia, estava chamando seus iniciados, de perto e de longe! Ele chamava-os para uma reunião extraordinária.

Sunrid acenava com a cabeça, afirmando. Sim, ele iria. Pois também ele, o egípcio, considerava a aldeia dos sábios, situada no riacho Ereth, na Caldéia, como sendo sua pátria espiritual na Terra. Virou-se suspirando e começou a andar meditativamente de um lado para o outro, no terraço.

Uma reunião extraordinária? O que significa isso? Apenas uma única vez, segundo sua memória, realizara-se uma reunião extraordinária em Ereth. Naquele tempo, tratara-se da despudorada mulher, que, durante uma solenidade, postara-se nua no degrau mais alto do Templo, anunciando um “novo deus” que doravante reinaria sobre a Terra e sobre o senhor do sol, até o final…

Com preocupação no coração, Sunrid lembrava-se dessa ocorrência. Parecia-lhe que a Terra e o sol haviam perdido muito do seu resplendor, desde aquele dia, pois o incompreensível havia ocorrido. Um grande grupo de sábios abandonou as aldeias de Ereth, seguindo a despudorada mulher, que se dizia sacerdotisa…

Sunrid olhava para as estrelas, como se ali em cima encontrasse a solução do enigma de tantas pessoas estarem colaborando com tanto afinco para sua própria destruição… Logo depois, porém, libertou-se de todos os pensamentos de preocupação, e quando tudo se havia acalmado nele, elevou seus braços em direção ao céu, numa silenciosa oração de agradecimento: “Aqui estou, Senhor de toda a vida!…”

Depois dessa oração, ele desceu para o andar inferior e atravessou com passos rápidos o amplo salão. No fundo do salão estavam seus aposentos.

Sunrid afastou a cortina e entrou. Na ante-sala, ao lado da entrada de seu dormitório, estava seu servo Horis, esperando. Sunrid tirou seu burnus e pegou a taça de ouro que seu servo lhe oferecia. Vagarosamente ele bebeu o refrescante suco de frutas. Ao devolver a taça vazia a Horis, deu-lhe um sinal com a mão, e entrou a seguir em seu dormitório, deitando-se no leito duro.

Horis compreendera o sinal de seu amo. Depois de ter limpado a taça, saiu para o salão grande, acomodando-se ao lado da cortina que fechava a ante-sala. Agora era ele o guardião do corpo terreno de Sunrid, enquanto o espírito do mesmo, conscientemente, empreendia uma peregrinação. A confiança que o amo depositava nele, o homem ignorante de pele preta, dava-lhe coragem e segurança.

Sunrid sentia-se atraído com toda a força para a Caldéia. Ele mal se havia deitado no leito, e seu espírito já se separava do corpo terreno, encontra-se poucos instantes após no alvo de seus desejos.

A aldeia dos sábios, situada no riacho Ereth, consistia de muitas edificações baixas, de diferentes dimensões, agrupadas em forma de círculo ao redor do Templo dos “Três Sagrados.” Uma das edificações baixas, que às vezes eram redondas, chamava-se casa das revelações. Grossas vigas de madeira entalhada, placas de cerâmica vitrificada e junco constituíam o material de construção de todas as casas nas diversas aldeias dos sábios…

A maioria dos iniciados tinha seu campo de ação em outros países. Espiritualmente, contudo, estavam sempre ligados ao sacerdote-rei da Caldéia. Naquele tempo, quando a presente história estava se desenrolando, esse país ainda não era denominado Caldéia. Contudo, continuamos a usar esse nome, uma vez que tal designação está relacionada com os sábios, até o dia de hoje. Outrora os sábios denominavam-se iniciados.

Todos os iniciados possuíam categoria sacerdotal. Mas cada um exercia alguma profissão. Considerando as designações atuais, pode-se dizer que havia entre eles geofísicos, astrofísicos, biólogos, químicos, astrônomos, naturalistas e grandes médicos. Justamente a “astrologia”, com a qual os sábios da Caldéia são relacionados até hoje, ainda não existia naquele tempo. Os que se ocupavam com a ciência dos astros, sabiam, naturalmente que cada ser humano se acha sob a influência de determinados astros, contudo, nunca teriam elaborado “horóscopos” para alguém. Cada ser humano tinha de deixar “falar a sua própria intuição!” Apenas a intuição e a respectiva condução espiritual deviam ser os indicadores de caminho na Terra! Somente os sacerdotes de Baal, que de toda a maneira imaginável queriam conservar também a influência que exerciam sobre os seres humanos, chegaram à idéia de utilizar a ciência dos astros como “meios de pescar seres humanos”. E com isso acertaram em cheio. Quando começaram a fazer horóscopos, foram procurados também por aquelas pessoas que até então não se haviam interessado pelo culto de Baal. Havia muitos que nada mais empreendiam, sem antes consultar os sacerdotes e seus horóscopos. E assim os seres humanos, já em si indolentes espiritualmente, tornaram-se mais indolentes ainda. Não se prestava mais nenhuma atenção à voz interior, à voz do espírito…

Enquanto os iniciados ainda não visavam poderes e influências terrenas, estando portanto firmemente ligados à Luz, eles possuíam também o segredo do preparo do “elixir da vida”. Sempre havia um entre eles que sabia preparar esse precioso líquido. Não se tratava aí de um elixir que prolongasse a vida. Os iniciados daquela época não desejavam um tal elixir. Eles sabiam, pois, que uma vida terrena artificialmente prolongada, acarretaria uma estagnação espiritual. Além disso, já tinham uma vida muito mais longa do que os seres humanos de hoje.

A composição do elixir fora recebida do próprio Asklepios, por um dos sacerdotes-reis, há muito tempo. Em seu estado líquido parecia-se com sangue, tendo o gosto de uma fruta azeda. Algumas gotas diariamente, substituíam a alimentação para os iniciados, mantendo todos em pleno vigor, quando frequentemente tinham que peregrinar durante semanas. Também não se apresentavam manifestações de cansaço.

Esse elixir aumentava ainda mais o prestígio dos iniciados da Caldéia. O fato de os irmãos poderem ficar “sem alimentação” durante dias e semanas, era para o povo mais uma prova de seus poderes sobrenaturais. Durante longo tempo os irmãos iniciados foram verdadeiros guias, mestres e consultores do povo. Eles não se preocupavam com riquezas, poder ou honrarias. Sua vida era consagrada ao Eterno Criador, e à pesquisa dos segredos que Ele havia colocado em sua Criação.

Uma vez por ano, na época do ponto culminante espiritual, os iniciados reuniam-se em Ereth. Todos se empenhavam para estar lá nessa época.

Como ponto culminante espiritual designavam os dias nos quais nova força, proveniente do “Coração do Criador”, perfluía todos os mundos e todas as criaturas… O Santo Graal eles denominavam de o “Coração do Criador”. Sabiam que a subsistência da Criação dependia da renovação anual das forças. O ponto culminante espiritual, no entanto, já havia passado há tempo, quando Sargon chamou.

E assim todos os iniciados, de perto e de longe, foram avisados de que uma reunião extraordinária se realizaria. Os que cumpriam suas missões em outros países, recebiam a notícia por intermédio de mensagens enteais. Também Sunrid recebeu-a dessa maneira.

Numa construção ampla e baixa, chamada casa das revelações, estavam presentes, em seus corpos terrenos, cerca de duzentos iniciados, quando o espírito de Sunrid se juntou a eles. Ainda havia paz e harmonia entre eles. Além do sacerdote-rei, apenas poucos sabiam que já existiam alguns infiéis. Infiéis no coração. Contudo, já se podia prever que esses, mais cedo ou mais tarde, se converteriam abertamente à idolatria… A sombra de Lúcifer já se fazia notar aqui e acolá.

Os iniciados estavam sentados sobre banquinhos baixos e olhavam para uma forma, feito de cerâmica, de um metro de altura, que se achava num amplo pedestal, no meio do grande salão. Oito candeeiros de ouro, colocados na larga plataforma do pedestal, estavam dispostos de tal modo, que a forma de cerâmica branca vitrificada recebia luz de todos os lados. Quanto mais demoradamente contemplavam a forma de cerâmica, tanto mais se sentiam oprimidos. Dor, pavor e a sensação da perda de algo irrecuperável envolveu suas almas, como um pesadelo. Lembravam-se do grande modelo da pequena forma de cerâmica no pedestal… e das grandes aves com rostos humanos e com seu conto apavorantemente lastimoso…

Esse grande modelo, que há pouco haviam visto, encontrava-se numa região do mundo de matéria fina. Tratava-se de uma edificação gigantesca, para onde seus espíritos foram levados, enquanto seus corpos terrenos dormiam.

Várias batidas de gongo avisaram a chegada de mais outros iniciados. Os recém-chegados tomaram banho no riacho, num lugar onde o mesmo corria através de um pequeno bosque de velhas árvores de incenso e mirra. Depois do banho trocaram suas roupas de viagem por vestes brancas de linho, entregues a eles pelos servos. Pouco depois, também esses retardatários estavam na casa das revelações, para ouvir o que o sacerdote-rei lhes tinha a dizer.

Todos respiraram como que aliviados, quando Sargon entrou. Como único entre todos os presentes, ele portava sobre o peito uma placa quadrada de ouro, com pedras preciosas vermelhas. As pedras preciosas, dispostas em forma de cálice, identificavam-no como discípulo de “Asklepios”. A coroa pertencente ao seu ofício, ele apenas portava durante as solenidades do Templo. Sargon também era um médico extraordinário; um médico da alma e do corpo.

Sargon ficou de pé, calado, ao lado do pedestal. Um profundo silêncio reinava no grande salão. Apenas se escutava o murmúrio do vento agitando a fina tecitura de fibras, estendida num dos lados abertos da parede, a fim de impedir a entrada de morcegos, besouros e outros insetos. E de longe ainda se escutavam, fracamente, os sons de algumas flautas de pastores.

Sargon, finalmente, levantou os braços para o alto, suplicando a benção da Luz. Depois baixou os braços e cumprimentou os presentes, enquanto seu espírito, ao mesmo tempo, saudava todos aqueles que, fora da matéria, tinham atendido seu chamado. A seguir olhou sorrindo em redor, acenando também para as enormes figuras que em muito superavam a casa das revelações. Eram os gigantes, aos quais ele também havia pedido que viessem.

Durante um momento Sargon olhou a forma branca de cerâmica, depois começou a falar:

– Estamos hoje aqui reunidos a fim de executar na Terra a última ordem do nosso Eterno Criador. Essa incumbência nos foi transmitida por um de Seus primeiros quatro servos.

A última incumbência! Compreendeis o que essas palavras encerram? Um peso opressor abateu-se sobre meu peito, quando finalmente compreendi o significado dessas palavras. A respiração tornou-se difícil para mim, e eu senti que a Terra estremecia.

– Achas que depois dessa última incumbência, o Eterno nos privará, a nós, os iniciados, de Sua confiança? Interrompeu um dos presentes a alocução de Sargon.

Sargon acenou afirmativamente, continuando a seguir:

– Quando entrei, percebi que a construção em miniatura, feita em cerâmica branca, que aqui vedes, vos lembrou da colossal construção na matéria fina, que há pouco nos foi permitido ver. “O sepulcro do fênix moribundo” é a denominação que os construtores deram a essa edificação. Quando fomos conduzidos para dentro, abriu-se diante de nossos olhos um mundo de maravilhas! Tudo era feito de cristal, maravilhosamente brilhante. Os salões, os corredores, escadarias e mesmo os ornamentos de flores eram de cristal.

Por último, fomos conduzidos até um salão, o qual era diferente. Quando entramos, envolveu-nos o cheiro da morte. Vimos paredes escuras e úmidas, e no meio do salão um grande esquife aberto… Dentro do esquife estava um ser humano petrificado. Mesmo a roupa que o cobria estava petrificada… Estais lembrados, meus irmãos?

Sargon calou-se um pouco. Seus olhos anuviaram-se de tristeza e ele sentiu o pavor e o medo inconsciente dos irmãos sábios.

– O morto corporifica o gênero humano, recomeçou Sargon. A previsão espiritual, realizada por Vontade do Onipotente Criador, resultou que, já agora, mais da metade da raça humana está entregue, inapelavelmente, ao anjo caído. E da previsão espiritual pôde-se ver que a maioria dos seres humanos que embora no momento ainda não estejam de todo submissos ao antagonista, o estarão até o final dos tempos.

Vistes, num dos mundos de matéria fina, o túmulo da humanidade. O ser humano sinistramente petrificado corporifica os bilhões de criaturas que abandonaram o puro e luminoso mundo a elas dado pelo Onipotente Criador, para seguir o inimigo, o anjo caído.

O esquife com o morto petrificado, que vistes com pavor no coração, significa que quase toda a humanidade já estará espiritualmente enrijecida e morta, quando o período de desenvolvimento previsto para ela estiver terminado. O ser humano, o vislumbrante fênix, que depois de cada vida terrena deveria esforçar-se cada vez mais para o alto, em direção à Luz, escolheu a morte e a queda nos abismos do desespero.

Sargon calou-se respirando fundo; depois levantou novamente os braços e de novo implorou forças.

– Quem de nós terá abandonado o puro mundo de cristal, quando o tempo do julgamento se aproximar? Perguntou baixinho o iniciado de Sabá. Já desde semanas ele se achava em Ereth e havia percebido que alguma coisa não mais estava de acordo com o mundo da Luz.

Sargon ouviu essa angustiada pergunta do iniciado de Sabá. Contudo, também ele não conhecia a resposta para isso. Cada um, sozinho, era responsável pelo seu destino.

– Vedes essa pequena forma de cerâmica branca. Vamos denominá-la de “pirâmide”, disse Sargon olhando em redor. Ela é uma cópia exata da construção de cristal que encerra na matéria fina o “túmulo do fênix moribundo”. Fênix moribundo, em verdade, não é mais a expressão certa a esse respeito, uma vez que o ser humano petrificado dentro do sarcófago, já está morto.

O gigantesco original da pirâmide cristalina, que vimos na matéria fina, encontra-se em alturas elevadíssimas. Mais explicitamente, num reino de Luz que permanecerá eternamente inacessível ao ser humano. Esse original não encerra a morte, pelo contrário, a chama viva da vida eterna!

A pirâmide desse mundo de Luz infinitamente longínquo, é de uma beleza inenarrável e irradia como um diamante em que o vermelho da chama eterna se refrata milhões de vezes.

Nos quatro cantos dessa construção indescritivelmente maravilhosa encontram-se, em quatro pedestais igualmente gigantescos, quatro animais alados. São animais cuja existência há longo tempo nos foi revelada. – O carneiro, o leão, a águia e o touro.- Desses quatro animais, por nós denominados “gênios”, conhecemos também o significado, pelo menos até o ponto em que o mesmo pode ser compreendido por seres humanos. Sabemos que eles vivem nos quatro cantos dos degraus do trono do Onipotente Criador, e que eles, como os primeiros, recebem de cima, isto é, do ápice, a força da vida e a retransmitem.

Sargon fechou os olhos por um momento, a fim de formular em palavras o que seu olho espiritual divisava.

– Apenas posso dizer, começou hesitantemente, que essa pirâmide no reino do nosso Onipotente Criador se assemelha de longe a um gigantesco bloco de diamante, rubro-flamejante! Não encontro outras palavras para descrever aquela maravilhosa magnificência, muito além de qualquer compreensão humana. Também, ela se encontra tão distante! Essa pirâmide, que encerra a chama da vida.

As últimas palavras de Sargon quase ninguém entendeu, de tão baixinho que ele as pronunciou, como que para si mesmo…

– De modo diferente é em relação à pirâmide que encerra o sarcófago com o ser humano petrificado. Essa pirâmide é igualmente bela e suas paredes reluzem como cristal. Ela não se acha tão afastada de nós, como o original de diamante. O horror e o medo que muitos de nós experimentamos ao vê-la, deve servir de alerta para que não nos tornemos também, até o fim dos tempos, seres humanos petrificados.

Na Terra deverá surgir agora uma construção idêntica, uma pirâmide de pedra! Executar essa obra é a última incumbência que recebemos da Luz.

O significado da palavra “pirâmide” é “cristal em que arde o fogo da eternidade”! Só que… na pirâmide terrena não arderá nenhum fogo da vida eterna. Pelo contrário! Também nela se encontrará a indicação da decadência e morte do gênero humano.

Sargon silenciou e olhou para os gigantes, que ficaram inquietos com suas palavras. Os iniciados também olhavam para cima. Todos eles podiam ver os gigantes, os gnomos e as ondinas, e podiam se comunicar com eles, pois se encontram perto da Terra de matéria grosseira. Mas havia muitas outras pessoas ainda, que também podiam ver os entes da natureza.

– Somente poderemos cumprir a última incumbência da Luz, se os gigantes nos ajudarem, recomeçou Sargon. As medidas que já estão determinadas para o construtor são gigantescas. Uma construção tão enorme somente poderá ser levantada com a força deles.

Enak, o guia do grupo de gigantes, acenou afirmativamente. Do mesmo modo acenaram os outros gigantes.

Sargon agradeceu-lhes a sua disposição para ajudar; depois elevou as mãos, abençoando e saudando. Logo após as figuras gigantescas desapareceram.

Um dos iniciados levantou-se e acendeu todas as lamparinas colocadas sobre altos pedestais em torno das paredes. Quando as lamparinas estavam acesas, Sargon começou novamente a falar. Ao lado dele estavam agora alguns espíritos de iniciados que terrenamente não podiam assistir à reunião. Entre esses espíritos encontrava-se também Sunrid.

– Até a época do Juízo da humanidade ainda nos separa um espaço de tempo de seis mil e quinhentos anos! É apenas uma fração do período quase imensurável de desenvolvimento, concedido outrora aos seres humanos. Esses seis mil e quinhentos anos constituem o último espaço de tempo, em que cada ser humano terá que ter alcançado o seu alvo. Através da previsão espiritual sabemos, contudo, que esse alvo será atingido por um número mínimo. A chama eterna dos espíritos humanos está em vias de se extinguir. Seres humanos enrijecidos povoarão a Terra, bem como os reinos das almas. O Juiz dos mundos chegará a um mundo, no qual vegetarão quase que exclusivamente mortos.

Depois das palavras de Sargon, a atmosfera do salão parecia densificar-se. Medo, um medo inexplicável tomou novamente conta das almas dos iniciados reunidos. Apenas poucos estavam livres desse medo.

O astrônomo Horam, que até então estivera calado ao lado de Sargon, começou a falar.

– A pirâmide será uma profecia em pedra. Nela serão marcados o início e o fim do Juízo, bem como as datas de todos os acontecimentos importantes prestes a acontecer através do destino dos seres humanos. Além disso, as medidas e relações da gigantesca construção darão elucidações sobre muita coisa. Por exemplo: poderão ser deduzidas a distância de nosso planeta ao sol, bem como a duração de um ano estelar e também o peso e a densidade da Terra…

A gigantesca obra estará exatamente no centro da Terra! A linha que passa pelo centro da pirâmide divide mar e terra em duas partes iguais…

– A construção, então, não será erguida em nosso país? Perguntou um dos presentes. Horam meneou a cabeça negativamente.

– Aqui, não estaria o centro. Além disso, já sabemos que no percorrer dos seis mil e quinhentos anos nosso país será abalado várias vezes por fenômenos naturais.

Horam olhou para o indagador. Notando que esse o havia entendido, acrescentou:

– A pirâmide será construída no Egito. Tão logo o construtor chegar, os luminosos guias que nos transmitiram essa incumbência mostrar-lhe-ão o lugar exato.

Por um aceno de Sargon, um grupo de iniciados se aproximou, colocando-se em volta da pequena obra de cerâmica.

Horam começou de novo a falar, enquanto Sargon afastava as finas paredes laterais da pequena pirâmide, de modo que o interior ficasse à vista.

Ouviram-se exclamações de pasmo. Viam corredores, câmaras e salas de tamanhos e alturas variadas… Para eles foi uma visão desconcertante. Sargon indicou sorrindo para um ou outro lugar das paredes internas, depois esclareceu-lhes como havia surgido tal disposição.

– Alguns geógrafos e matemáticos, previamente escolhidos para isso, receberam dos mestres construtores da natureza as medidas para a divisão do interior da pirâmide. E os nossos astrônomos calcularam, com a ajuda dos “senhores dos astros”, as datas dos fenômenos que serão ainda importantes para o destino dos seres humanos.

Horam indicou para um corredor comprido e ascendente, em cujas paredes se viam pequenas alterações na estrutura.

– Cada modificação mostra a data de um acontecimento que chegará a realizar-se.

O botânico desse grupo que circundava a pequena obra, descobriu o comprido esquife vermelho, que estava no meio de uma sala.

– O esquife está na sala do Juízo, disse Sargon. O significado dele é muito simples. O senhor de todos os mundos encontrará, quando vier para o Juízo, quase que exclusivamente mortos espiritualmente, aos quais o esquife aberto já estará esperando.

Em grupos vieram, pouco a pouco, todos os iniciados, aglomerando-se em volta da pirâmide aberta, de cerâmica. Pensativamente olhavam para a desconcertante divisão e para as diversas proporções que se apresentavam aos seus olhos.

Sakur, o ourives, que estava ao lado de Sargon, tirou uma jóia de seu invólucro, colocando-a sobre a ponta achatada da pequena obra de cerâmica. Era o sinal do Criador de todos os mundos. Duas traves de igual comprimento, cruzadas. Todos eles conheciam esse sinal, e, ao vê-lo, eles elevavam agora seus braços em adoração, exprimindo em palavras o que emocionara seus espíritos:

“Senhor da Chama Eterna, Tu é onipotente!
Nossos espíritos se elevam para Ti, para que Tua
Luz os ilumine! Somos Tuas criaturas e queremos
Permanecer assim, até o dia do Julgamento!”

Depois dessa oração, todos, exceto Sargon e Horam, voltaram para seus lugares, acomodando-se. Sargon dirigiu-se a todos, convidando-os a formular perguntas.

– Meus irmãos, percebo que alguma coisa, no que se refere à construção da pirâmide, ainda não ficou bem clara para vós; portanto, pergunta à vontade.

– Não poderia a pirâmide ser construída numa época posterior; quero dizer, mais perto do final? Perguntou o iniciado de Acad.

– É o que não sabemos, disse Sargon depois de hesitar um pouco.

– Mais tarde não mais teríamos o auxílio dos gigantes, observou Horam. Somente com força humana, uma obra de tais dimensões nunca poderia ser levantada.

O iniciado de Acad meneou a cabeça afirmativamente. Essa resposta era convincente. Eles todos sabiam que os seres humanos no futuro não mais poderiam contar com a solicitude dos entes da natureza. A crescente idolatria ampliava, dia a dia, o abismo já há muito se abrira entre os entes da natureza, que vibram integralmente na vontade do Criador, e os seres humanos.

De repente fez-se notar uma forte vibração no ar, e todos viram a gigantesca figura de Enak. Sargon e também os outros aguardavam calados o que Enak tinha a dizer.

“Sabei, é a última vez que nós, os gigantes, colaboraremos com os seres humanos,” ecoou, como que de bem distante, a poderosa voz do gigante.

“No fim de vosso tempo, vós, criaturas humanas, estareis diante de nossas construções, e não podereis explicar de que maneira elas foram edificadas. Vossos corações nada mais saberão de nós , os gigantes, pois esses corações pulsarão somente para o inimigo da Luz!”

A terra tremia e os seres humanos que acabavam de ouvir as palavras do gigante, na casadas revelações, sentiam intuitivamente medo daquilo que vibrara conjuntamente com as palavras dele. Também lhes parecia impossível que viesse uma época em que nada mais saberiam dos gigantes… Cada construção gigantesca e cada gigantesca ruína lembrá-los-ia, pois, dos mestres construtores, os gigantes! Quem mais, senão os gigantes, poderia ter amontoado pedras do tamanho de uma casa? Não, Enak deveria estar enganado. Nunca seus corações pulsariam para o inimigo da Luz…

Quando o silêncio ao grande salão já começava a se tornar opressivo, um dos iniciados perguntou como os seres humanos de épocas posteriores decifrariam as datas e os sinais indicados na pirâmide.

– Pelo número sagrado que será usado na pirâmide. Pode-se dizer também pela medida sagrada. Os posteriores pesquisadores começarão a medir e transformar as medidas encontradas, em anos.

Depois dessas palavras, Sargon dirigiu-se a Horam, indicando algumas varinhas que estavam ao lado da pequena pirâmide. Horam tomou uma delas e mediu um dos corredores nela construídos. Depois mediu novamente o mesmo corredor, contudo somente até onde se notava uma pequena modificação na estrutura das pedras.

Nesse lugar ele fez um risco na varinha e marcou medidas até o lugar do risco. Cada medida significava um número de anos. Somando esses anos, obtinha-se a data em que se realizaria um dos acontecimentos predeterminados.

Horam tirou do pedestal um cordão de medição de ouro e mediu o comprimento da varinha até o lugar marcado pelo risco. Depois ele dirigiu-se para a pequena pirâmide e indicou o lugar do corredor que apresentava uma ligeira modificação.

– A medida da distância até esse lugar, transformada em anos, indica um acontecimento que se realizará 1.500 anos mais tarde.

– Sei que todos os acontecimentos realizar-se-ão nas datas indicadas na pirâmide, exclamou Guil, o sacerdote indicado na Média. Portanto, eu vos pergunto: que proveito trará tal saber aos seres humanos que viveram na Terra, na época do Juiz do Universo? Eles pesquisarão, medirão e encontrarão as datas, e depois comprovarão que nas datas indicadas na pirâmide, realmente ocorreram importantes acontecimentos! De acordo com a previsão, no entanto, a maioria dos seres humanos de qualquer forma já estará morta nessa época longínqua. O que poderá lhes adiantar, então, um saber para o qual não têm mais nenhuma utilidade?

Guil quase havia gritado as últimas palavras. Todo seu corpo tremia e gotas de suor caíam-lhe da testa. Os iniciados, sentados ao lado dele, desviaram horrorizados seus olhares. – Quem perdia seu autocontrole, facilmente poderia ser arrastado por correntes de poderes trevosos. –

Horam e Sargon olhavam atentamente para o sacerdote, que há cinco anos vivia nas aldeias dos sábios, e que, rico em saber, deveria em breve voltar para a Média.

– Guil, ouve: o mistério da pirâmide será descoberto ainda antes do desencadeamento do Juízo Universal. Com pasmo os perscrutadores e cientistas constatarão que acontecimentos e vital importância realmente ocorreram nas datas marcadas nas pedras.

Através de suas medições descobrirão também os anos indicando o início e o fim do Juízo Universal!

A exatidão das datas indicadas na pirâmide deverá ser uma prova para os investigadores, que as datas referentes ao início e ao término do grande Juízo também terão que ser corretas. A mensagem espiritual contida na estrutura da pirâmide chegará em tempo certo ao conhecimento geral, pois alguns de nós estarão então na Terra, e para estes será fácil encontrar a chave que decifrará a linguagem das pedras.

Os esclarecimentos de Horam não convenceram Guil. Contudo, antes que ele pudesse prosseguir com suas dúvidas, levantou-se Pasur, o botânico, e dirigindo-se a Sargon, perguntou:

– Será que naquele longínquo tempo ainda existirão seres humanos capazes de compreender uma mensagem espiritual? Com essa pergunta penso na previsão espiritual, que nos anuncia que a Terra e o Além estarão povoados quase que exclusivamente por mortos, quando vier o Senhor da pirâmide, o Senhor do fogo eterno, para julgar a humanidade!

Sargon baixou pensativamente a cabeça. Com tristeza olhava para o pequeno modelo de cerâmica. Este, de repente, parecia-lhe um túmulo onde fora enterrado algo de preciosíssimo…

– Quase todos, dizia naquela previsão – observou Horam. – Os poucos que ainda não pertencem aos mortos, serão ajudados! Antes do fim, ainda virá um “Salvador”, proveniente das alturas máximas, para os seres humanos terrenos, a fim de ajudar esses poucos que ainda olham em direção à Luz. Sem esse Salvador, existiriam apenas mortos na época do Juiz Universal! Conforme a divisão do tempo, ainda passarão 4.500 anos até a chegada desse sublime Salvador. Nossos astrônomos também indicaram essa data na pirâmide.

Por causa desses poucos viria um Salvador das alturas máximas? Isso parecia inapreensível a todos.

– Não poderíamos, simplesmente, colocar na pirâmide placas com as datas dos acontecimentos, em vez de penosamente estruturar as alterações na dura pedra? Perguntou Pasur.

– Placas poderão ser levadas e destruídas. Não obstante também colocaremos placas na pirâmide acabada. Horam olhou para a pequena pirâmide, depois tirou cuidadosamente uma pequena pedra quadrada que formava o canto de um corredor.

– Aqui, meus irmãos, vedes essa pedra! A pirâmide do Egito compor-se-á de tais pedras. Cada pedra terá um peso que apenas os gigantes poderão mover e levantar!

Horam mal havia terminado, quando Pasur exclamou alegremente:

– Cada mensagem espiritual, expressa numa estruturação tão colossal de pedras, perdurará milênios. Nem reis renegados nem sacerdotes idólatras poderão alterar ou destruir algo nisso.

Sargon acenou com a cabeça, concordando, e acrescentou que a data que indicava o final do Juízo, também indicava o antagonista da Luz. Então a morte seria dominada pela Luz!

Horam fez um sinal indicando que nada mais havia a dizer, e que os irmãos poderiam ir repousar. Então, a maioria dos iniciados deixou a casa das revelações. Alguns ainda ficaram diante do modelo da pirâmide, e um deles disse que também se poderia denominar a pirâmide de “a edificação das pedras que falam”.

Sihor, o vidente, que estava ao lado de Sargon, exclamou de repente:

– Eu vejo o lugar da obra! Está coberto de rocha, mas no meio das rochas encontra-se uma grande cova escura. Muitas ossadas jazem nessa cova. Um grande rio também não se encontra distante do local. Um rio com junco alto e fechado. Pássaros e animais, grandes e pequenos, têm o seu habitat ali, contudo, nenhum caminho conduz para lá. Os seres humanos evitam o lugar, as rochas e a cova…

– Estás vendo o local da obra, Sihor? E estás dizendo que é evitado pelas pessoas? Sihor meneou a cabeça afirmativamente.

– Hoje, esse lugar está sendo evitado, mas não foi sempre assim.

Horam e Sargon também tentavam imaginar o local visto por Sihor.

– Essa edificação ficará muito distante daqui, disse Sihor ainda: após, ele também deixou a casa das revelações.

Sunrid, o egípcio, que ainda continuava em espírito ao lado do modelo da pirâmide, também havia visto o local da obra, quando o vidente o descrevera. Parecia-lhe conhecer esse lugar. Àquela cova! Somente podia tratar-se do despenhadeiro, onde, fazia muito tempo, nômades jogavam seus mortos. Pois bem, ele iria procurá-lo… ”

Ficou gravado em pedras, na Grande Pirâmide, a profecia de que dois Emissários viriam à Terra, em auxílio aos Seres Humanos o Filho de Deus e o Filho do Homem.

Mais tarde essa profecia também constou das mensagens dos Profetas, mas tem sido uma constante na história da humanidade, o desprezo dos seres humanos espiritualmente enrijecidos, pelas mensagens trazidas por Profetas e Enviados de Deus, que não raro foram perseguidos e ridicularizados pelas normas inventadas pelos homens subordinados ao seu intelecto materialista circunscrito ao tempo e espaço.

Com Jesus também não foi diferente, mas não menos trágico foi o surgimento de uma poderosa organização religiosa que foi ajustando sua doutrina de acordo com suas conveniências, impondo-a como sendo a doutrina de Cristo.

Quanto à Pirâmide, está lá, plantada no deserto, mas ao longo dos milênios foi sendo desfigurada em todos os sentidos, perdendo o seu brilho reluzente. Após Quéops se ter apossado da mesma, veio a deturpação de todo o conteúdo deixado em placas e ilustrações. Contudo restaram os enigmáticos corredores e os salões. As pedras falam poderosamente, mostrando os descaminhos da humanidade. Caminhos esses que deveriam ser claros, espaçosos, repletos de beleza. Mas os seres humanos optaram por caminhos escuros, feios, apertados e cheios de perigos.

“A Grande Pirâmide Revela o Seu Segredo” não pode deixar de ser lido por todos aqueles que procuram o significado e o sentido da vida.