A Abrangência das Parábolas do Mestre

A Torre e o Rei

“Quem dente vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, dizendo: ‘Eis um homem que começou a construir e não pôde terminar!’ Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz.”

(Lc14:28-32)

Nessas duas estórias superpostas, os protagonistas procuram agir com grande senso de responsabilidade, para que o resultado de suas empreitadas não lhes seja desfavorável. Um faz as contas com cuidado para ver se pode terminar a torre, e o outro avalia com zelo se pode mesmo entrar numa guerra com o vizinho.

Nos dois casos transparece a seriedade com que as missões terrenas são encaradas, para se poder levá-las a bom termo. Vemos uma situação semelhante, por exemplo, quanto temos de assinar um contrato qualquer. Certamente nenhum de nós assinaria um contrato terreno sem antes examinar detalhadamente o texto, e refletir se podemos mesmo cumprir tudo o que ali está assentado.

Por que será então que não temos o mesmo cuidado em relação a temas espirituais? Por que as pessoas se entregam irrefletidamente a uma crença qualquer, sem antes analisar meticulosamente, com a intuição, se o que é proposto a elas tem de fato ressonância em seu íntimo? Um contrato terreno não cumprido traz danosas conseqüências terrenais ao ser humano, mas o entregar-se irrefletidamente a uma fé pode lhe custar a vida eterna. Se usamos de responsabilidade em nossos misteres terrenos, com muito mais razão ainda devemos fazer uso dela em assuntos que digam respeito à nossa vida espiritual. Isso não é nenhum pecado, mas uma necessidade de máxima importância. De nada vale alegar aí que a respectiva fé é de “família”, e que portanto uma posição de independência traria inquietações e desarmonias. Isso é mais uma vez apenas indolência do espírito, justamente o que as crenças atuais, em sua quase totalidade, procuram disseminar entre os adeptos.

Uma intuição aguçada em contínua vigilância e uma movimentação espiritual permanente constituem a única garantia para se poder obter frutos espirituais de empreendimentos espirituais.