Aspectos Desconsiderados da Doutrina de Cristo

A Severidade do Verdadeiro Amor

Em sua obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal, Abdruschin afirma que a maior parte do verdadeiro amor é severidade.

Sim. O verdadeiro e legítimo amor visa unicamente o bem do próximo em sentido amplo, não se detendo diante de exterioridades. Deseja o que é melhor espiritualmente para o seu semelhante e age com denodo nessa direção, pouco importando se esse melhor lhe seja agradável ou não aqui na Terra. Pois tão-só o espírito é realmente vivo no ser humano. O corpo cumpre sua função de invólucro material do espírito durante alguns poucos anos terrenos e em seguida é descartado, sendo devolvido à terra como conseqüência natural, pois “o corpo sem espírito está morto” (Tg2:26). O espírito humano, porém, continua vivo e atuante na Criação, caso tenha se desenvolvido de modo certo.

O que o ser humano de hoje chama de amor ao próximo é um amor complacente, falso, pegajoso, que com palavras doces anestesia, sim, temporariamente a dor daquele que errou, mas ao mesmo tempo o impede de reconhecer a causa do sofrimento, o que infalivelmente força a repetição futura desse mesmo sofrimento. É um amor capaz de proporcionar um alívio momentâneo, mas ao preço da infelicidade perene; um amor que magnanimamente distribui esmolas aos desvalidos, mas não sem antes lhes subtrair o tesouro da dignidade; um amor sempre pronto a enxugar as lágrimas do sofredor, mas apenas para que este possa divisar mais nitidamente o sorriso beatificado do seu amoroso confortador.

Amor ao próximo não é isso. Nunca foi. Amor, amor verdadeiro ao próximo é dar a ele, antes de mais nada, o que lhe é de fato útil, pouco importando se isso lhe causa ou não alguma alegria efêmera. É visar a felicidade eterna do próximo e trabalhar com afinco nesse sentido. É mostrar de forma clara, até mesmo contundente se preciso for, as faltas cometidas, pois é “melhor a repreensão franca do que o amor encoberto” (Pv27:5), visto que os erros sempre retornam ao gerador na forma de dor e sofrimento. É fato que “as palavras do sábio são como aguilhões” (Jó12:11), mas “quem fere por amor mostra lealdade, enquanto o inimigo multiplica beijos” (Pv27:6).

Amor verdadeiro é dar apoio irrestrito, sólido, a quem realmente se esforça em suplantar suas falhas, é ampará-lo na travessia do árduo caminho do reconhecimento do erro e de sua reparação. Pois unicamente o reconhecimento pessoal da atuação errada, implacável e abrangente, é capaz de fazer a respectiva pessoa mudar radicalmente sua sintonização interior. E tão-somente essa voluntária mudança de sintonização íntima pode interromper de vez o ciclo aparentemente sem fim do sofrimento intermitente, pela atuação permanente da Lei da Reciprocidade.

O amor verdadeiro, severo, abre para o próximo, a duras penas, o portal para a conquista da felicidade, enquanto que o falso amor passa sobre este, sem esforço, um ferrolho intransponível. A atuação do primeiro é permeada de obstáculos, dificultada por forte incompreensão e intensa crítica, enquanto que a do segundo é aplainada com carinho, incentivada com aprovações sorridentes e sorrisos inconseqüentes.

O falso amor já se imiscuiu em todos os campos da atuação humana, trazendo prejuízos inenarráveis a quem o pratica e a quem dele é vítima. A educação dos filhos, particularmente, sofreu demais com uma faceta desse falso amor, conhecido hoje como “educação moderna”. Esse tipo de educação que tudo tolera das crianças e adolescentes, para não criar nenhum “trauma” neles, não passa de uma incubadora de tiranos, contribuindo ainda mais para o caos reinante na Terra. É uma ferramenta afiada das trevas mais espessas. Algumas poucas frases bíblicas mostram que, também na educação familiar, o amor não se deixa separar da severidade: “O Senhor castiga aquele a quem ama, como um pai a um filho querido” (Pv3:12); “Quem poupa a vara não ama seu filho; quem o ama, porém, disciplina-o prontamente” (Pv13:24); “Não retires da criança a correção, ela não morrerá se a castigares com a vara” (Pv23:13); “A vara e a reprimenda conferem sabedoria, o jovem entregue a si mesmo é a vergonha da sua mãe” (Pv29:15). Se a criança, assim educada com amor severo, tiver de fato boa índole, então é certo que não se desviará na vida: “Ensina a criança no caminho que deve andar, e mesmo quando for velho não se desviará dele” (Pv22:6).

O que vale para crianças e adolescentes vale também para adultos, apenas moldado para o mundo deles. Quando repreendeu severamente os Coríntios em sua primeira carta, Paulo logo em seguida explicou: “Não vos escrevo essas coisas para vos envergonhar, pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados” (1Co4:14). Paulo estaria sendo até negligente se não os admoestasse naquela ocasião, pois contribuiria assim para perpetuar um erro (no caso a soberba) e as conseqüências maléficas disso para a comunidade. Desse modo, ele mesmo se sobrecarregaria com uma culpa, devido à sua negligência. Pouco mais à frente, ele faz até um paralelo disso com a atuação do Senhor: “Punindo-nos, o Senhor nos educa, para não sermos condenados com o mundo.” (1Co11:32).

Paulo, portanto, agiu corretamente com seu amor severo, em inteira conformidade com um antiqüíssimo ensinamento das Escrituras: “Não odiarás o teu irmão no teu coração; repreenderás o teu próximo para que não incorras em pecado por sua causa” (Lv19:17). O salmista diz o mesmo do ponto de vista de quem foi justamente repreendido: “Castigue-me o justo e repreenda-me com misericórdia” (Sl141:5). Na segunda epístola dirigida aos Coríntios, Paulo volta à carga e afirma que “não se arrepende se os entristeceu com sua carta” (2Co7:8), e diz até que se alegrou pelo efeito que ela provocou: “Alegro-me agora, não pela vossa tristeza, mas pelo arrependimento que ela produziu” (2Co7:9).

Também João Batista, o Preparador do Caminho para Jesus, foi extraordinariamente severo para com seus assustados ouvintes. Suas palavras vibravam qual um machado afiado contra as raízes dos males humanos. João Batista agia assim por amor, por legítimo amor a seus semelhantes, e jamais se preocupou com o que estes poderiam pensar ou falar de seus atos e de suas repreensões. Assim atua o amor verdadeiro.

Esse amor verdadeiro também não age com a perspectiva de receber alguma recompensa ou reconhecimento, pois “não procura seus interesses, não se ufana e nem se ensoberbece, mas sim se regozija com a Verdade” (1Co13:4-6), conforme Paulo, mais uma vez, procura explicar. O retorno da atuação desinteressada do verdadeiro amor advém de modo automático, novamente por efeito da Lei da Reciprocidade, como indica Jesus no trecho a seguir:

“Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo.”

(Lc6:35)

Amar os inimigos outra coisa não é senão usar de severidade justa para com eles, para que reconheçam seu proceder mau e redirecionem sua vontade no sentido do bem: “Disciplina severa para quem abandona o caminho!” (Pv15:10). Assim, não precisarão mais sofrer futuramente, em decorrência de seus atos malévolos no presente. Tiago também previu o efeito benéfico de semelhante prática: “Quem reconduzir um pecador do caminho em que se extraviara lhe salvará a vida e fará desaparecer uma multidão de pecados” (Tg5:20).

Jesus Cristo, justamente por ser a “manifestação do Amor de Deus entre nós” (1Jo4:9), o Amor de Deus encarnado portanto, foi especialmente severo para com as criaturas cerebrinas de sua época. Ele, que cumpria integralmente a Vontade do Pai, nem poderia ter agido de modo diferente, e afirmou expressamente: “Eu vim trazer fogo à Terra” (Lc12:49). Jesus chegou até mesmo a advertir que “não viera trazer paz à Terra, mas a espada” (Mt10:34), como sinal da atuação simultânea do Amor com a Justiça divina, pois é sabido que “se o homem não se converter, afiará Deus a Sua espada” (Sl7:12).

A conduta de Jesus frente aos seres humanos estava muito longe da imagem distorcida que se tem dele hoje em dia: a de um Messias brando, condescendente, procurando-se ver nisso uma prova da atuação do Amor divino. Quantas vezes ele não rebateu severa e corajosamente os ataques daquela súcia de fariseus e saduceus, que tinham ao seu lado o poder terrenal? O capítulo 23 do Evangelho de Mateus traz nada menos que sete “Ai de vós!” contra a hipocrisia deles, além dessa duríssima acusação do Mestre: “Serpentes! Víboras que sois! Como escapareis da condenação ao inferno?” (Mt23:33). O evangelista Marcos diz que Jesus passou sobre o fariseus “um olhar irado pela dureza de seus corações” (Mc3:5).

E também não expulsou Jesus os cambistas (1) e vendilhões do Templo, chamando todo aquele bando de “covil de salteadores”? (cf. Mt21:13; Mc11:17; Lc19:46). E quantas vezes ele não repreendeu duramente seus próprios discípulos? Admoestava-os por serem medrosos e terem o coração endurecido (cf. Mc4:40;8:17), indignava-se com eles (cf. Mc10:14) e chegou até mesmo a lamentar abertamente ter de estar junto deles: “Até quando estarei eu junto de vós e terei de vos suportar?” (Lc9:41). Aos discípulos ainda coube a mesma severa advertência sobre não agir segundo seus ensinamentos: “Por que me chamais Senhor! Senhor! e não fazeis o que eu digo?” (Lc6:46). Jesus sempre exigiu deles que o tomassem como exemplo de atuação: “Dei-vos exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais também” (Jo13:15). Por fim, os discípulos foram arrancados rudemente de sua inércia espiritual ao ouvirem de Jesus que todos eles estavam na iminência de cair… (cf. Mc14:27). Sobre essa iminência de queda, é muito significativo que, por três vezes, Jesus tenha encontrado seus discípulos dormindo próximo ao jardim do Getsêmani, apesar de lhes ter ordenado expressamente que vigiassem (cf. Mt26:36-45). “Ainda dormis e descansais?” (Mt26:45), perguntou rudemente da última vez.

A Palavra de Jesus era severa, dura, a ponto de alguns discípulos acharem que não poderiam suportá-la: “Esta Palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo6:60). E quando surgiram defecções, quando “muitos discípulos o abandonaram e não mais andavam com ele” (Jo6:66), Jesus não lamentou o fato absolutamente, e até perguntou se os que tinham ficado também não queriam ir embora: “Não quereis também vós partir?” (Jo6:67), perguntou simplesmente.

O apóstolo Paulo sabia muito bem que a Palavra de Jesus era bastante severa, e conhecedor da natureza humana, anteviu um tempo em que a legítima doutrina de Cristo seria adulterada, para se ajustar à indolência espiritual das pessoas: “Virão tempos em que a sã doutrina não será aceita, mas as pessoas acumularão mestres que lhe encham os próprios ouvidos, de acordo com os próprios desejos. Desviarão os ouvidos da Verdade e divagarão ao sabor de fábulas” (2Tm4:3,4). E o apóstolo Pedro complementa: “Muitos hão de segui-los na sua libertinagem e, por causa deles, o caminho da Verdade será blasfemado; movidos pela cobiça, hão de explorar-vos com palavras enganadoras” (2Pe2:2,3).

Será bom ressaltar aqui que a reprodução escrita das supostas palavras proferidas por Jesus nunca podem transmitir o tom de severidade com que ele as pronunciou. Conforme explica o pesquisador Jack Goody em seu livro sobre a interface entre o oral e o escrito, “a reprodução escrita usa muito mais formas declarativas e subjuntivas do que interrogativas, imperativas e exclamativas.” Ou seja, o tom imperativo, severo, de um discurso oral nunca é adequadamente retransmitido numa reprodução escrita. Acrescente-se a essa constatação o esforço dos evangelistas e copistas em repassar para a posteridade uma imagem terna (na acepção deles) de Jesus, confundindo amabilidade com moleza e fundindo serenidade com leniência. Isso tudo levou à idéia absolutamente errônea de uma fraqueza do Filho de Deus diante dos seres humanos.

Existe um documento de quase dois mil anos que traz uma descrição de Jesus. Trata-se da carta de um romano, Publius Lentulus, ao imperador Tibério. Diz Publius sobre Jesus na carta: “É um homem alto, bem proporcionado, com um ar de severidade em seu semblante que atrai de imediato o amor e a reverência dos que o vêem.” Sim, um ar de severidade que nunca contemporizou com a preguiça espiritual da humanidade.

O fato real é que Jesus jamais mendigou a benevolência dos seres humanos, jamais lhes suplicou que aceitassem seus ensinamentos, que consentissem em serem salvos. Muito, mas muito pelo contrário. Ele exigiu, sim, e com a máxima severidade, o cumprimento integral de sua Palavra, como condição primordial para a possibilidade de obtenção da própria salvação. “Falava abertamente” (Jo7:26) às pessoas, com plena segurança, explicando-lhes como tinham de viver, ciente que estava de sua origem e missão. As multidões percebiam essa sua firmeza, essa sua autoridade, e nem por isso deixavam de ouvi-lo, ao contrário, “o povo todo ficava fascinado ao ouvi-lo falar” (Lc19:48):

“Estavam as multidões maravilhadas de sua doutrina, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.”

(Mt7:28,29)

Até os guardas enviados pelos sacerdotes e fariseus para prender Jesus reconheceram que “nunca homem algum falou como ele” (Jo7:46). Claro que não. Tudo quanto Jesus falava era completamente diferente do que as pessoas estavam acostumadas a escutar, pois ele era a própria Verdade encarnada, e os seres humanos vinham se afogando em mentiras religiosas há séculos, docemente sussurradas em seus ouvidos. Daí a severidade implacável do Filho de Deus, como único auxílio possível àquela massa inerte. Especialmente no tocante aos líderes religiosos, ele nunca procurou por panos quentes em nada. Nunca fez uso das interpretações usuais das Escrituras de seu tempo, porque essas de nada lhe poderiam servir, já que totalmente erradas, porque cômodas para o espírito humano. Exatamente como se dá hoje em relação aos seus ensinamentos.

Jesus ainda falou bem nítida e severamente do tempo do Juízo, da “Ira que está para vir” (Lc3:7), dos “dias que são de vingança” (Lc21:22), da “miséria e cólera contra este povo” (cf. Lc21:23), do “inferno de fogo” (Mt5:22) para os que lançam insultos, e ainda avisou que para quem for causa de pecado do próximo “melhor lhe fora ser lançado ao mar com uma pedra de moinho enfiada no pescoço” (Lc17:2). E quando alguns de seus ouvintes começaram a comentar entre si sobre os galileus supliciados por Pilatos, ele logo os cortou asperamente, avisando que, se não se arrependessem, pereceriam todos da mesma forma como os que haviam sido mortos pelo prefeito romano e os soterrados pela torre de Siloé (cf. Lc13:1-5).

Jesus, o Portador da Verdade, nunca manifestou a mínima complacência com o mal. Nunca deixou de exortar com rigor seus ouvintes, nunca alisou o ego de ninguém nem procurou aliciar quem quer que fosse, e chegou mesmo a instruir bem claramente seus discípulos quanto a isso:

“Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas e clamai: Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós outros.”

(Lc10:10,11; Mc6:11)

Paulo, mais uma vez, parece ter compreendido muito bem a íntima conexão entre o verdadeiro amor e a severidade, conforme se depreende desse trecho de sua Epístola aos Romanos:

“Considerais, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, a severidade; mas para contigo a bondade de Deus, se nela permanecerdes; doutra sorte também tu serás cortado.”

(Rm11:22)

Tanto a bondade como a severidade provêm do mesmo verdadeiro amor. O ser humano é atingido em maior ou menor grau por uma ou por outra, dependendo de como se porta em face das leis de Deus. Aos que caíram, a severidade, para que reconheçam rapidamente seu erro e reencontrem o caminho da ascensão, a fim de poderem alcançar a bem-aventurança. Os que se mantêm no caminho certo recebem, por efeito da reciprocidade, as bênçãos provenientes da bondade do Criador. Isso, desde que permaneçam nesse caminho certo, caso contrário também eles serão cortados, isto é, serão igualmente atingidos pela severidade implacável e justa da reciprocidade, para seu próprio bem, para que escapem da morte espiritual, retomem o caminho certo e alcancem um dia o estágio evolutivo onde reina apenas alegria e felicidade. Vemos que o salmista louva o Senhor pelo castigo recebido, que o livrou da morte eterna: “Yahweh me castigou e castigou, mas não me entregou à morte!” (Sl118:18). O autor do segundo livro dos Macabeus deixou esse ensinamento consignado, ao esclarecer as causas do imenso infortúnio sofrido pelo povo hebreu nas mãos do opressor sírio: “Aos que estiverem defrontando-se com esse livro, gostaria de exortar que não se desconcertem diante de tais calamidades, mas pensem antes que esses castigos não sucederam para a ruína, mas para a correção da nossa gente” (2Mc6:12).

O apóstolo Paulo também não foi menos severo com os judeus da cidade de Corinto:

“Diante da oposição e das injúrias deles, Paulo sacudiu as vestes e lhes declarou: ‘Que o vosso sangue caia sobre vossa cabeça!’”

(At18:6)

A expressão “que o sangue caia sobre vossa cabeça”, muito comum entre os israelitas daquele tempo, significava literalmente: sois os únicos responsáveis pelo que vos acontecer! Não deixa de ser um reconhecimento implícito da atuação da Lei da Reciprocidade.

Em relação à cidade de Jerusalém, que matava os profetas e apedrejava os enviados, Jesus avisou severamente que, devido a isso e por ter rejeitado seu amor auxiliador, seria simplesmente abandonada por ele, como uma casa deserta:

“Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas não quiseste! Pois bem! Vossa casa será deixada deserta.”

(Mt23:37,38)

No Evangelho segundo Mateus, Jesus reage à descrença dos que, mesmo testemunhando seus milagres, não crêem nele e na sua missão, e que por isso não modificam sua errônea sintonia interior. Ele passa então a increpar, isto é, a repreender com extrema severidade, a admoestar com a máxima energia:

“Passou então Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido.”

(Mt11:20)

O que Jesus antevê aí para a população das cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, está muito longe da idéia de um Amor mole e condescendente, que tudo perdoa arbitrariamente:

“Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. (2) E contudo vos digo: No Dia do Juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outros. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, por ventura, até o céu? Descerás até o inferno, porque se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até o dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá no Dia do Juízo para com a terra de Sodoma, do que para contigo.”

(Mt11:21-24)

  1. Muita gente se pergunta o que cambistas estariam fazendo no átrio do Templo de Jerusalém. O que acontecia é que os sacerdotes decretaram que o pagamento do tributo anual ao Templo tinha de ser feito em moedas da mais pura prata, e para tanto apenas as moedas cunhadas na cidade de Tiro eram aceitas. Daí a necessidade dos cambistas, para trocar as várias moedas em circulação no Império pela única autorizada. A taxa de conversão dependia bastante da vontade dos cambistas, que naturalmente aproveitavam a ocasião para forrar os bolsos. Dos vendilhões, os peregrinos compravam pombas para a oferenda do sacrifico. Foi contra essas negociações dentro da área do Templo que Jesus se insurgiu. Retornar
  2. O pano de saco era um tecido áspero, escuro, feito de pele de cabra; cobrir-se com pano de saco e cinza era sinal de luto e penitência. Retornar