O RAIAR DE UM NOVO DIA

J. Nivaldo Alvarez

“Navegando” pelas “memórias” dos acontecimentos de minha vida, deparei-me com uma pasta contendo um escrito, onde registrei, simbolicamente, o momento do encontro de meu caminho espiritual. Transcrevo-o, pois foi um momento de felicidade que perdura até hoje.

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Cansado de viver na escuridão da noite, onde não me fora dado conhecer as razões de minha existência aqui na Terra, saio à procura do raiar do dia, à procura de algo que me falta e que me possibilite conhecer as leis da Criação, e viver de acordo com elas.

É fácil, penso eu. É só perguntar à primeira pessoa que encontrar e ela me ensinará como proceder.

Mas as pessoas que encontro caminham todas de cabeça baixa, tristes, com passos incertos e sem direção. Passam por mim e não me vêem. Deve ser a escuridão, ou então, elas também estão procurando. Portanto, não poderão auxiliar-me.

Sigo para frente. Ouço o vozerio de um grupo que se aproxima. Ainda não vejo os seus componentes, mas ouço suas vozes; estão cantando; estão alegres. Serão eles, então, que me darão as informações de que necessito. Passam por mim e também não me vêem! Não importa. É só seguí-los, que certamente encontrarei o que procuro. Mas, oh! A escuridão é tamanha que não vejo logo se tratar de um cordão carnavalesco!

Preocupo-me! A busca não está sendo tão fácil como eu, de início, supusera.

Outro grupo de pessoas se aproxima; as pessoas conversam animadamente; não estão cantando; estas não são carnavalescas, estas me proporcionarão o saber de que necessito. Vou seguí-las. Diversos grupos vindos de diferentes direções caminham no mesmo sentido, rumo a um enorme edifício, todo iluminado, que deve ser um templo. Que satisfação! Finalmente vou encontrar aquilo que procuro! Uma voz tonitruante, porém, ribomba em meus ouvidos: “tão cego estás que já não distingues um templo de um estádio de futebol? Que pretendes ali encontrar? Apenas divertimento material?”.

Desespero-me! Não é possível! Alguém, em algum lugar, deverá ensinar-me o caminho que procuro!

Entretanto, na maratona do meu desespero, que encontro? Milhares de templos erigidos a uma infinidade de “deuses”, aos quais os homens se subordinam, esquecendo-se do único e verdadeiro DEUS. Nesses templos só habitam monstros das trevas, que somente conseguem permanecer, dado o culto que a humanidade lhes devota. Não é isso o que procuro. Fujo. E os monstros me perseguem. Corro desesperado, até cair exausto.

Não sei quanto corri, nem onde estou. Entretanto, não ouço mais o barulho infernal que quase já me ensurdecia. Abro os olhos e percebo que estou longe daquele antro tenebroso. Ainda é noite. Ainda está escuro. É já, porém, uma escuridão agradável - onde o vento se faz ouvir por entre as árvores, e os insetos entoam a sua sinfonia noturna - prenunciando um alvorecer bem próximo. Sinto já um pouco de alegria.

De repente, raios de sol aparecem ao longe, iluminando uma estrada onde uma multidão caminha silenciosa. E para lá me dirijo.

Fico afastado, observando. Os caminhantes, silenciosos, trazem nos lábios o sorriso da felicidade; e seus olhos refletem a alegria interior que os domina. Já sou feliz na contemplação desse espetáculo! Mas, alguém me vê e me convida para integrar o grupo. Que ventura! Já estou caminhando ao seu lado. Anseio por perguntar, mas me calo, pois a magnitude daquele silêncio, que já é um bálsamo para meu espírito cansado de tanta procura, me diz que estou no caminho certo.

Eis que alguém, sentindo a minha ânsia de saber, de mim se aproxima e me entrega um livro: Mensagem do Graal. Ao simples toque de minha mão, sinto que ali encontrarei as respostas para todas as perguntas que venho formulando durante todo o meu viver, e que até agora têm ficado sem respostas. Sinto que ali se contêm os ensinamentos através dos quais a humanidade poderá conduzir-se na direção da LUZ.

Nesse instante, elevo uma silenciosa prece de agradecimento ao Criador, pela oportunidade que me é dada de reencontrar o caminho perdido, nesta manhã luminosa que representa para mim “o raiar de um novo dia”.

Dizem que felicidade não existe, e sim somente momentos felizes. Mas alguns desses momentos felizes podem se tornar perenes, quando vivenciados intensamente, atingindo o espírito ansioso por despertar.