A ARTE DE PROTEGER
(28/08/2005)

Maria de Fátima Seehagen

“Quando as pessoas perguntam a si próprias como podem educar de modo certo seus filhos, elas devem observar em primeiro lugar a criança, e se orientarem correspondentemente.”

(Abdruschin - Na Luz da Verdade, dissertação "A Criança")

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Naturalmente, os nossos leitores haverão de concordar que toda forma de violência é inaceitável. O que dizer então da violência contra a criança? Tanto pior! E o que devemos pensar quando constatamos que, no Brasil, pais, avós, tios e irmãos são os autores de 34,4% dos homicídios infantis?

Uma realidade aterradora!

Tão perverso, quanto os homicídios, o abuso sexual acarreta outro tipo de morte: a morte da infância, a morte da inocência e, para muitos que não encontram o apoio necessário nestes casos, a morte do resto das suas vidas. Mais comum do que se acredita, ele acontece em família, independente das classes sociais, acarretando fortes traumas, na maioria das vezes, irreversíveis. E, indubitavelmente, as meninas são mais agredidas do que os meninos.

Frente a estes números que revelam um problema de saúde coletiva, sentimos a necessidade de iniciar um trabalho de conscientização que ajude, se não a solucionar, mas pelo menos a minorar o problema.

A mídia ocupa nisto tudo um papel de dualidade: ao mesmo tempo, que é uma grande aliada na divulgação de campanhas contra esta violência, também a alimenta.

A psicóloga Sheila Reis, em sua dissertação de mestrado - Sobra TV ou Falta Família? Os Programas Infantis da TV e a Formação Sexual das Crianças - coloca com muita propriedade:

“…as crianças – bem mais que os adultos, os jovens, adolescentes, e idosos – estariam vulneráveis aos estímulos e mensagens eróticos e sexuais, muitas vezes exagerados, que aparecem na TV. Esses estímulos seriam, certamente, “impróprios para o consumo infantil” (que, nem por isso, conseguiria ficar insensível) e estariam induzindo as crianças a “macaquear” danças e movimentos corporais de forte apelo sexual, numa etapa da vida em que elas não são capazes de avaliar e/ou defender-se da eventual sedução ou atração sexual que possam provocar.”

A este “macaquear”, que entendemos por “imitar”, podemos também acrescentar a maneira sensual com que muitas mães vestem suas filhas, como se fossem suas bonecas, miniaturas de mulheres, cópias dos sonhos vendidos nas telas de tv… - Não, crianças não são bonecas… Crianças não são mulheres… Crianças são crianças. - Como mães, temos a obrigação de entender isto e não forçar um desenvolvimento precoce do que virá naturalmente, na idade em que o corpo estiver maduro e responsável.

Vestir nossas crianças, como crianças que são, abrir espaço para brincadeiras sadias, escolher cuidadosamente a programação de tv à qual a criança terá acesso, preparar, em cada criança, o adulto forte e íntegro que ela merece aprender a ser. Atos tão simples e tão urgentemente necessários, dos quais, certamente, toda mãe é capaz.

Vamos devolver a infância às nossas crianças. Não nos cabe rouba-la, mas desenvolver a arte de protege-la.