MULHER
(29/03/2006)

Tatiana Nascimento Silva

imagem

A mulher que antes vivia restrita, ou melhor, aprisionada ao lar, atualmente é livre para ser quem e o que quiser. Ela pode ter a profissão que bem entender, votar, escolher se vai engravidar ou não, decidir quando, com quem e se irá casar, enfim ditar os rumos de sua própria vida. Por que então a mulher não consegue se sentir completa em suas escolhas? As que se dedicam à família aspiram por novos mundos, por desempenhar um papel em que sejam mais valorizadas, enquanto que as bem sucedidas profissionalmente sonham com um grande amor, ou em constituir uma família, com quem possam dividir o sucesso. Aquelas que possuem família e carreira reclamam do cansaço, do estresse, do insucesso em equilibrar ambos os mundos.

Os exemplos e as possibilidades da insatisfação são muitos, mas o ponto de convergência é um só: a mulher não consegue se encontrar, não sabe ao certo o seu papel nesse mundo novo e transformado e procura a felicidade nas exterioridades. A felicidade pode estar num casamento, como nos contos de fada de sua infância, pode estar na independência financeira, nos olhares cobiçosos dos homens, numa vida dedicada ao auxílio do próximo, na maternidade, na esperança de se igualar ao homem… Embora os "possíveis" caminhos sejam inúmeros, elas estão indecisas, sem saber para que lado pender.

A mulher de hoje não sabe o que é ser mulher. Enquanto os homens se realizam nas suas atividades e no alcance de suas aspirações (sobrevivência, diversão, obtenção de uma companheira, proteção de seu território, ânsia pelo saber e, em alguns casos, por um despertar espiritual), as mulheres estão sempre em busca de algo mais, sentem até saudades sem saber ao certo do quê. Às vezes, este saudosismo as remete à infância, quando "ser menina" era algo mais claro e o atuar feminino lhes era muito natural: o carinho inerente pela natureza e pelos animais, a inclinação pelas atividades mais delicadas e a postura mais observadora faziam parte da sua essência e traziam-lhes alegria no viver.

No entanto, a menina aprende que para crescer, deve abandonar "hábitos infantis", deve endurecer se quiser competir em pé de igualdade com o homem ou simplesmente se deseja ser respeitada pelos outros, deve ser submissa aos caprichos do marido às vontades dos filhos, na esperança de ser uma "boa" mãe e esposa, deve também ser escrava dos modismos para se fazer notar. O que as meninas crescidas não sabem é que elas nunca serão bem sucedidas agindo de maneira estranha à sua própria espécie. É sabido que com toda a tecnologia do mundo, um ser humano nunca estará habilitado a nadar tão bem quanto os peixes, da mesma forma que uma águia apesar de ser extremamente veloz nos céus, nunca terá a mesma desenvoltura em uma corrida.

Seguindo este mesmo raciocínio, não pode ser vantajoso a uma mulher querer se igualar a um homem nas faculdades e costumes que são de natureza masculina: ela nunca poderá superá-lo, pois não foi aparelhada para tal. Ser submissa como um animal doméstico, também não lhe trará proveito algum, pois ela é constituída de vontade e, como todo ser humano, necessita de espaço para crescer e se desenvolver enquanto indivíduo. Reduzir-se a mero objeto de desejo masculino e de inveja de outras mulheres, traz-lhe vazio e desespero, ao perceber que seu corpo perecerá com o avançar dos anos e nada valioso lhe restará de fato. Cabe à mulher se valorizar, perceber que é de natureza mais delicada, mais intuitiva, mais compenetrada. Diplomacia, sensibilidade e senso de preservação são características inerentes ao ser feminino, mas que estão adormecidas e esquecidas na maioria das mulheres. A feminilidade pura deu lugar a uma completa perda de identidade feminina.

As poucas mulheres que agem conforme a sua espécie, têm grande destaque, seja qual for a sua área de atuação. Administrando grandes corporações, coordenando uma família e um lar, dedicando-se a uma ONG, realizando atividades no meio acadêmico, não importa o que estejam fazendo, as mulheres que ainda valorizam a feminilidade conseguem resultados positivos, são extremamente respeitadas e sentem-se realizadas. É seguindo a sua intuição para tomar as decisões e desenvolvendo a sua percepção mais fina do mundo, que elas se fazem notar. As habilidades de intuir soluções, de enxergar além das exterioridades e de melhorar o ambiente ao seu redor, com uma postura firme e ao mesmo tempo delicada e compreensiva, fazem parte do universo feminino, embora a mulher de hoje esteja tão brutalizada e cega a ponto de não mais poder perceber o que, na verdade é o óbvio. A ilusão de que os atributos físicos femininos são um meio de se obter vantagens e representam uma bem de grande valia para aquelas que são dotadas dos mesmos, é só mais uma prova deste embrutecimento, que não permite enxergar o quão perecíveis são esses "bens valiosos" que transformam a mulher em “coisa” e a fazem escrava de si mesmo.

A humanidade presencia grandes transformações de hábitos e de costumes, mas a renovação verdadeira para as mulheres deve ser a redescoberta da feminilidade, para que possam ter um viver mais natural e mais coerente com sua espécie. Elas passarão a se sentir mais confortáveis na própria pele, pois não mais tentarão se conformar a uma realidade que lhes é estranha. A partir de então, estarão enxergando e vivendo neste mundo de maneira adequada, como mulheres que são, dotadas de qualidades únicas. O escritor Abdruschin, no livro “Na Luz da Verdade”, define de maneira belíssima o atuar feminino verdadeiro: “Cada expressão do rosto, cada movimento, cada palavra deve trazer na feminilidade, o cunho de sua nobreza de alma! Nisso reside sua missão e também seu poder e sua grandeza!”.

A angústia da mulher moderna reside na rejeição de sua própria identidade e na supressão de seus dons. Homens e mulheres são diferentes, cada um com suas aptidões em complementaridade, assim se torna indispensável que as mulheres reassumam o seu papel, de modo a proporcionar o equilíbrio tão necessário às atividades humanas: de um lado o atuar mais incisivo e direto do universo masculino, e do outro, a graça e o atuar intuitivo da feminilidade. A mulher deve resgatar a beleza de ser feminina. “A graça faz a mulher! Só ela traz em si a verdadeira beleza para cada idade, para cada forma corpórea, pois torna tudo belo, visto ser a manifestação de um espírito puro, no qual se encontra a sua origem!”, diz Abdruschin.