CULTO ÀS PESSOAS
(26/01/2008)

Richard Zajaczkowski

A necessidade de fortalecer a personalidade própria.

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”Conhecida celebridade causou o maior auê ontem em Curitiba. No final da manhã a Boca Maldita praticamente parou, atraindo uma multidão à banca onde atendeu o público. Após o almoço, a cena se repetiu na banca do Ghignone do Shopping Crystal“.

A fila começava na Comendador Araújo, a uma quadra do Shopping. Nem todo o mundo conseguiu ser atendido. Na fila podiam se ver adolescentes, crianças e adultos, tanto homens quanto mulheres.”

Essa notícia foi veiculada há alguns meses num dos jornais da capital. Que coisa mais absurda as pessoas correrem atrás de outras somente porque elas são bastante conhecidas e famosas. Que valor perene alguém possa ter, obtendo de uma pessoa célebre, um autógrafo, ou um objeto pessoal.

Nós mesmos somos exemplos, pois temos um autógrafo do nada mais nada menos insigne oceanógrafo Jacques Costeau. E que valia isso nos trouxe? Na verdade, nenhuma. No fundo, não passa de um papel com uma assinatura quase ilegível.

As pessoas famosas, para as quais não passamos de meros desconhecidos e para quem nem existimos, pois elas não nos conhecem, são seres humanos como quaisquer outros. Fora de suas ocupações são indivíduos como todos nós.

Por isso, merecem respeito com relação à sua vida privada, ou seja, se caminham pelas ruas como qualquer cidadão, é preciso respeitar o seu direito à locomoção. Todavia, acontece o contrário: hordas de fãs fanáticos invadem o recinto onde a pessoa se encontra, causando tumulto e transtornos.

Interessante é observar que esses admiradores celerados – não no sentido perverso da palavra, mas no indicativo de perturbar, de incomodar, ser inconveniente, chato – movidos pelo fator egoístico somente pensam na fútil lembrança que possam ganhar da pessoa famosa.

Souvenir que com o passar dos anos, quem deu não se recorda de nada. Quem recebeu, fica apenas uma nostalgia oca que não preenche as reais necessidades do corpo e da alma. Tem apenas valor sentimental, cujo lucro espiritual é um zero à esquerda.

Gostaríamos que as pessoas usassem a imaginação e apenas por um dia se colocassem no lugar de alguém de fama, para sentir na própria pele o que é ser assediado a ponto de não poder andar pela rua, tomar um sorvete, comprar um livro ou ir a algum parque, sem ser molestado com autógrafos ou coisas do gênero.

Além daqueles fãs que perturbam fisicamente, há também os que idolatram a pessoa famosa, comportando-se tal qual, seja no uso de roupas ou de idéias a cerca de determinados assuntos na sociedade. Eles compõem o que chamamos de carrossel do lema “maria-vai-com-as-outras.”

São seres humanos destituídos do livre-arbítrio de pensamento, ou seja, não possuem opinião própria (mas se a tem, preferem as facilidades do comodismo), que os possa libertar do jugo das verdades hipócritas de seus semelhantes.

Somente por que um ator nacionalmente conhecido se veste dessa ou daquela maneira, diz isso ou aquilo, não quer dizer que esse comportamento social está totalmente certo e deva por isso ser imitado.

Toda imitação no fundo é boa, mas também possui seus limites. É quando devemos antes verificar se ao imitarmos alguém, isso nos traz algum proveito, que seja mais anímico-espiritual do que corpóreo-material.

Moral da história: quem gosta de seguir opiniões e idéias de outrens, jamais terá uma personalidade própria, pois acabará formando uma colcha de retalhos de comportamentos bizarros.