Aprendendo com os Erros
(30/09/2006)

Meu falecido pai ensinou a mim, e aos meus irmãos, desde cedo, que só existem duas maneiras de se aprender: escutando os mais velhos ou “dando com a cabeça na parede”.

E ele tinha razão. Quantas e quantas vezes erramos enquanto crescemos. Durante nossa infância os pais falam: “isto está certo” ou “não faça isto porque é errado”. Ao chegar à adolescência, tornamo-nos “rebeldes sem causa”, filhos de pais “caretas” e estabelecemos nossos valores e princípios junto com a “galera”.

Nossa infância e nossa adolescência representam a “idade do erro”, aquela fase da vida onde errar é preciso para que, ao nos tornarmos adultos, estes mesmos erros não sejam novamente cometidos. A curiosidade, o gosto pelo desconhecido, a aventura por coisas novas tornam-se, nesta fase da vida, um manancial de escolhas erradas que, ao mesmo tempo, representam uma fonte inesgotável de aprendizado.

E isto está errado?

Não, claro que não. Quando Deus criou os animais, dotou-os de instintos que lhe garantiriam sua sobrevivência. Mas ao homem foi-lhe dado algo mais que instintos: a capacidade de pensar, aprender e fazer escolhas. Certas ou erradas, nossas escolhas sempre nos ensinam algo, inclusive a errar.

Errar é fundamental para se adquirir “experiência de vida”; isto é parte do nosso crescimento como seres humanos. E é esta “experiência de vida” e este “crescimento” que tentaremos passar aos nossos filhos e outros jovens como um caminho, uma opção do que poderá ser melhor para eles. Mas sempre tendo em mente que a decisão final caberá a eles. Como pais e educadores, só poderemos torcer para que escolham o melhor.

Deixe-me contar-lhes um pequeno conto.

Em plena selva africana, um feiticeiro conduz seu aprendiz por caminhos tortuosos com o intuito de ensinar-lhe sobre os erros da vida. Embora mais velho, caminhava com agilidade, enquanto o aprendiz escorregava e caía a todo instante. A cada tombo, blasfemava, xingava, cuspia no chão, amaldiçoava o solo…

Depois de uma longa caminhada, e muitos tombos e xingamentos, chegam a seu destino onde, após um último tombo, o aprendiz reclama:

– Você não me ensinou nada.

– Ensinei, sim. Mas parece que você não aprendeu nada. Estou tentando lhe ensinar como lidar com os erros da vida.

– E como lidar com eles?

– Da mesma forma que você deveria lidar com seus tombos. Em vez de ficar blasfemando, amaldiçoando e xingando o lugar onde caiu, deveria procurar a causa dos seus tombos.


Ao nos fixarmos apenas no erro, perdemos uma oportunidade precisa de crescer e aprender, pois não paramos para avaliar os porquês, as causas, dos nossos erros. Infelizmente não temos o hábito de despender esforços para entendê-los e utiliza-los como uma ferramenta de aprendizado constante.

E aí atrasamos um pouco mais nosso conhecimento. O erro pode ser motivo de atraso de nossas vidas e fazer com que nossa “experiência de vida” fique estagnada e adormecida. Há quem afirma que experiência é o nome que podemos dar aos nossos erros.

Muitas vezes o erro (ou seria o resultado de uma escolha?) pode nos levar ao fundo do poço. Ficamos frustrados por aquilo que não deu certo, pelo objetivo não alcançado. E é isto que ficará na nossa memória, ma maioria dos casos.

Ruim? Não! Aí está o momento propício para um exame de consciência dos porquês deste resultado negativo e para procurar novos caminhos que nos levem a novas soluções.

Em casos extremos, o erro pode nos levar à depressão e ao desespero. Momento para se aprender algo mais: muitas vezes precisamos chegar ao fundo do abismo para iniciar o caminho de volta.

Com o passar dos anos, o ser humano pode não perceber o quanto ele segue aprendendo com seus erros passados. Mas, sem parar para uma reflexão mais profunda, ele poderá não ter respostas para perguntas simples, tais como: “consigo aceitar meus erros passados” ou “posso superar o remorso por ter errado?”

Mesmo assim, vivemos cometendo erros. “Errar é humano”, diz o ditado. Erramos nas escolhas de nossa vida pessoal e de nossa vida profissional. Erramos ao escolher um (a) namorado (a), uma atividade, um time para torcer… e por aí vai. Não esqueçamos que nosso viver é feito pelas nossas próprias escolhas. O que significa que somos responsáveis diretos pelos nossos erros.

Quem mandou não escolher direito? Quem mandou não pensar um pouco mais antes de dizer “sim” ou “não”? Quem mandou ter uma reação por impulso quando, naquele momento, a prudência seria a melhor escolha?

Para evitar erros (ou minimizá-los) devemos lembrar que:

A lista abaixo poderia ser bem maior mas acredito que as sugestões descritas poderão não evitar, mas diminuir as probabilidades de se errar:

Os Quatro “H”s

Isto se aplica quando você errou. Procure aplicar estes quatro Hs para que os erros não mais voltem a ocorrer:

O ideal é tirarmos lições quando cometemos erros e aprender com isto. Devemos impor a nós mesmos o desafio de superar e eliminar de nossas vidas os erros velhos. Por outro lado, devemos saudar os erros novos porque serão fonte de um novo e constante aprendizado e aprimoramento.

Convido-os a fazer uma reflexão com estas três frases:

“Permitam-me o direito de errar. Ainda tenho muito a aprender.” (Marcial A. Salaverry)

“O único erro de verdade é aquele com o qual não aprendemos nada.” (John Powell)

“O único homem que não erra é aquele que nunca fez nada.” (Franklin Roosevelt)

E nunca esqueça: errar é humano. Aprender com o erro é sabedoria.