Educação Contínua ou Morte
(11/10/2006)

Há vinte ou trinta anos atrás, o tratamento odontológico ainda representava algo causador de dores, medos e fobias, mesmo que o dentista fosse um habilidoso e simpático profissional.

Se, ao se lembrar disso, um “friozinho” lhe passou pela barriga, certamente seu dentista é outro. Sua preferência, hoje, recai em um profissional mais atualizado, mais habilitado e que oferece uma gama maior de procedimentos que venham preencher suas expectativas.

Assim caminha a Odontologia e todas as outras profissões. Neste início de século XXI, atual era do Conhecimento, mudanças e mutações ocorrem em períodos de tempo curtíssimos onde tudo, coisas e pessoas, tornam-se obsoletas de um dia para o outro.

As indústrias de telefones celulares e computadores são exemplos típicos destas transformações. Com relação ao Ser Humano, há quem afirme que ele possui apenas três idades: infância, adolescência e obsolescência.

Entretanto, o que traz um alento a este estado de coisas é que o Ser Humano tem uma forma para não se tornar obsoleto: a educação ou aprendizado contínuos.

A educação contínua é definida como qualquer atividade que objetive provocar uma mudança de atitudes e/ou comportamentos a partir da aquisição de novos conhecimentos e conceitos. Estes, tanto de natureza teórica como prática, são encarados como uma forma de preencher lacunas derivadas do sistema de ensino ou como uma atividade fundamental para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.

No século passado, desde a década de 50, a educação contínua vem tomando diferentes conotações. Naquela época, já tinha como objetivo “ajustar-se a um mundo novo em mutação”. Na década de 60, é levada para dentro das corporações objetivando a contínua atualização de seus colaboradores.

A década de 70 é caracterizada por uma tomada de consciência onde o homem se educa a partir da realidade que o cerca e em interação com os outros, pensamento este incorporado na sociedade a partir da década seguinte.

Educação, de acordo com o consultor Carlos Alberto Júlio, deve ser entendida como “a possibilidade de saber o suficiente para decidir, continuar a assimilar novas tecnologias e entender novos comportamentos.” Ainda, de acordo com o mesmo consultor, a palavra educar deriva do grego duc, conduzir, e o e (reflexivo) indica que educar significa, acima de tudo, o ato de se autoconduzir. Nesta ordem de idéias, o prefixo auto nos leva, inexoravelmente, a dois outros vocábulos: autoconhecimento e autodesenvolvimento.

Neste cenário de mudanças rápidas e globais, ao se autoconduzir, o Ser Humano está, na verdade, assumindo seu destino como pessoa e como profissional, tornando-se o responsável direto sobre ele.

Desta forma, a primeira coisa a ser feita é abandonar de vez o hábito de ficar cantando “Nana, neném, que a cuca vem pegar…” pelo resto de nossas vidas e esperando o aplauso de nossos pais, tios e avós. Acreditar que o sucesso de hoje irá garantir o sucesso futuro é se iludir de uma forma bem realista.

A educação contínua produz mudanças no viver das pessoas. Além de permitir que se faça sempre melhor, gera mudanças também na sua forma de pensar e agir, levando-as a participar do futuro a partir do presente. Para P. Goguelin, “a educação contínua não é apenas transmissão de conhecimentos científicos, mas, também, de atitudes em relação à utilização destes conhecimentos”.

Portanto, caro leitor ou leitora, é chegada o momento de fazer uma análise sincera de si mesmo (a) como pessoa e como profissional. E, sem qualquer sombra de dúvida, você perceberá que “ninguém nunca está completamente pronto para responder aos desafios de um mundo acelerado”, como afirma o consultor Simon Franco.

Não importa se, no seu passado, você foi uma criança “de futuro” ou um adulto brilhante. Se você não evoluiu, tornou-se obsoleto (a). E certamente seu caminho futuro será aquele das recordações e dos suspiros, exclamando sempre “como foram bons aqueles tempos”.

As experiências passadas não devem ser abandonadas, pois delas serão as lições para que os mesmos erros não sejam cometidos. Daí ser a educação contínua o meio para se autoconhecer e se autodesenvolver, de forma a adquirir novas habilidades e uma nova maneira de ser, agir e pensar.

“As pessoas devem ser lembradas com mais frequência que precisam ser instruídas”, afirma Samuel Jackson. Somente assim elas estarão aptas a viver em um mundo de mudanças constantes, onde a globalização deixa de ser algo relacionado apenas ao mundo corporativo e empresarial para se tornar um desafio que nos atinge também como Seres Humanos. Se a globalização chegou às empresas e ao mundo dos negócios, chegou também até nós, os responsáveis diretos pelo sucesso das empresas e das corporações.

A educação contínua agrega conhecimentos e representa um desafio intelectual e social para os indivíduos por representar um constante processo de transformação e crescimento, de seu saber e de suas aptidões para julgar e agir.

Voltemos um pouco ao século 19. Mais precisamente no dia 7 de setembro de 1822, o então imperador D. Pedro I gritou:

“Independência ou morte” e livrou o Brasil do jugo português. Então, no dia de hoje, agora, já, grite “Educação contínua ou morte” e livre-se do viver no passado cantando “Nana, neném, que a cuca vem pegar…” ad eternum.

Tome uma atitude que lhe faça sair da sua zona de conforto em direção a um futuro onde você será único (a) e sem se esquecer que, em um mundo globalizado, o futuro é hoje.

Como cada um é dono do seu próprio destino, pode-se escolher entre “viver” e “morrer” neste mundo atual, cada vez menor e sem fronteiras e exigindo de cada um de nós mais conhecimentos, mais habilidades e mais atitudes. Ou, como nos mostra a mãe Natureza na sua simplicidade, seja na Botânica, seja na Agricultura: ou estamos verdes e crescendo ou estamos maduros e apodrecendo.

Pense como você vai querer estar daqui a cinco ou dez anos e faça sua escolha agora para que seu futuro lhe seja bem longo e sem obsolescência.

Espero, sinceramente, que você faça a escolha certa.