Andragogia nas Empresas
(19/10/2006)

A Andragogia, como afirmamos anteriormente, é a ciência e a arte da educação de adultos, possuindo características básicas totalmente diferentes da Pedagogia.

Fundamentalmente, o ensino é baseado na troca de experiências entre dois adultos, o que educa (facilitador) e o que é educado (aprendiz), sendo que ambos se empenham na solução de problemas daquilo que realmente necessitam saber para aplicar no seu dia-a-dia.

Kelvin Miller afirma que os adultos retêm apenas 10% do que ouvem após 72 horas, mas são capazes de lembrar de 85% do que ouvem, vêem e fazem após as mesmas 72 horas. O ouvir e fazer é um procedimento fundamental na aprendizagem dos adultos, visto que irão compreender melhor sua utilidade no enfrentamento dos seus problemas.

Apenas por curiosidade, vejamos os resultados de uma pesquisa realizada com quase 2000 executivos de todo o mundo quando perguntados com que idade imaginavam encerrar suas carreiras:

Esta mesma pesquisa também mostrou que cerca de 62% dos entrevistados mudaram seus planos e hoje irão trabalhar por mais tempo do que pensavam há três anos.

Estes números indicam que um contingente cada vez maior de pessoas não pretende parar de trabalhar mais cedo. E, como o mundo corporativo é um mundo em constante transformação, pode-se inferir que, à medida que as pessoas envelhecem e continuam trabalhando por mais tempo, maiores as oportunidades para seguir aprendendo de forma constante e contínua.

O homem, por sua própria natureza, pode continuar aprendendo durante toda a sua vida. E este aprender contínuo é que irá produzir modificações, mesmo em plena velhice, de suas crenças, costumes, hábitos e opiniões. Por isso os adultos possuem mais “experiência de vida” do que os mais jovens, tanto em número, como em diversidade.

Pessoas mais velhas, ao formarem grupos, mostram uma heterogeneidade ímpar no que diz respeito aos seus conhecimentos, interesses, necessidades, etc. Para o ensino andragógico, esta é uma oportunidade única visto que este grupo torna-se uma fonte viva para consultas e trocas de experiências. E tudo isso pode e deve ser explorado pelos membros do grupo através de discussões, simulações, apresentação de casos, etc., ou seja, aprendizagem baseada em problemas específicos.

Portanto, o papel do professor (facilitador) é fundamental. Ele necessita mostrar aos alunos (aprendizes) a importância do assunto e abordá-lo de forma entusiasta. Deve mostrar que aquilo é importante e que fará diferença em suas vidas, mudando-a para melhor tanto nos seus aspectos pessoais como profissionais.

No ensino andragógico, outro fator fundamental é a motivação. Especialmente nas corporações, a motivação é estimulada por fatores externos, como premiações, perspectivas de promoções, etc. Mas, a motivação mais marcante e intensa advém de estímulos internos, pois o adulto aprendiz terá mais satisfação pelo trabalho realizado, terá elevada sua auto-estima e, sem dúvida, melhorará sua qualidade de vida.

Entretanto, existem fatores que podem dificultar, ou mesmo impedir, o aprendizado dos adultos. Disponibilidade de tempo, acesso à bibliotecas, laboratórios, serviços,internet, etc., podem se constituir em fatores limitantes desta aprendizagem. Portanto, empresas que puderem disponibilizar estes itens certamente estarão contribuindo de forma significativa para o sucesso de todo o processo.

Alguns princípios básicos

De acordo com Ari B. de Oliveira, a Andragogia possui alguns princípios básicos:

Administração em RH

Muitas corporações, através de seus departamentos de RH, já estão se dando conta que uma gestão baseada em um modelo andragógico traz vantagens como: substituição do controle burocrático e hierárquico, maior comprometimento, elevação da auto-estima e aumento da responsabilidade e capacidade de seus colaboradores (sozinhos ou em grupos) alcançarem as soluções de seus problemas para um melhor desempenho de suas atividades.

Com esta conduta, os funcionários são estimulados em reuniões periódicas onde são discutidos os problemas, buscadas suas causas, pesquisadas as possíveis soluções a serem implantadas ou implementadas e, finalmente, reavaliadas a posteriori em intervalos periódicos.

E, será neste clima, que as pessoas buscarão, em suas próprias experiências e em outras fontes, a construção de um novo conhecimento para a solução de seus problemas.

Confronto de gerações

Existe uma tendência atual das corporações em selecionar colaboradores mais jovens, os quais, por seu desempenho, poderão assumir posições de chefia até antes de completar trinta anos de idade.

Embora os números indiquem que 41% dos cargos executivos seja formado por pessoas entre 46 e 55 anos, 7% deste contingente é representado por profissionais com idade entre 25 e 35 anos.

O que pode representar para estes jovens um salário maior e um outro tipo de status, também pode apresentar aspectos negativos no momento de liderar e de se relacionar com subordinados mais velhos. Por outro lado, pessoas mais velhas podem não se render a um chefe mais jovem, seja por preconceito, seja por rebeldia.

Neste tipo de situação, a pergunta é: como conviver de forma harmoniosa?

A resposta pode estar na Andragogia. Ou seja, o jovem, ousado e com novas idéias, seria o receptor das experiências dos mais velhos e estes, por sua vez, seriam os aprendizes do que de novo o mais jovem estaria trazendo para sua equipe.

“Um processo de ‘rejuvenescimento’ das corporações é, nos dias de hoje, algo palpável, visto que candidatos mais jovens irão produzir mais com um custo menor”, critica a Dra. Margarida Barreto. Já Beatriz Pinheiro acredita que “a mistura de idades é algo saudável e que o heterogêneo é mais rico”, enquanto a consultora Sofia Esteves do Amaral é de opinião que “a condução da equipe independe de quantos anos a pessoa tenha”.

O chefe, o líder, independentemente de sua idade deverá conquistar a confiança dos seus subordinados, procurar conhecer cada um, manter diálogos constantes com todos os membros da equipe e, todos juntos, estabelecerem os planos de ação requeridos.

Se o chefe mais jovem assumiu na semana passada, nada mais justo que os mais velhos devam lhe dar ciência de tudo o que for necessário para o bom desempenho e crescimento de toda a equipe. Já o mais jovem enriquecerá a equipe com novas idéias e novos desafios que também deverão ser compartilhados em busca de soluções e onde todos, equipe e empresa, lucrem em conjunto.

Para que isto ocorra de forma harmônica, a assertividade, a flexibilidade e a resiliência deverão ser desenvolvidas tanto no jovem líder como nos liderados mais velhos.

Aprender uns com os outros passa a ser a palavra de ordem nestes casos, independentemente do cargo e da idade de cada um dos membros da equipe. E esta relação constituir-se-á em um exemplo vivo da Andragogia.

Para isso, tenhamos sempre em mente o ensinamento de Erasmo de Rotterdam, filósofo holandês que viveu entre 1466 e 1536 e que afirmou: “o amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento”.