Tomando Decisões
(21/10/2006)

Decisões… Decisões… Decisões… Durante toda a nossa vida somos obrigados a tomar decisões.

Este processo se inicia quando acordamos (ficar ou não ficar um pouco mais na cama), passando pelas dúvidas de qual traje usar, qual o trajeto para ir ao trabalho se o trânsito estiver congestionado, etc.

Durante o dia somos forçados a tomar inúmeras decisões relativas ao bom desempenho de nossa atividade, sejam elas boas (onde aplicar o lucro daquela negociação?) ou ruins (ter que despedir um colega da equipe).

À noite, no retorno ao lar, ainda podemos ver televisão ou não, ler um livro ou a revista da semana, etc.

Enfim, exemplos diários não faltam.

Este processo começa a se tornar mais evidente na adolescência. Até esta fase da vida, os pais e professores é que decidem pelos filhos. A partir daí, o jovem começa a “andar com as próprias pernas”. Irá fazer um curso técnico ou superior? De que? Irá aprender outro idioma ou não? Em caso afirmativo, qual? Em qual escola?

Após a conclusão do curso escolhido, mais decisões precisam ser tomadas. Será empregado ou prestador de serviços? Terá seu próprio negócio ou não?

Muitas situações podem fornecer respostas prontas para determinados casos. Entretanto, existirão situações que vão requerer estudo e planejamento para uma decisão final. Outras, por outro lado, serão tomadas através da intuição, da sua voz interior, de insights, isto é, pelo poder de “enxergar” dentro da situação.

E, mesmo considerando todos estes aspectos, não saberemos se a decisão “definitiva” será mesmo definitiva em função das mudanças que ocorrem a todo momento seja em nossa vida pessoal ou familiar, seja em nossa vida profissional ou corporativa.

Roberto Shinyashiki distingue dois tipos de decisões:

Independentemente do tipo, ainda devemos estar preparados para vencer o medo e a indecisão de tomar a decisão.

De acordo com o Prof. Joseph Ferrari, de Chicago (EUA), “20% das pessoas ficam “travadas” na hora de decidir, isto é, além de não tomar a decisão, adiam-na ao máximo. São pessoas ansiosas, que vivem ocupadas mas, em realidade, sofrem para concluir algo que dependa de si mesma”.

Outras vezes, o medo pode não vir do ato de tomar a decisão em si, mas o medo de sofrer as consequências em função do fracasso de uma decisão errada.

Vencer os obstáculos e limitações na hora de decidir, sejam eles legais, administrativos, financeiros, etc.

Muitos são os obstáculos e as barreiras a serem ultrapassadas. Às vezes é a falta de recursos financeiros, outras é a legislação que foi alterada, e por aí vai. Inúmeros exemplos se enquadram neste item, como mudanças bruscas do mercado de trabalho, um casamento que, por qualquer razão, precisou ser antecipado ou adiado, etc.

Estar preparado e ciente que, após a decisão, e a consequente ação, a mesma poderá se mostrar errada ou equivocada, o que vai gerar outras decisões para mudança de rumo.

O mundo está cheio de exemplos de decisões erradas. Casamentos, abertura de negócios próprios, investimentos mal conduzidos, etc. Pessoas e corporações devem sempre estar preparadas para o que de errado ou ruim possa vir a acontecer.

E aqui vale lembrar que se o “barco começar a fazer água”, tenha sempre preparada uma segunda alternativa ou um plano B.

O modelo mental

Desde crianças sofremos a ação do ambiente sobre nós. Pais, professores, amigos, enfim, todos, de forma direta ou indireta, contribuem para que estabeleçamos nossas crenças e nossos valores. Estes “parâmetros” criam condições que nos fazem julgar o que é certo e o que é errado.

Este “modelo mental” que cada um desenvolve ao longo da vida também não é definitivo. É algo que se altera à medida que vivemos novas experiências e novas situações de vida. Não é e não pode ser considerado definitivo.

Experiências passadas oriundas de decisões erradas mudam o nosso modelo mental para que, no futuro, criemos novos “parâmetros” para tomarmos decisões frente a situações semelhantes. Erros e fracassos de ontem geram decisões futuras que poderão se transformar em sucesso.

Mas, para isso, há que se decidir mudar o modelo mental. Diariamente devemos estar preparados para nos reinventar e mudar nossa maneira de ser e de encarar um mundo em constante mutação. Manter o mesmo “modelo mental” durante toda a vida é típico daquelas pessoas que “já morreram e que esqueceram de se deitar”.

Componentes da decisão

De acordo com Marcelo Aguillar, uma boa decisão apresenta três componentes:

  1. Análise da nossa experiência passada, individual ou coletiva

    Existe uma tendência de decidir sempre da mesma forma baseada em fatos passados. Se soubermos entender quais os caminhos que fizeram com que tomássemos esta ou aquela decisão, poderemos ter uma maneira de combater tal tendência. Desenvolvendo e aumentando o nível de consciência sobre nós mesmos, poderemos mudar nossa maneira de tomar decisões.

  2. Capacidade de percepção de cenários no presente e no futuro

    Devemos ter a consciência que mudanças estão ocorrendo a cada momento. Ter esta percepção aumenta a probabilidade de se tomar uma decisão correta.

    Analise bem os seus limites respondendo a pergunta: até onde posso chegar com a minha decisão?

  3. Saber o que realmente quero

    Isto se traduz pela felicidade em alcançar objetivos práticos, positivos e éticos.

Algumas “dicas”

Para tomar uma decisão, considere os seguintes aspectos:

Erros e acertos

Qualquer ser humano erra e continuará errando.

Vive-se, nos dias de hoje, a era do Conhecimento. Temos, hoje, um conhecimento muito maior do que há cinquenta anos. Este é um processo irreversível: à medida que os anos passam, mais e mais conhecimento é agregado ao já existente. Há estatísticas que mostram que o volume de informações duplica a cada 72 dias. E, mesmo assim, seguimos cometendo erros. “Se escolher direito é importante, aprender a fazê-lo também o é”, afirma o Prof. Howard Raifa da Universidade de Harvard (EUA).

O tema “decisão”, não importando o assunto, é o conteúdo de inúmeros livros, palestras cursos e treinamentos. Entretanto, cabem aqui algumas considerações sobre este processo.

A situação ideal ocorre quando a decisão não sofre interferência de qualquer fator externo, sem pressões ou condicionamentos. Mas, como o ser humano é muito complexo, o processo decisório sofrerá influências dessas necessidades, incertezas, desejos, fazendo com que o acerto da decisão ainda e baseie no sistema de tentativa e erro.

Um ponto interessante a ser considerado diz respeito aos valores de quem vai decidir e a importância de cada um deles no momento da decisão.

Um exemplo típico é o ato de fumar. Até 1980, mais ou menos, nos foi incutido que o hábito de fumar era chique e dava status. Os jovens, principalmente, decidiam iniciar um vício com consequências terríveis para a saúde. Simplesmente porque o hábito de fumar (para não falar de outras drogas, como álcool, maconha, etc.) era um valor social.

Hoje, este mesmo hábito está sendo combatido e banido. Campanhas anti-drogas e anti-tabagismo já fazem parte da nossa rotina, associadas as leis que impedem o hábito de fumar em locais fechados.

Estes fatos demonstram de forma cabal que houve uma mudança neste “valor” social e na crença que o mesmo era chique e dava status. Cada um de nós pode, conscientemente, decidir se será fumante ou não e avaliar os riscos que esta decisão acarretará para sua saúde.

Nossos valores são adquiridos à medida que o tempo passa. Quando tais valores estão bem definidos, a tomada da decisão fica mais simples, mais rápida e com menos riscos e incertezas.

Outro fator a ser considerado é que decisões são tomadas baseadas em fatos já conhecidos, dando a impressão que decisões tomadas por diferentes pessoas tornam-se muito parecidas.

Nestas ocasiões é que aparecem os grandes cientistas, os grandes líderes, os grandes executivos que, ao “quebrar as regras”, decidiram seguir caminhos que levaram à soluções revolucionárias, onde os outros não conseguiam ver um palmo adiante do nariz. Os exemplos são muitos e variados. Uma simples consulta à biografia destas pessoas vai nos mostrar porque elas fizeram a diferença com suas decisões fora do “normal”.

E, se ainda formos ouvir a voz da nossa alma, do nosso coração, mais um fator vem se somar aos já mencionados. Neste aspecto, o consultor Robert Wong, em seu livro “O sucesso está no equilíbrio”, assim descreve seu método.

Faça a mesma pergunta à sua cabeça e ao seu coração. Se os dois disserem “sim”, vá em frente, faça, realize, pois as chances de sucesso são muito boas. Se ambos disserem “não”, nem arrisque, não faça, não realize, é fracasso na certa.

E nas situações intermediárias? Quando o coração diz “sim” e a cabeça diz “não”, as probabilidades de sucesso são maiores. E quando o coração diz “não” e a cabeça diz “sim”, não vale a pena. Afirma o consultor que, neste último caso, as emoções, a alma, devem prevalecer a falar mais alto que a razão e a lógica.

Ouvir sua voz interior também é algo que vem com o passar dos anos. Quanto maior o número de experiências vividas, mais desenvolvemos esta habilidade, seja na atividade que for. Profissionais mais experientes confiam mais em seus insights do que profissionais mais jovens. Um exemplo nos é dado através do diálogo entre dois executivos durante uma entrevista sobre erros e acertos na contratação de pessoas.

O mais jovem, com 48 anos, afirmou:

Contratar ou promover acaba sendo um processo intuitivo. Confesso que errei em 50% das minhas apostas.

O outro, com 62 anos, afirmou:

Quando sigo meu palpite, eu acerto em 80% dos casos.

Racionalidade ou Intuição

Embora o mundo atual faz com que tomemos decisões em espaços de tempo cada vez menores, não devemos esquecer que temos que ser ágeis e não precipitados. O consultor Carlos Hilsdorf afirma que a pessoa adia deforma crônica uma decisão quando não sabe o que fazer ou se sente insegura para tal. Ou toma uma decisão precipitada querendo “mostrar serviço” ou parecer uma pessoa sem medo de tomar a decisão.

Se você, leitor ou leitora, é do tipo racional, agregue aspectos intuitivos para tomar sua decisão. O inverso também é verdadeiro; se você é do tipo que decide por intuição, agregue aspectos racionais antes de tomá-la.

O importante, em ambos os casos, é buscar o equilíbrio entre os dois extremos. Para isso, o Prof. Virgilio V. Vilela sugere que o melhor a fazer é:

Infelizmente ainda não existe, e nem sei se existirá, um manual pronto que nos ensine a tomar decisões. Simplesmente pelo fato de sermos humanos, onde cada um de nós possui seu próprio padrão de idéias e comportamentos.

Mas, o exercício de decidir e fazer escolhas nos dá a liberdade sobre o rumo que direcionamos nossa própria vida e delinearmos o futuro no qual estaremos vivendo.

Finalizo dando-lhe os parabéns por ter decidido ler estas linhas até o seu final.