Então Hollywood passou a disputar as atenções das massas. Logo se tornou visível a sedução que os filmes exerciam sobre a população. Havia um movimento buscando impedir que os fiéis assistissem aos filmes. Mas Hollywood conhecia bem a índole das massas e produzia filmes atrativos. Com os "ganchos" especiais, o público se entregava desembaraçadamente diante da magia das telas. O cinema mudo já era atraente, mas quando chegou o som e as cores, o público fazia filas enormes para assistir aos filmes produzidos. Os produtores logo perceberam a poderosa arma de que dispunham para modificar profundamente os hábitos e as concepções da população.
Era fácil perceber as vantagens de que Hollywood dispunha, porque o público passava mais horas nos cinemas do que nas Igrejas. Assim, Hollywood passou a ditar as normas de comportamento; o que era importante e o que era desprezível na vida. Imperceptivelmente o público foi adquirindo um novo padrão de comportamento e uma nova escala de valores. Ao final os indivíduos estão vivendo a vida sem atitudes próprias, como se estivessem interpretando um personagem dos filmes que assistiram.
Durante a grande guerra os soldados recebiam filmes especialmente feitos para fortalecer o ânimo de luta, o heroísmo e a esperança. Os filmes de hoje quase não trazem nenhuma esperança, mas assustam as criaturas humanas com constantes lembranças da morte, cujo significado lhes é desconhecido tanto quanto o significado do nascimento, marcos decisivos da existência.
América, o paraíso perdido. Ao invés de um novo mundo, mais nobre, mais dedicado às questões do espírito, livre das imposições dogmáticas do velho mundo, foi surgindo um mundo materialista, preocupado com superficialidades, obcecado por dinheiro.
Agora vivemos a era da propaganda associada aos condicionamentos, um grande avanço na tecnologia de seduzir as mentes humanas. Contudo, a indústria cinematográfica movimenta anualmente bilhões de dólares gerando muita riqueza e muitos empregos. O Brasil está praticamente fora, atuando principalmente como exibidor de filmes produzidos nos Estados Unidos, empregando apenas vendedores de bilhetes, operadores e pipoqueiros. A indústria cinematográfica não recebeu estímulos governamentais e, vítima de sabotagens, acabou definhando até praticamente sumir.
Hollywood difundiu e difunde todas as idéias e conceitos de seu interesse, assim como de tudo que produza retorno, isto é, através do merchandising, a propaganda embutida no filme. Largamente difundido é o dólar, habilmente manipulado na finança global para propiciar ganhos fabulosos. As malas cheias de dólares mostradas nos filmes, se tornaram o alvo da maior cobiça dos seres humanos. Pela sua posse os personagens ensinam a mentir, trair e matar se preciso for.
A América de hoje resultou da intervenção permanente e contínua de Hollywood que propiciou muitas coisas boas, mas poderia ter propiciado muitas melhores. Muitas coisas feias e horríveis têm sido apresentadas. Belas e enobrecedoras nem tantas.
Hollywood deu a América as feições que ela tem hoje. A sua influência foi decisiva na América e em grande parte do mundo, mormente no mundo de hoje em conjunção com a TV global.
Os roteiros estão apresentando uma humanidade estressada e aflita, que caminha para um caótico clímax da ansiedade e medo. É o reflexo de uma existência vazia que não preenche a sua real finalidade, em que as pessoas aceitam o papel de marionetes sem vontade própria e que se movem por impulsos, sem reflexão. Consequentemente a amplitude da vida fica reduzida a um monótono nascer, crescer e trabalhar, transar nas horas de folga e esperar pela fatalidade da morte, como se a vida não passasse de um processo mecânico destituído de significado. Isso acaba dando ao viver cotidiano uma dimensão restrita e absurdamente ilógica. As bitolas estreitas em que os filmes são realizados, induzem a uma crescente estreiteza mental, muito conveniente para a formação de consumidores bem comportados. Nenhum sentido mais elevado, quando muito a busca de quinze minutos de fama na frenética busca da felicidade ilusória, sem que se pressinta o caminho para a felicidade real. Grande parte dos filmes estão carregados de sexo embrutecido e violência, num clima tenso, no ambiente decadente das megacidades.
Isso positivamente não faz bem a ninguém, nem mesmo aos produtores porque a população começa a perceber o lixo que está recebendo.
Mas esse lixo todo mantém as criaturas humanas de cabeça abaixada, sem habilitação para enxergar o mundo como é, e como deveria ser, para ser considerado um mundo humano. Um cinema digno de seres humanos deveria apresentar dois derivativos: ser instrutivo, propiciador do alargamento das janelas mentais, ou agradável e divertido de ser visto. Melhor ainda se puder reunir isso tudo, como esporadicamente ocorre com algum filme fora do padrão de mediocridade.