Já há 800 anos, antes da vinda de Jesus, Isaías falava de uma profecia que ficou marcada pela incompreensão. O profeta referia-se àquele que viria para trazer elucidação de todos os enigmas da Criação e da vida, e cuja vinda antecederia uma era de paz entre os seres humanos, após terem arcado com as conseqüências de seus atos egoísticos, resgatando-se assim a dignidade humana.
Decorridos quase três milênios, a amplitude de suas palavras foi sendo restringida, a ponto de muitos pensarem que elas apontassem para um conflito mais restrito e imediato que, no dizer da estudiosa de assuntos religiosos, Karen Armstrong, afeta a política de Jerusalém até aos dias de hoje. Mas, a abrangência era muito maior, envolvia a humanidade inteira, que se afastou da Vontade Divina, que se expressa nas leis da Criação.
Uma coisa sobrou, Isaías falava da vinda de um que chamar-se-ia Emanuel, que quer dizer Deus conosco, o qual traria um reino de paz no qual homens e mulheres voltariam a viver em harmonia com o Divino, pois acabariam reconhecendo e obedecendo as leis procedentes do Divinal.
Cerca de 800 anos depois, Jesus diria a mesma coisa, quando anunciou a vinda do Filho do Homem, que permaneceria como eterno mediador entre o Divinal e a Criação, pois, tendo se originado no puro Divinal, foi também ligado ao espiritual consciente. Evidentemente, essa vinda seria para o futuro, para o tempo em que a humanidade estivesse bem próxima ao descalabro, pela conseqüência de seu atuar em desacordo com a Vontade Divina, e não poucos anos depois.
No tempo de Isaías, muitos também achavam que a visão teria realização imediata. Apenas alguns captaram o real sentido, percebendo que se referia a um tempo longínquo no futuro.
No tempo de Jesus também não foi diferente, e aqueles que achavam que a vinda do Filho do Homem, que imaginavam ser o próprio Jesus, estava para acontecer muito próximo, lançaram as bases para a confusão que mais tarde assumiria um caráter de verdade absoluta. Muitos supunham que Jesus voltaria, sem que soubesse exatamente quando, e se autodenominaria o Filho do Homem. Esse conceito se foi fortalecendo até se tornar um dogma sem fundamento real, e não adiantava nada querer esclarecer a questão, porque logo surgiam os opositores.
Hoje permanecem as sombras obscuras, e a vinda do Filho do Homem ficou cercada de mistérios e incompreensões. Mas há de pronto uma evidência, se Ele não veio quando da profecia de Isaías, nem quando da destruição de Jerusalém pelos romanos, fica claro que houve um erro de interpretação, o que agora se torna mais nítido.
As palavras originalmente proferidas por Jesus foram trocadas, modificando-se o seu significado. A humanidade foi levada a crer que Ele voltaria novamente para este Planeta que Lhe foi tão hostil.
Voltar para que? Sua missão já fora cumprida. Vindo diretamente do Divinal, abriu na grossa camada escura que envolvia a Terra, uma passagem para a Luz Espiritual, que, de outra forma, não poderia penetrar no planeta tão profundamente decaído pelo falhar da humanidade. Pois, caso contrário, os seres humanos iriam ao encontro da autodestruição antes mesmo da chegada ao tempo da colheita final da atuação humana, prevista para quando da vinda do Filho do Homem, que, finalmente, traria a visão completa do grande processo evolutivo da Criação e das criaturas humanas que a ela pertencem.
Com o distanciamento da espiritualidade e o apego ao raciocínio, os seres humanos foram perdendo o real conhecimento de muitas revelações recebidas no passado. Segundo Roselis von Sass em “O Livro do Juízo Final”, há mais de sete mil anos um dos reis-sacerdotes e vidente em Ur, na Caldéia, viu em espírito a imagem de Um, que procedente das Alturas Celestes, mergulhou nas profundezas, para atravessar com sua lança comprida e reluzente, um monstro parecido com um dragão, símbolo do inimigo da Luz. O Poderoso que o vidente viu ficou conhecido como o “Salvador na aflição”, ou seja o Filho do Homem anunciado por Jesus.
No concílio de Nicéia, no ano 325, por resolução da maioria, a Igreja tinha declarado Cristo como o Salvador do mundo. Contudo, o povo continuava a venerar o Salvador matando o dragão. Sem saber o que fazer com a antiga tradição, considerada pagã, foi encontrada uma fórmula dando ao vencedor do dragão um nome, introduzindo assim São Jorge entre os cristãos. Assim aumentou a confusão à cerca da identidade dos Emissários da Luz.
“Isaías anunciava “Imanuel”, o anjo, porém, “Jesus”! Portanto não é Imanuel a quem Maria deu à luz, e por isso também não aquele a respeito de quem Isaías anuncia. Isaías anunciava Imanuel, o Filho do Homem; o anjo porém, Jesus, o Filho de Deus! Trata-se, nitidamente de duas anunciações distintas, exigindo duas realizações diferentes, as quais, por sua vez, têm de ser efetuadas por duas pessoas distintas”. (Mensagem do Graal, de Abdruschin, dissertação Cristo Falou...!).
Os seres humanos se separaram do espiritual renegando ao próprio espírito que os anima, isto é, que vivifica o corpo terreno, dando prioridade ao intelecto, que devido às suas ligações com tudo que é material acabou sendo o instrumento do próprio anticristo, propiciando a construção de um mundo áspero e sem coração. Acorrentando-se ao próprio intelecto e com o espírito manietado, o ser humano se transforma no perigoso animal com cérebro, perdendo a sua essência espiritual.
Quando se pensa na vinda do Filho do Homem, não há que se falar na volta de Jesus, mas sim da vinda de uma outra pessoa procedente da mesma origem, e pelo Criador enviado, e por isso mesmo, também portador do saber e da Luz da Verdade!
Se os seres humanos realmente desejarem a elevação espiritual, é imperioso que estejam aptos e dispostos para buscarem os ensinamentos sobre as leis da Criação que expressam a Vontade Divina. Somente assim poderão alcançar a paz duradoura da qual tanto necessitam para evoluírem de fato.