Aqueles que raciocinam com lucidez começam a questionar os fundamentos da educação convencional propiciada às novas gerações. Em muitos países considera-se que o sistema educacional está se desestruturando sem alcançar os resultados esperados.
A competição tem sido o grande elemento motivador das atividades humanas, por isso tem sido utilizada largamente nas escolas consideradas de padrão elevado e das quais se servem as famílias que dispõem de maior renda.
O ser humano se tem empenhado prioritariamente na conquista de bens terrenos, atuando num ambiente de comparações e competição, sempre se avaliando em relação aos demais. Importa o ter, não o ser.
Nas contendas competitivas apenas uma pessoa é a vencedora, restando várias outras desapontadas ou frustradas. Na vida as pessoas estão sendo separadas em vencedoras e perdedoras. Os que se consideram vencedores adquirem uma falsa idéia de superioridade em relação aos demais, adquirindo certa arrogância. Mas não podemos ficar acomodados sem um rumo definido. Cada um deve fixar seus alvos e dedicar-se na sua conquista.
As pessoas concentram-se em si mesmas e não na comunidade, achando que o fim justifica os meios. Os recursos naturais são explorados sem consideração ao meio ambiente. Compartilhar e cooperar com os outros são opções que se tornam menos atrativas. Prevalece o interesse individualista ao da comunidade.
No ambiente competitivo aumenta a probabilidade de conflitos e comentários mordazes. As pessoas enxergam um oponente nos outros. Há uma grande preocupação em ser o vencedor. A desconfiança está sempre presente.
Num estudo entre crianças brancas e crianças negras, elas receberam o mesmo jogo para brincar. O jogo envolvia um tabuleiro de damas com fichas que deveriam ser movidas para frente. O objetivo era atravessar o tabuleiro para chegar até o outro lado. Para cada ficha que conseguisse chegar até o outro lado havia um prêmio. Entre as crianças brancas, o que ocorreu foi que, ao iniciarem o jogo, elas bloqueavam o caminho da outra até chegarem a um empate, pois ninguém conseguia mover mais nenhuma peça. Ninguém ganhou um premio. As crianças negras, ao contrário, deixavam que a ficha da outra passasse, e ambas ganharam prêmios. Elas pensavam: “não tenho que te derrotar. Não tenho que te fazer parar”. A cultura tem muito a ver com a competição, e em nossa cultura é grande a competição por tudo; vence o cara que tem mais dinheiro e poder. (citado no livro “Bulling e Desrespeito” de Marie Nathalie Beaudoin).
Neste mundo somos peregrinos em busca da evolução. Fazemos parte do povo dos seres humanos. Não temos o direito de obstar o crescimento do próximo nem de desrespeitá-lo. A existência terrena deve propiciar o fortalecimento do espírito, o que promove o surgimento do ser humano em sua plenitude.
Atualmente as escolas no mundo desenvolvido estimulam a competitividade entre as pessoas, sobrecarregando os estudantes com inúmeros exercícios de pouca utilidade prática, exercendo forte pressão cerebral para o raciocínio calculista, em detrimento da parte interior do ser humano.
”As escolas estão obsoletas”, é o que disse Bill Gates, diretor da Microsoft em entrevista para Oprah Winfrey, apresentada no canal GNT, sobre a crise nas escolas americanas, as quais estão apresentando elevado nível de desistência. A escola vai mal. Devemos renovar o compromisso com a educação. É necessário renovar a forma de ensinar. Gates está preocupado com o futuro dos jovens estudantes e dos Estados Unidos.
A atitude da Microsoft merece o olhar atento das demais empresas. Saindo da rigidez voltada prioritariamente para o lucro próprio, cabe a elas um relevante papel no campo da educação das novas gerações.
Nos países atrasados a escola não consegue dar uma formação básica mínima. No Brasil, cerca de 50 % da população não tem suficiente preparo para desenvolver a leitura de um livro.
“O desenvolvimento integral de um país depende principalmente da educação formal e informal dos seus cidadãos, infelizmente, nosso sistema de educação em vigor incentiva e supervaloriza a fragmentação, a intelectualização e competição agressiva. Treinam-se pessoas pouco preparadas para uma vida plena e harmonizada consigo, com os outros e com a natureza”, escreveu Harbans Lal Arora, da Universidade Federal do Ceará, no prefácio do livro: Escola Vila - Construindo um Mundo Melhor, de Fátima Limaverde.
Segundo Fátima Limaverde, não podemos continuar fragmentando, departamentalizando. O momento é de religar, de ampliar e trabalhar a transdisciplinaridade. Trabalhar desta forma é situar o conhecimento na vida, na realidade, é poder usar o conhecimento especializado com o todo. De nada vale uma especialidade se ela não puder ser aplicada com uma visão do todo. No momento atual sentimos a necessidade de clarearmos a verdadeira essência da palavra educação. Não podemos continuar pensando-a como currículo obrigatório. A situação da vida no planeta exige mudanças de hábitos e valores, mudanças no nosso dia a dia, na nossa postura frente ao mundo e uma responsabilidade maior em relação à existência.
Os acontecimentos em geral, a desestruturação das escolas, a falta de segurança até nas salas de aula, tornam indispensável que o ser humano da atualidade adquira uma visão geral, sem lacunas, sobre todos os tempos, do começo da humanidade até agora, para que enfim se humanize, e humanize o mundo.
Torna-se indispensável que o ser humano receba o adequado preparo para a vida, para que, fortalecido com o saber espiritual da Criação e suas leis, esteja apto para alcançar uma existência condigna através do resultado do trabalho próprio, reconhecendo que acima da lei falha dos humanos, atua a incorruptível lei da Criação da reciprocidade, trazendo de volta a cada um, a felicidade ou o sofrimento, conforme tenha agido. Sem isso não haverá auto-estima nem a esperança de alcançarmos um mundo melhor. Sem isso não haverá responsabilidade e consideração ao próximo, cada um vai querer fazer valer a força de que dispõe para alcançar seus objetivos e o caos será implantado nas famílias, nos Estados, no planeta.