Finalmente um ser humano tem a coragem de falar para a humanidade, que estamos enfrentando uma crise perigosa como nenhuma outra. Al Gore, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, vem a público, levando a sua voz ao mundo, alertando para a conscientização de que estamos diante de uma emergência planetária provocada pela crise climática.
O aquecimento global ameaça acabar com a nossa civilização. Com setenta milhões de toneladas de CO2 lançadas diariamente na atmosfera da Terra e o continuado desmatamento, provocado por desenfreada exploração madeireira e por incêndios florestais para formar pastagens ou novas fronteiras agrícolas, o equilíbrio climático vem sendo sistematicamente rompido, atingindo agora o seu ponto decisivo.
Pela primeira vez a humanidade está reconhecendo a existência de uma ameaça concreta à sobrevivência, mas a sociedade humana perdeu o hábito de analisar e discutir as questões realmente importantes. Antes do advento da televisão as pessoas conversavam entre si, iam à palestras, liam mais e assim adquiriam uma visão mais profunda sobre a realidade.
Atualmente ficaram condicionadas ao estilo rápido dos noticiários apresentados na televisão com notícias rápidas, mostrando os fatos sem análises e sem apresentação das causas. As pessoas estão apressadas e acomodadas, contentando-se em saber o que está acontecendo sem grande interesse nos por quês, menos ainda se tiverem que ler, o que para muitos representa sacrifício e perda de tempo.
Al Gore mostra o que está acontecendo no clima: o aquecimento global e o conseqüente derretimento das geleiras do mundo, os riscos para o abastecimento de água, a alteração das correntes marítimas que refrescam e aquecem os continentes. Mostra também que isso tudo tem muito a ver com a brutal descarga de carbono na atmosfera decorrente da queima de combustíveis e florestas, que provoca a elevação da temperatura e torna o ar irrespirável nas grandes cidades. Mostra que os dirigentes pensam prioritariamente no hoje, pois há muitos interesses econômicos envolvidos. O amanhã será para os netos e bisnetos, eles que resolvam.
Num futuro não muito distante, a sociedade humana tomará consciência da insanidade que foi ter permitido a destruição da cobertura florestal do planeta de forma tão indiscriminada. As florestas são os grandes filtros que inserem umidade no ar, regulando o clima, mantendo a temperatura suportável. O funcionamento da natureza, quando não perturbado pela ação humana, é miraculoso na sua atuação para conservar as condições que possibilitam a vida.
Certamente o ex-vice-presidente americano seguiu sua intuição, a sua voz interior, dizendo-lhe que é preciso agir para salvar o planeta, porque se nada for feito em dez anos, já não teremos mais como reverter o processo de degradação da Terra. Em poucos anos a água será um problema sério em muitos países. Com o avolumar das catástrofes naturais o amanhã começa a se tornar incerto. O que será do Planeta? O que será de nossos filhos?
Os humanos deixaram de ouvir a intuição. Einstein dizia que para compreender o funcionamento da natureza, é indispensável o emprego da intuição. Assim, utilizando-se apenas do cérebro, a humanidade ainda não aprendeu a se utilizar corretamente da energia contida nos átomos. A energia nuclear poderia agora levar a sociedade humana a um novo patamar de progresso, mas conseguimos utilizá-la apenas através de um custo muito elevado e riscos incalculáveis.
Mesmo diante de uma emergência planetária o ser humano racional, amparado apenas no cérebro, não age prontamente. Precisa quantificar, calcular os custos, estabelecer o retorno de seu capital. Assegurar as condições que garantam a sobrevivência da espécie, não é motivação suficientemente forte, precisa antes estabelecer a rentabilidade do capital. Este é apenas um dos muitos aspectos incoerentes que a civilização humana deve encarar com sinceridade na definição de suas metas prioritárias para alcançar progresso duradouro.