Os motins ocorridos no Reino Unido mostram que “partes da sociedade estão doentes”, afirmou David Cameron, primeiro-ministro britânico. “Ver aqueles jovens correr pelas ruas, a partir janelas e a roubar bens, pilhando e rindo enquanto se iam embora – o problema é uma completa falta de responsabilidade, pais que não controlam seus filhos, escolas que não dão disciplina, faltam valores morais e éticos, falta de educação e consideração humana”.
Lamentavelmente essa é uma grande verdade e se não forem planejadas ações efetivas, a doença é altamente contaminante. Diriam alguns como justificativa, que devido às precariedades econômicas, com empregos e salários estagnados, movimentos de contestação social são inevitáveis, mas o que vimos foi um comportamento bárbaro de ódio e destruição sem sentido. Enfim, em vários níveis do relacionamento humano a maldade e o desejo de causar danos ou impedir que o outro se sobressaia, são habilmente acobertados.
Inegavelmente há um conjunto de fatores que favorecem o adoecimento da sociedade humana em geral, não só a britânica. Em várias regiões são observados atos descontrolados de violência e falta de consideração. Na pacata Noruega, Anders Behring Breivik, assassinou 77 pessoas. No Brasil, houve o sequestro de ônibus para roubo dos passageiros.
Em uma sociedade que deu mais ênfase às aparências, valorizando mais o ter do que o ser, a grande doença está na educação das novas gerações que foram direcionadas para um enrijecimento e acabaram ficando afastadas do sentido da vida. Perderam o contato com o eu interior e tudo passou a ser válido e aceito, como mentir, enganar e burlar. Diante da aspereza, tudo levou à perda do senso de equilíbrio, fundamento básico das ações humanas. Sem compreensão, passamos a agir movidos pela melancolia e revolta.
Com muita propriedade Pedro Malan descreveu para o jornal OESP a atual situação das finanças: “o pânico que assalta os mercados financeiros e as bolsas de valores neste início de agosto é de natureza distinta – embora relacionada – da do pânico avassalador que se instaurou nos mercados e nos governos dos principais países desenvolvidos após o colapso do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Ali ocorreu um gravíssimo colapso de confiança no sistema de intermediação financeira do mundo desenvolvido, de consequências imprevisíveis – não fora a historicamente sem precedentes, resposta dos governos em termos de estímulos fiscais (mais gastos, menos impostos, mais dívida) monetários (taxas de juros reais negativas e expansão inédita dos balanços dos bancos centrais). Em resposta à crise levaram a uma acentuada e simultânea elevação de déficits fiscais e de estoques de dívida pública em praticamente todos os países envolvidos”.
Ou seja, para amenizar a gravidade da crise financeira de 2008, as perdas foram socializadas acarretando uma saturação na carga de dívidas dos Estados interventores, que ora se encontram com as contas em desequilíbrio, isto é, com a situação fiscal no limite. Em três anos chegamos à beira do abismo. Agora para que o sistema não se torne inviável, são distribuídas as agruras decorrentes dos cortes nos gastos públicos, para que as receitas possam cobrir juros e resgates das dívidas contraídas.
A necessidade do equilíbrio em tudo deveria ser ensinada já pelos pais na orientação dos filhos desde cedo. Quem recebe algo, deve retribuir, é uma lei natural. Na vida notamos a falta do equilíbrio em tudo. Especuladores ganhando à custa dos incautos mantidos na indolência. Oportunistas galgando postos no governo para tirar o máximo de vantagens pessoais. Enfim, a lei oposta ao equilíbrio, de levar vantagens sobre os demais em todas as situações, criou um ambiente de desarmonia e insustentabilidade mundial.
Todos devem trabalhar com dedicação, esforçando-se por aprender a fazer um bom trabalho. Por outro lado, todos devem ter direito ao trabalho e a uma remuneração condigna, e todos devem ter oportunidade de receber boa educação. No Brasil, as autoridades e as elites não deram a devida atenção para o bom preparo de sua população. Predomina a cultura da bajulação da chefia para ficar em destaque, ou por medo. Os níveis salariais praticados sempre foram muito baixos impedindo a formação de poupança; os produtos oferecidos, de baixa qualidade; a escola e muitos pais, pouco esforço têm feito para formar seres humanos de qualidade. Hoje estamos com falta de mão de obra qualificada.
Em entrevista para a Folha de São Paulo, Heiner Flassbeck, diretor da Divisão de Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da Unctad (Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento) disse que “a coisa mais simples e mais crucial é que os salários médios das pessoas, dos trabalhadores, precisam subir em linha com a produtividade da economia. É uma regra simples, que não é seguida em muitos países. Não foi seguida na América Latina no passado; hoje está melhor”. Ou seja, é a atuação da lei do equilíbrio que, quando não respeitada, sempre atrairá consequências adversas, provocando o adoecimento da sociedade. Para sanar a nossa sociedade doente necessitamos de líderes e liderados que reconheçam e respeitem a grande lei do equilíbrio.