Na busca por culpados para as misérias humanas, muitas pessoas querem apontar o capitalismo como o grande causador de crises e de estagnação da economia. O problema real é o desequilíbrio que perpassa todas as atividades. Desequilíbrio existente entre o ser humano e a natureza, e entre os seus relacionamentos econômicos e pessoais. Enfim, a disparidade entre o receber e o dar. Todos querem obter algo, mas são poucos os que retribuem.
A natureza tem sido sugada ao máximo, sem que lhe seja dado tempo para se recompor. Os poluentes são lançados irresponsavelmente no ar, no solo, nas águas. Somos muitos. Vivemos numa sociedade organizada. As tarefas foram subdivididas para possibilitar melhores resultados. Muitas vezes, as horas de trabalho se transformam em rotina massacrante, e com isso a produção e os serviços deixam a desejar. Falta equilíbrio na partilha e no desfrute do tempo entre trabalho, repouso, educação, lazer e cultura.
Com o equilíbrio, cada um vai se esforçar em desempenhar a sua tarefa com esmero, visando sempre o aprimoramento e a eficiência. Junto ao aprendizado teórico, as novas gerações precisam aprender fazendo. Nesse sentido, as escolas deverão se tornar mais efetivas no ensino, pois não raro, o que os estudantes aprendem têm pouca utilidade prática por não estar respaldado na realidade da vida.
Falta a compreensão de que tudo é transitório, e que não somos donos do planeta. Por causa disso, deveríamos agir com espírito de cooperação. Mas o que prevalece é uma competição desenfreada na área econômica. Desperdícios e misérias se mesclam. A ânsia por ganhos provoca desequilíbrios no nível de empregos. A educação e o preparo das novas gerações retrocedem.
No Brasil, atravessamos duas décadas de estagnação para enfrentar o endividamento externo. Tínhamos que pagar a dívida com dólares que dependiam das exportações. Produzia-se para exportar e o câmbio desvalorizado era favorável. Produzia-se, os produtos saíam do país, o governo comprava os dólares que ficavam por lá mesmo. Ficava a quantia em moeda nacional que o governo emitia para pagar os dólares. Resultado: uma inflação galopante. Os efeitos negativos perduram até hoje. Os administradores públicos não se corrigem, gerando déficits elevados.
Agora é a vez dos países europeus, cuja dívida supera o montante de 11 trilhões de euros, bem próximo à dívida do Tesouro americano. Como se teria chegado a isso? Falta de preparo econômico dos gestores? Mania de grandeza com obras caríssimas de pouca utilidade? Ou irresponsabilidade mesmo dos gestores preocupados com a próxima eleição e com sua vaidade, julgando-se superiores, fazendo uso de manobras escusas, desmotivando a população?
Atravessamos séculos de banditismo e corrupção na administração pública e na atividade empresarial. Temos de viver em sociedade, no pluralismo das culturas e individualidades, mas precisamos de um ideal comum de progresso em paz e harmonia. O mundo precisa de gestores sábios, tanto nas corporações como na administração pública, que possam transmitir às novas gerações um legado de boa convivência com consideração humana e respeito aos mecanismos da natureza. Necessitamos da confiança de que sempre será possível construir um melhor futuro.