Alguns cineastas apresentam muita amargura em filmes de forte impacto e baixo astral. Alejandro Gonzáles Inarritu dirigiu no ano de 2003 o badalado 21 gramas. O título é uma alusão à hipótese defendida pelo físico Duncan MacDougall de que a alma do ser humano pesaria 21 gramas. A denominação “alma” se tornou bem conhecida, mas segundo Abdruschin, autor de Na Luz da Verdade, a alma é o invólucro do espírito em sua ligação com o corpo, pois a vida está contida no espírito, que para atuar na matéria, necessita encarnar em um corpo.
Mas voltando ao filme, que conta com grandes artistas como Sean Penn, Naomi Watts e Benício del Toro, eles formam o trio principal ou o circuito da desgraça e representam personagens emocionalmente desestruturados que agem de forma caótica.
Os espectadores torcem por um final feliz, mas os personagens se embaraçam de tal forma que tudo se torna sombrio, até o dia em que o professor de matemática, interpretado por Penn, não aguenta mais viver e, num momento caótico, atenta contra a própria vida, mas deixa um legado para a personagem vivida por Naomi.
No final, Benício, que vive o ex-presidiário que se converteu a um cristianismo confuso, continua distante dos verdadeiros ensinamentos de Jesus, cuja necessidade de sua encarnação permanece desconhecida, enquanto que para a sofrida personagem de Naomi, desiludida da vida, viciada em drogas, surge uma nova esperança devido à sua gravidez inesperada. No entanto, o que fica em evidência é a grande incompreensão sobre o sentido da vida.
Já em O último amor de Mr. Morgan, dirigido por Sandra Nettelbeck, as coisas são menos pesadas, embora nos dois filmes as situações sejam parecidas. O personagem principal, interpretado por Michael Caine, é Matthew, um professor de filosofia, aposentado, viúvo e solitário, que vivia desanimado em Paris, até conhecer Pauline. Grande parte da trama envolve as afinidades entre Matthew e Pauline, uma relação bonita de se ver. A amizade deles é envolvente e desperta a curiosidade sobre o que vai acontecer com a dupla. O filme segura a atenção do público durante um tempo, mas depois deprime, com desfechos confusos.
Matthew vê, em Pauline, semelhanças com a sua esposa falecida. Ela, de sua parte, é jovem, trabalha como professora de dança e vê nele semelhanças com o pai. Tudo vai bem até que Matthew, levado por um impulso perturbador, frustrado com a incompreendida transitoriedade da vida, comete o mesmo erro do personagem de Penn, atentando contra a própria vida.
Na vida, as coisas não acontecem por acaso. O que Matthew poderia fazer na sua condição de idoso solitário? Poderia refletir sobre a vida, tentar compreender o seu sentido e significado, observar o fio que conduz os indivíduos e a humanidade. Visualizar para onde se dirigem? Para onde deveriam se encaminhar?
Apesar de ser um filósofo de muita erudição, Matthew pouco sabia sobre o sentido da vida. Insatisfeito em tentar fazer a besteira de se suicidar uma vez, repetiu a dose. O suicídio revela a absoluta ignorância do significado da vida e das leis da Criação. É daqueles filmes que insinuam que a vida não vale nada e que teria sido melhor nem ter nascido. E enquanto a morte não vem, dá-lhe mau-humor, cigarro, bebida, shopping, desarmonia. Essa falsa comédia poderia ter apresentado mais lucidez e dado boa contribuição para o aprendizado que a vida nos oferece.