LINGUAGEM EM EXTINÇÃO
(29/08/2015)

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Em meio às ansiedades de nossos dias, se manifesta a crise existencial. Jean Luc Godard, um cineasta europeu, reconhecido por um tipo de cinema vanguardista e polêmico, traduz muito bem esse sentimento em seus filmes provocadores, apresentando as incoerências da civilização que a partir do século 20 foram se tornando mais visíveis.

Godard foi um militante anarquista de centro, sempre insinuando a existência de uma revolução, como em seu mais recente filme Adeus à Linguagem, apresentando belíssimas paisagens da natureza, rios de águas claras, o comportamento instintivo dos animais, em contraste com o caótico comportamento dos seres humanos, sempre inquieto, correndo de automóvel, de ônibus ou de metrô. Uma desordem geral, uma crise econômica e social. No comodismo, os humanos foram deixando tudo para ser resolvido pelo Estado, enquanto do outro lado se dizia que só o mercado poderia resolver o problema para melhorar as condições de vida.

No entanto, estamos enfrentando novo impasse; nem Estado nem mercado conseguiram alcançar a melhora e o aprimoramento da humanidade, pois a grande falha está no condutor de ambos os modelos, o homem, com a sua vaidade e o seu egoísmo. Em meio a acontecimentos marcantes como o desemprego e aumento da pobreza, os elevados gastos com armamentos, as crises, a econômica e a ambiental que se ampliam, a humanidade está cega, seguindo uma trajetória de embrutecimento e aumento da insatisfação, que poderão eclodir na conflagração das massas.

Os psicólogos têm estudado a fundo a questão do comportamento humano, dando ênfase à estruturação do cérebro frontal, mas o conjunto cerebral é muito mais do que isso. O cérebro controla muitas funções do organismo além de ser o processador dos pensamentos gerados pelo querer interior e pelas associações que o cérebro faz com o que tem gravado na memória. O querer interior, a vontade, é livre, mas as associações são condicionadas, exigindo reflexões íntimas. O freio ético moral é guiado pelo eu interior, que depende do fortalecimento da consciência para o comportamento humanizado, enquanto que o cérebro frontal age pelo condicionamento das regras aprendidas, mas que podem a qualquer momento, diante de pressões, serem postas de lado devido à ausência do freio íntimo, a vontade propriamente.

Ainda não reconhecida, há uma conexão perdida pelo atrofiamento do cerebelo, o elo com o eu interior, pois o ser humano, diferentemente dos animais, não é apenas o seu transitório corpo material; ele tem uma alma.

Com o embrutecimento, o ser humano se reduz, comprimindo a sua a amplitude, restringindo-a ao puramente material sem mesmo ter compreendido corretamente o mundo da matéria, vai assim enrijecendo, perdendo a mobilidade. Tudo fica tedioso. A linguagem perde a sua força, os humanos não têm mais o que conversar entre si porque seu palavreado é fútil, o pensamento não é claro, o raciocínio sem lucidez. Enxergam apenas o vazio de sua existência e a difícil luta pela sobrevivência na qual a vida foi transformada. Percebem principalmente o instinto sexual e a incompreensão diante da morte inevitável, pois seu espírito dorme e não anseia mais pela Verdade, o significado e sentido da vida, que lhe poderia dar a força motora para superar-se a si mesmo e à sua indolência, galgando o aprimoramento pessoal e a evolução espiritual.