Nesse momento me encontro só, numa cabine da Clínica Oftalmológica da Tijuca, aguardando a cirurgia que irá reparar o descolamento da retina do Ozenildo. Fico refletindo no quanto a vida nos reserva boas e más surpresas. Hoje ele veio apreensivo, sem saber o que o espera após a cirurgia. Em compensação a Luísa está animada porque “descolou” um estágio na Escola Britânica. Um descolou o estágio e o outro a retina. Ambos ansiosos com o por vir. E eu estou aqui de observadora. Sem poder intervir em ambos os casos. Só ouvindo e dando o meu apoio. Peço a Deus que ajude à cada um a se superar e crescer. Que o Ozenildo além de recuperar a visão não precise abrir mão da natação que ele tanto ama. Imagina um Netuno sem o mar para exercer o seu domínio. Será apenas um velho homem de cabelos e barbas brancos. Do mar ele tira sua força, seu poder, sua realização “O Rei dos Mares”.
O tempo não passa e fico pensando no que estará acontecendo…
Mas na maioria das vezes a gente simplesmente passa pela vida, ou ela passa pela gente ao sabor dos ventos. Doces brisas da juventude, fortes ventos da velhice, que açoitam nosso corpo levando os sonhos para longe, cada vez mais longe…
Finalmente ele chegou. Foi tudo bem, a retina no lugar e um lanche na mão, que minhas retinas logo detectaram, e ali sentados, dividimos o lanche e a vida, saboreando o prazer que pequenas coisas nos dão . Nesse momento a realidade é melhor que o sonho. E tem gosto de biscoito recheado.
Maria Angelica Coutinho