Esta nova exegese das Escrituras não tem nenhuma semelhança com as interpretações correntes dos textos bíblicos.
As interpretações atuais são todas frutos de uma doutrina prévia, sedimentada em dogmas de fé e em determinações da razão, nunca do coração. A intuição espiritual jamais pôde fazer frente ao raciocínio calculista na atividade de compreensão dos textos bíblicos e, devido a isso, a lógica cristalina de muitos ensinamentos de Cristo não pôde emergir do cipoal de crenças torcidas e preceitos dogmáticos.
O raciocínio pode e deve ser uma ferramenta afiada nas mãos do espírito, mas nunca extrapolar suas funções, do contrário passa de instrumento a tutor do ser humano, escravizando-o. A intuição tem de conduzir, dirigir, determinar; ao raciocínio cabe a tarefa de executar, de tornar compreensível e utilizável no âmbito terreno o que foi previamente estabelecido pela intuição. Do contrário, o resultado é discórdia, confusão e cisão em todos os campos da atividade humana, aí incluídas as concepções de fé.
A divisão do Cristianismo em múltiplas facções ao longo dos séculos foi mais um resultado dessa inversão de valores. Todas elas derivaram de teologias puramente intelectivas, materialistas, que em seus múltiplos desdobramentos chegaram a encobrir totalmente o sentido original da Palavra salvadora de Cristo. Cada nova explicação racionalista das palavras atribuídas a Jesus sempre deu origem a controvérsias, cismas e até excomunhões recíprocas, e por conseguinte também a novas e sectárias ramificações do credo cristão, apoiadas em dogmas inéditos ou reformulados, sempre moldados com vistas a sustentar as próprias concepções. Nenhuma das múltiplas confissões cristãs, oriundas de tantos litígios, se inteirou até hoje de que a erudição não tem nenhum valor se não estiver subordinada à intuição. E que uma tal situação insana já impede de antemão a compreensão de qualquer ensinamento de cunho espiritual.
A interpretação bíblica que se segue não compartilha desse padrão. Não é mais uma explicação neo-dogmática de pontos polêmicos do ministério de Jesus. Tampouco constitui uma tentativa de fazer brotar mais um ramo na milenar árvore do Cristianismo, já repleta de galhos das mais variadas formas e tamanhos. Trata-se, sim, de uma nova interpretação, absolutamente autônoma e independente, lógica, sem nenhuma preocupação nem correlação com os conceitos firmados pelas inúmeras denominações cristãs, cujos fiéis se julgam todos herdeiros da doutrina de Cristo.
Um único objetivo preencheu este trabalho: procurar fazer aflorar, da forma mais clara e completa possível, o verdadeiro sentido dos ensinamentos do Mestre contidos no Novo Testamento. Para tanto, a análise dos quatro Evangelhos, em conjunto com outros textos bíblicos, foi feita à luz da Mensagem do Graal de Abdruschin, a obra Na Luz Da Verdade (publicada pela Editora Ordem do Graal na Terra), sem a qual, aliás, jamais me teria sido possível escrever este livro.
“Assim como Jesus, Filho de Deus, é do Pai, do mesmo modo o é o Espírito Santo. Ambos, por conseguinte, partes Dele mesmo, pertencendo-Lhe inteiramente, de modo inseparável.”
(Abdruschin, Na Luz da Verdade – dissertação “Deus”)