Este ditame de Cristo vale para todas as necessidades que se apresentam na vida humana. Das mais ínfimas às mais importantes. Também a necessidade máxima para o ser humano, a de encontrar e reconhecer a Verdade, só poderá ser satisfeita se ele procurar realmente, isto é, se ele movimentar-se.
O ser humano deve procurar a Verdade se quiser encontrá-la. Procurá-la realmente, sem deixar-se acomodar quando encontra apenas algumas partículas de Verdade aqui e acolá.
Vejamos como se apresenta a situação hoje na Terra. A maior parte da humanidade, a quase totalidade, acha-se completamente embotada, cega e surda ante a necessidade, premente para ela, de encontrar a Verdade e viver segundo ela. Nesse grupo amontoam-se muitas espécies humanas: materialistas, ocultistas, místicos, cientistas, fiéis ortodoxos, filósofos das mais variadas correntes e muitos outros.
Todos estes estão absolutamente satisfeitos com aquilo que julgam ter em mãos. Olham para os seus semelhantes com ares de superioridade ou com terna complacência, cientes de estarem muito à frente deles com seu saber. No entanto, o íntimo dessas pessoas, seu espírito, não tem mais anseio pela Verdade; ele dorme profundamente, e afasta de si qualquer coisa que possa perturbar esse sono. Elas nem sequer se dão ao trabalho de examinar com imparcialidade algo que soe diferente daquilo a que se apegaram. E por que o fariam? Sentem-se tão bem, tão elevadas com o que julgam possuir firmemente, que não há razão para se perder tempo com coisas inferiores…
Uma pequena parte, porém, da humanidade, trava uma dura luta consigo mesma. Sentem que a sua religião, a sua filosofia de vida, não lhes traz a tão almejada paz de alma. Falta algo! Algo que não sabem exprimir em palavras, mas que arde dentro de seu íntimo e que impulsiona para a busca.
Durante a busca, várias dessas pessoas mudam de religião ou de filosofia, procurando inconscientemente algo que se aproxime mais da Verdade. Infelizmente, ao encontrarem alguma coisa que julgam mais acertada, acomodam-se muitas vezes nesse novo saber e suprimem aquele anseio de busca. Apesar de terem assimilado algo que talvez se encontre mais próximo da Verdade, elas estacionam e deixam de se movimentar, deixam de procurar …
Nenhum alpinista coloca a bandeira do seu país no meio da encosta de uma montanha, nem mesmo próximo ao topo. Ou ele finca a bandeira no cume da montanha ou ela não será hasteada. Ele tem de escalar até o final, se quiser atingir o objetivo a que se propôs antes da subida.
Na escalada espiritual não é diferente. A paisagem pode, sim, ficar mais bonita à medida que se sobe, mas nem por isso deve-se acomodar nessa contemplação, desistindo do restante da subida. Se na ascensão, a pessoa permanecer parada numa determinada altitude, uma avalanche ainda poderá soterrá-la. Ela só estará protegida de avalanches se chegar até o topo. Subir alguns metros ou estacionar outros tantos abaixo do pico valem tanto quanto nada. O ser humano tem de escalar, sozinho, a montanha do reconhecimento espiritual até o fim, até obter a Verdade integral.
Involuntariamente a própria ciência da epistemologia (teoria do conhecimento) admite que há uma única Verdade integral. No livro Epistemologia Contemporânea, Jonathan Dancy diz: “Por muito estanque que a nossa descrição seja, teremos de admitir que pode existir mais que um conjunto coerente de proposições. Nada na noção de coerência nos dá qualquer direito de dizer que existe um único conjunto coerentíssimo, mas é óbvio que pode existir no máximo um conjunto completo de verdades.”
Mas infelizmente, durante a escalada, só algumas poucas pessoas não se satisfazem com os novos reconhecimentos obtidos e continuam procurando. Durante essa busca vivenciam muitas vezes amargas decepções, não somente ao constatar lacunas nos novos conhecimentos adquiridos, mas, principalmente, quando se defrontam com os assim chamados “adeptos”, tendo de reconhecer quão longe eles estão de viver segundo alguma doutrina talvez realmente boa. Ou, ainda, que uma diretriz que supunham correta as levaram para alvos errados, muito diferentes dos ansiados pelos seus espíritos.
Nesse ponto, a maior parte desiste de vez. Chega até à conclusão de que aquilo que anseiam não pode ser encontrado…
Com essa atitude, porém, a própria pessoa coloca um marco final na sua busca. Desiste daquilo que lhe é mais sagrado e vai se juntar às legiões de outros seres humanos acomodados em alguma doutrina errônea. A esse respeito, diz Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade:
“Os reveses no reconhecimento de caminhos errados se tornam armas afiadas nas mão de muitos inimigos, os quais podem com o tempo incutir em centenas de milhares de seres humanos uma desconfiança tal, que esses, dignos da maior lástima, ao defrontarem a Verdade, não mais desejarão examiná-la deveras, receosos de nova ilusão! Taparão os ouvidos, que de outra forma teriam aberto, perdendo assim o último lapso de tempo que ainda lhes pudesse dar o ensejo de escalar rumo à Luz.”
É um erro terrível do ser humano ainda desperto interromper a sua busca da Verdade em razão das decepções com que se depara. Teria sido então errado iniciar a busca? Não! Pois a exortação de Jesus é muito clara: procurais… e encontrareis! Estas palavras não encerram um conselho nem uma sugestão, mas sim uma exigência ! É uma ordem a ser cumprida!
A Verdade está brilhando no meio dos seres humanos. É a Palavra deixada por Imanuel, o Filho do Homem. E esta Palavra precisa ser encontrada por aqueles que têm anseio por ela. Ela precisa ser encontrada, porque é o único auxílio possível. Sem este auxílio a criatura humana não conseguirá libertar-se dos erros e das culpas que a agrilhoam, mesmo que, em sua habitual superficialidade, julgue isso possível com os sofismas do seu intelecto.
Quando uma pessoa toma a firme decisão de ascender espiritualmente, muitas vezes acontece de várias coisas se lhe oporem de modo hostil. Dá na vista até. Contudo, contrariamente ao que pode parecer à primeira vista, isso é um sinal de que tal pessoa está, realmente, começando a trilhar o caminho certo. A respeito dessa situação, diz Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade:
“Com a decisão para a ascensão, na firme vontade para o bem, inicia-se para alguns primeiramente uma época que os quer lapidar, transformar para o certo, ao deixar vivenciar o seu pensar ou atuar errado de até então! Quanto mais visivelmente isso se evidencia, tanto mais agraciado é tal ser humano e tanto mais forte já o auxílio proveniente da Luz.
É a salvação que já se inicia, o desligamento das trevas que, com isso, aparentemente, ainda o mantêm mais firmemente agarrado. Mas o agarrar mais firme e mais duro apenas parece assim, porque o espírito, já despertando e se fortalecendo, procura afastar-se das trevas que o seguram.
Apenas o anseio ascendente do espírito faz com que a garra das trevas pareça mais dolorida, porque a garra até aí não pôde ser tão sentida, enquanto o espírito voluntariamente se enquadrava ou se aconchegava a esse agarrar. Anteriormente ele não oferecia uma contrapressão, pelo contrário, cedia sempre sem se opor.
Somente com a vontade de se elevar, tem de se tornar sensível o estorvo proveniente das trevas, fazendo-se sentir incisivamente no espírito que almeja ascender, até que por fim ele se arranca à força, a fim de se tornar livre dos laços que o retêm. Que esse arrancar não possa se processar sempre sem dores jaz implícito na própria palavra, pois um arrancar não pode ser feito suavemente. Para um desprender-se calmo, porém, não sobra tempo. Para isso esta Terra já caiu demasiadamente profundo e o Juízo universal se acha em plena realização final.”
Existe ainda um grupo de seres humanos que não quer absolutamente examinar nada de novo. Por temor… Temor de se envolverem com os falsos profetas… Essa é também uma posição cômoda e covarde. Pois para saber se um determinado guia faz parte do grupo dos falsos profetas, é preciso evidentemente conhecer o que ele tem a dizer!
Não é possível emitir um julgamento ou uma opinião sobre uma determinada doutrina ou filosofia sem conhecê-la, sem saber do que se trata. Naturalmente esse julgamento pode ser rápido e infalível, se o ser humano fizer uso de sua intuição. Mas ele tem de examinar tudo com o que se depara, com imparcialidade, livre de preconceitos e dogmas. Para o ser humano que se esforça realmente em ascender espiritualmente, poucas palavras ou poucas linhas bastam para saber se algo novo tem ou não valor. A respeito dessa rejeição sistemática, sem análise, de tudo quanto é novo, com a indicação sobre os falsos profetas, diz também Abdruschin em Na Luz da Verdade:
“Não é diferente com aqueles que procuram recusar tudo quanto é novo, fazendo referência à profecia sobre o aparecimento de falsos profetas! Nisso também nada há de diferente, do que mais uma vez a indolência do espírito, pois nessa profecia, a que eles se referem, é concomitantemente expresso de maneira clara que o certo, o prometido, virá exatamente nesta época do aparecimento dos falsos profetas! Como pensam então em reconhecê-lo, se para a sua comodidade simplesmente liquidam tudo de modo leviano com uma tal referência! Essa pergunta fundamental nenhuma pessoa ainda formulou para si mesma.”
Também com as dificuldades o espírito amadurece. Podem ser obstáculos que aparecem no caminho da busca da Verdade. Este caminho, íngreme e estreito, não está bem cuidado, pois foi muito pouco utilizado. Os obstáculos são constituídos em grande parte por entulhos que dificultam o caminhar para cima, os quais foram ali depositados logo no início do trajeto por muitos pretensos mestres, na ilusão de estarem assim auxiliando a humanidade. Esses “mestres” apenas deram alguns passos na escalada e retrocederam, imaginando que o amontoado de seus próprios entulhos já fosse o ápice do caminho. Cada entulho traz porém o perigo de desviar o andarilho do caminho reto para cima, levando-o imperceptivelmente para atalhos que não o fazem progredir, mas que, ao contrário, até mesmo o conduzem para baixo.
Mas se o ser humano reconhece aquele obstáculo como algo nocivo, pode desviar-se dele ou até mesmo passar por cima, sem se incomodar com suas dimensões. Com a sua escalada progressiva perceberá que estes vão se tornando cada vez mais raros, até desaparecerem completamente. Então poderá prosseguir com redobrada energia em direção ao alvo almejado. Se ele próprio não retroceder nem se desviar desse caminho, alcançará o alvo!
Bem diferente ocorre com aqueles que também imaginam estar em busca da Verdade, mas que caminham confortavelmente pela estrada larga, pavimentada por tantas religiões e seitas, que nada mais exigem deles senão que sigam incondicionalmente as setas indicadoras do caminho, colocadas cuidadosamente por seus dirigentes. Essas setas são a mentira, o comodismo, a presunção, a vaidade e a auto-ilusão.
Por isso é preciso manter a vontade firme na busca, perseverar. Só assim o ser humano mostra-se digno de alcançar a Verdade. A sua determinação inabalável o fará suplantar todos os mencionados obstáculos. A vontade sincera e a humildade de espírito são a chave para encontrar e reconhecer a Verdade!
Cito aqui novamente uma passagem da obra Na Luz da Verdade, de Abdruschin:
“Ser forte é diferente e mostra-se diferente. O forte segue seu caminho no meio de quaisquer perigos, firme e imutável. Não se deixa derrubar e, por si próprio, não se desvia, mas conhece e vê seu elevado alvo, cuja consecução lhe é mais valiosa do que tudo o mais que se lhe queira oferecer.”