O EFEITO BORBOLETA E A CULTURA DE UM POVO
(09/08/2004)

Fernando Ribeiro

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Em 1889, no aniversário de sessenta anos do Rei da Noruega e da Suécia, um proeminente matemático de Estocolmo propôs um grande prêmio ao vencedor de uma competição. O desafio consistia em obter solução para quatro enigmas, um dos quais era demonstrar matematicamente se o sistema solar era ou não um sistema estável. Apesar de ninguém ter conseguido responder a essa questão, o matemático francês Henri Poincaré ganhou o prêmio por ter feito um grande avanço na matemática daquela época. Ele dizia que pequenas diferenças nas condições iniciais de qualquer fenômeno, produzem grandes efeitos finais. Por exemplo, influências ínfimas de pequenos corpos como cometas ou asteróides entrando no sistema solar poderiam, num prazo relativamente curto, desestabilizá-lo completamente.

No inicio da década de 1960 o meteorologista norte americano Edward Lorenz fazia pesquisas com a previsão do tempo em computadores. Ele descobriu que variações imperceptíveis nos valores de pressões e temperaturas colhidas e incluídas na entrada de dados de uma rodada de previsão do clima podiam, em questão de poucos dias, exercer uma influência tremenda no resultado das previsões. A esse fenômeno ele deu o nome de “Efeito Borboleta”. Ele usou o nome baseado na sensibilidade de pequenas variações que comportavam um enorme efeito no futuro próximo, de forma que o redemoinho produzido pelas batidas das asas de uma borboleta numa floresta tropical no Brasil poderia ser a causa de uma alteração no tempo previsto para Londres meses depois. Entretanto, foi o matemático James York que, em 1970, lendo o artigo de Lorenz de anos atrás e conhecido somente no âmbito dos meteorologistas, divulgou esses estudos na comunidade científica ao introduzir a teoria do caos, a qual pretendia explicar esse tipo de fenômeno. Os sistemas ditos caóticos são sistemas matematicamente imprevisíveis. Até hoje não existe solução para esse tipo de problema.

Os matemáticos se esqueceram de que eles mesmos, em tempos longínquos, já haviam instituído os chamados “números irracionais”, cujo nome evidencia seu próprio veredicto, pois jamais serão resolvidos pela razão. Como exemplo temos o numero “Pi”, que não foi decifrado matematicamente nem mesmo pelos mais modernos dos supercomputadores atuais. Os cálculos, nos volumes impensáveis que essas máquinas produzem atualmente, não são suficientes para resolver, racionalizando, a perfeição das proporções do círculo por exemplo. Escapa à máquina, e aos homens que a construíram, a possibilidade de uma compreensão, por ser essa compreensão por demais racional. A proporção áurea é outro exemplo disso. O numero “Phi” e a sequência de Fibonacci estão presentes nas flores, frutos, cristais, e em todas as formas vivas, além de aparecerem nas verdadeiras obras de arte, conservando seu misterioso encanto.

Apesar disso, o nosso sistema solar está em equilíbrio a milhões de anos. As leis da natureza atuam de forma viva, mantendo tudo em perfeito funcionamento. E não só o sistema solar como a terra inteira, caso o ser humano não interfira aí com sua presunção desmedida, sem nenhum conhecimento de causa, estragando o que outrora era perfeito. Em geral, pode-se afirmar que falta aos homens a humildade necessária para descobrir a simplicidade das leis perfeitas, que submetem tudo o que conhecemos e que ainda iremos conhecer.

Temos a obrigação de decifrar a Vontade do Criador, que se manifesta nas leis da natureza, submetendo-nos à elas voluntariamente. Para tanto, é necessário algo mais do que o intelecto com o seu raciocínio frio e limitado. É necessário dar a honra da perfeição ao Criador, e com humildade atentar à intuição que provém do nosso espírito, a fim compreender corretamente as leis Divinas que se refletem na natureza.

As culturas de todas a civilizações padecem de um grande mal, onde as pequenas causas do passado produzem a catástrofe atual, a qual presenciamos aumentar cada vez mais. A palavra cultura significa ato de cultivar. É um conjunto de padrões de comportamento, instituições e valores morais característicos de uma sociedade. Em nenhum desses conceitos deve estar incluído qualquer desvalor, vício ou falta de responsabilidade. Infelizmente, o que se vê por toda a parte é um excesso de desvalores tidos como “culturais”. Pequenos desvalores foram mesclados imperceptivelmente, séculos atrás, instituindo a falsa cultura que hoje degeneram povos inteiros. Como exemplo, vemos como o excesso de tolerância, peculiar dos povos latinos, em não exigir dos filhos um comportamento mais responsável, em contraste com a orientação mais exigente dos povos nórdicos. Essa fraqueza acarretou uma aberração nefasta. O costume de defender pequenas faltas dentro da família deu origem aos crimes da “cosa nostra” comprovadamente praticados já desde o século XV, conforme registros históricos.

Precisamos rever de que consiste cada um dos atuais valores da nossa cultura e atualizá-la corretamente para poder ministrá-la na consciência dos jovens, através de uma nova educação que expurgue todos os males ocultos. Podemos imaginar como lentamente o simples descaso aos animais e plantas culminou no crime generalizado que hoje se comete contra a fauna e a flora. Chegou ao monstruoso ato das touradas na Espanha, cuja crueldade é protegida por leis do Estado.

Se eliminarmos os falsos valores faremos da decantada cidadania uma força verdadeiramente construtiva, podendo mudar um país inteiro em pouco tempo. Abaixo, segue uma exígua lista de alguns despropósitos atuais que a muitos parecerá uma comicidade pretender erradicar. Com o tempo acabaram gravados como que a ferro e a fogo na alma da maioria das pessoas. Comportamentos que o povo brasileiro acostumou a aceitar, mas que agora surgem como efeitos borboleta a partir das pequenas mentiras e deslizes aparentemente sem grande importância em tempos remotos. Isso está nos levando ao caos generalizado.

Finalmente é necessário, principalmente no nosso Brasil, abandonar a atual atitude pueril e tolerante onde grande parte percebe o que está errado, mas não toma uma posição corajosa, nem que seja apenas pelo exemplo, para provocar finalmente alguma mudança. Enquanto ainda nos resta um tempo, devemos cada um por si fazer a sua parte nessa enorme tarefa de conscientização. Devemos também ser impiedosos conosco mesmos, nas pequenas coisas, buscando as falhas em nós mesmos. Isto será a única saída para não perecer na grande catástrofe que se aproxima, causada originalmente pelo simples surgimento da vaidade e da presunção entre nós seres humanos.