Enquanto as águias prezam a amplitude e as altitudes, o ser humano se ocupa em grande parte da sua existência terrena com coisas pequenas, de cunho rasteiro e até mesquinhos…
Pousada em um galho ressequido, a beira de um penhasco, encontrava-se uma águia, observando a ampla planície que se descortinava à sua frente, uma mescla de terrenos arenosos , rochosos e também de verdejantes pastagens onde manadas de animais de vários tipos se espalhavam. Outras espécies de seres vivos no entanto, entre eles répteis e pequenos mamíferos, só podiam ser avistados desse ponto pela aguçada visão da águia. Também árvores podiam ser observadas de forma esparsas na pradaria, sendo que a maioria delas se concentravam mais à beira do rio, que serpenteando, atravessava o grande vale, se estendendo até a linha do horizonte, onde, então de forma quase imperceptível, esbarrava em indeléveis montanhas de tom azul dourado.
O dia estava claro e o céu límpido sem nenhuma nuvem a toldar-lhe o intenso azul. O sol por sua vez já se encontrava a meio caminho de atingir o ápice de sua trajetória. A águia com sua plumagem de cor castanha até o pescoço e branca daí para a cabeça a tudo observava, percebia os elementos à sua volta, sentia o ar como se fizesse parte dele, tal o grau de interação com esse elemento. As manifestações do ar com todas as suas variações não lhe passavam despercebidas e eram por ela plenamente identificadas. Nada passava despercebido, sendo que todos os caminhos aéreos bem como os detalhes do relevo daquela região eram lhe plenamente conhecidos.
Após algum tempo, depois de um aparente repouso, despertou na Águia o desejo de voar, saiu então em reconhecimento; a mesma aproveitou as correntes ascendentes de ar aquecido e num impulso arremessou-se para frente deixando-se planar, após ligeira queda e rápido bater de asas.
A águia, já em vôo, continuava a sua observação, tanto do terreno como também do ar que a rodeava. Apesar de sua aparência serena, estava constantemente atenta, tanto com relação a eventual perigo, como principalmente para a possibilidade de caça, permitindo-lhe esta a necessária subsistência.
A águia em sua elevada posição na cadeia alimentar não está frequentemente exposta a predadores, mas nem por isto deixa de ser vigilante, como todas as criaturas silvestres, que lutam por sua sobrevivência, a partir do momento em que se tornam autônomas.
O senso de percepção, a destreza na caça, a habilidade no voar e também o pórtico imponente das águias têm despertado pelas mesmas, a admiração por parte dos seres humanos, passando até mesmo a sua figura a fazer parte dos simbolismos destes, sendo a sua imagem de forma figurada sob vários aspectos utilizada como elemento de destaque ou poder por pessoas ou nações, estando presente principalmente na heráldica, aparecendo em brasões de diversos formatos e cores, contribuindo nesta forma de distinção familiar.
As águias, apesar de todas essas prerrogativas, têm tido, em determinados casos, a sua existência ameaçada devido a certas circunstâncias, não por fenômenos naturais, mas sim pela atuação errada do homem provocada tanto pela contaminação do meio ambiente por elementos tóxicos, que atuam através do ciclo alimentar no sistema reprodutivo das mesmas, bem como pela escassez dos seus alimentos ocasionada pela competição inescrupulosa de caçadores. Também a destruição do meio-ambiente através de queimadas ou derrubadas de matas, seja com a finalidade de exploração de madeiras ou para atividades agro-pastoris, tem provocado importantes reflexos negativos para a sobrevivência das águias.
De todas as qualidades que ainda poderíamos citar das águias, além do seu vôo sereno e sobranceiro que tem encantado os homens, as que mais se sobressaem são a sua capacidade de olhar aguçado e abrangente, e também a forma determinada e precisa com que se lança na direção do seu objetivo. O seu voar a grandes alturas lhe propicia perscrutar horizontes de visão abertos, ao contrário do homem, que tem se tornado cada vez mais oblíquo em relação a este sentido. Enquanto as águias prezam a amplitude e as altitudes, o ser humano se ocupa em grande parte da sua existência terrena com coisas pequenas, de cunho rasteiro e até mesquinhos, com particularidades alheias, com conceitos aprendidos sem uma análise prévia e em observar o mundo de forma displicente, basicamente, pelo que lhe mostram as telas de 14, 20, 29 ou outras polegadas mais, deixando, outrossim, de analisar objetivamente os fatos que lhe são mostrados, o que lhe possibilitaria tirar daí conclusões importantes em seu benefício, vindo enfim a pensar em coisas mais elevadas, que não consistissem apenas na acumulação de valores materiais, prazeres em entretenimentos e da luta pela sobrevivência.
O ser humano deveria melhor observar e proteger a natureza, sendo grato ao Criador por todas as dádivas que através da mesma lhe são colocadas à disposição; tirando daí valiosos ensinamentos para o seu desenvolvimento e amadurecimento.
A vida terrena é relativamente curta, cabendo às gerações seguintes o mesmo direito a essas dádivas do que àquelas que hoje as antecedem, e que, no entanto, de maneira absurda e de aparente irresponsabilidade, contribuem para a acelerada degradação do Planeta e do seu ambiente de convívio.
A aparente irresponsabilidade que se verifica nesses casos, bem como em outros, muitos deles ficando como que impunes perante às leis dos homens e sem consequência mais séria, na realidade é ilusória porque conforme o que foi anunciado outrora, O que o ser humano semeia, isso ele colherá !
, ficando o retorno dos efeitos dessas ações sujeitos a questão de tempo, vindo contudo a acontecer de forma irrevogável.
Nos dias atuais, não basta apenas prevenir, mas sobretudo sanear para que sementes novas sejam lançadas em solo limpo e fértil, surgindo daí frutos proveitosos para a vida na terra. Não há mais tempo para hesitações e divagações. Que cada um pense seriamente sobre o momento atual, não apenas com relação aos padrões de conforto proporcionados pela tecnologia, mas também sobre as questões morais, sociais, éticas e salutares sob as quais vivemos.
Que o Vôo das Águias possa ser um elemento de reflexão e inspiração para novas e boas semeaduras, permitindo àqueles que se esforçam, um dia, reconhecerem a grandiosidade de estarem na Luz da Verdade.