Encarnado na Terra para trazer a Palavra do Criador aos seres humanos terrenos que, há milênios, em grande parte, já haviam sufocado o espírito, entregando-se ao domínio do intelecto, Jesus, vindo das Alturas Luminosas como parte do Criador, sofreu e morreu na cruz romana. Mas não para redimir qualquer responsabilidade ou culpa dos seres humanos, porém, para, com a Palavra do Pai, levar as pessoas a refletirem na Verdade trazida por ele e, voluntariamente, reiniciarem seu desenvolvimento espiritual e assim, tornarem-se espíritos desenvolvidos que podem ter existência consciente nesta maravilhosa obra que é a Criação.
Em inúmeras estórias bíblicas pode-se ler a descrição do sacrifício de ovelhas para transferir as consequências de atos humanos contrários às Leis da Criação, para os inocentes animais, com o intuito de liberar os autores da responsabilidade ou culpa de tais atos cometidos. A Lei da Reciprocidade, perfeita, pois emanada da Vontade do Criador Perfeito, outorga a cada um com a mais absoluta e perfeita justiça, as consequências de seus atos, não importa se estes tenham sido realizados por própria vontade, por ordem de alguém ou em nome de um Estado ou Nação. Esta carga é intransferível, e o que se consegue com esses sacrifícios é aumentá-la, tornando-a esmagadora até que haja o reconhecimento do erro e o esforço consciente para redimi-lo, o que só poderá ser feito pelo próprio autor. Ninguém consegue se esquivar das responsabilidades de seus atos, pois o retorno é certo, quer seja nesta matéria grosseira ou na matéria fina, no além, exatamente para que o espírito humano possa aprender as Leis, desenvolver-se e tornar-se auto-consciente na Criação.
A prática da imolação de ovelhas e de pombos era realizada, ao tempo de Cristo, principalmente na época da Páscoa, no Templo de Jerusalém. A ovelha ou o pombo a ser sacrificado não podia ter defeitos, ou cortes ou anormalidades em seu corpo. Para ser considerado apto, o animal era levado por seu dono ao sacerdote, que atestava ou não sua aptidão para o sacrifício. Se o sacerdote considerava-o inapto, o dono teria de conseguir outro em bom estado que satisfizesse ao sacerdote… ou adquirí-lo da criação do sumo sacerdote Anás e do seu genro Caifás, também sumo sacerdote. Assim, a Páscoa era, naquela época, uma semana de muitos negócios… e bastante lucro. A família de Anás era notoriamente rica bem como (desprezada)odiada pelo povo.
Mas os negócios não ficavam só aí. As ovelhas e os pombos somente podiam ser adquiridos com o dinheiro da Judéia. A moeda romana era considerada imprópria para a compra dos inocentes animais para o sacrifício. Naquela ocasião, os cambistas (trocadores de moeda) instalavam-se no Templo, oferecendo seus préstimos de troca da moeda e lucrando também às custas dos que acreditavam poder redimir suas culpas com a imolação de um animal. Este mercado no Templo era chamado de Bazar de Anás.
O poder terreno de Anás e Caifás era muito grande. O Templo era também um dos seus negócios, pois eles tinham participação em todos as trocas e vendas que ocorressem ali dentro. Além do poder econômico, eles tinham o poder religioso, pois eram os sumos sacerdotes do Templo, administrando e controlando os tesouros ali depositados. Mas não detinham somente estes poderes, pois eles também presidiam o Sinédrio (espécie de Senado e Suprema Corte, juntos), e estavam politicamente entrelaçados com Pôncio Pilatos e os romanos. Aos romanos só interessava recolher os tributos para Roma e manter o povo quieto e acomodado. Assim, eles eram os poderosos da Jerusalém de então.
A chegada de Jesus em Jerusalém foi uma festa de boas vindas esfuziante da população, pois sua fama o precedia, e onde encontrava solo adequado nas almas humanas, a semente da Verdade de suas Palavras crescia muito rápido nos corações.
O Templo era a Casa de Seu Pai, um local que deveria ser de profundo respeito, de quietude, de paz, de harmonia, onde se falasse o estritamente necessário em voz muito baixa, demonstrando civilidade, respeito, amor e compreensão ao Criador. Não poderia ser diferente se os seres humanos honrassem o Criador.
Mas o que o Filho de Deus, encontrou no Templo: algazarra, desrespeito, disputas por dinheiro, animais berrando e sujando, enfim, o Templo transformado em um bazar comercial, contrariando o sublime significado da edificação. Sua atitude corajosa é imediata, expulsando os vendilhões daquele sagrado local.
Para os sumos sacerdotes, a vinda de Jesus, poderia minar-lhes o prestígio sacerdotal, que em breve se revelaria ao povo, e este poderia se revoltar. A interferência de Jesus no Templo, no entanto, ao intervir nos negócios dos sumos sacerdotes, fizeram-lhes apressar a conspiração para neutralizar a ação do Grande Mestre.
Depois de conseguir quem o traísse, de mandar prendê-lo, de julgá-lo no Sinédrio com o apoio de falsos testemunhos, de acusá-lo de blasfemo, Caifás sentencia-o à morte, como meio de livrar-se da ameaça que Jesus representava ao sistema que lhe conferia poder e influencia, mas para isso tinha que encaminhar o processo à Pilatos para a confirmação da sentença, pois era submisso ao poder de Roma, que dominava a Judéia com punhos de ferro e muito rigor.
Mas naquela ocasião, Caifás julgou-se a si próprio, bem como todos aqueles que, feito turba humana de manobra política e dos interesses escusos dos sumos sacerdotes, exerceram pressão para a crucificação de Jesus. Todos eles condenaram o Nazareno, bem como aqueles que, dia após dia, torcem suas Palavras, e aqueles que aceitam sem refletir o falso conceito de que ele tenha assumido as culpas dos seres humanos, mesmo sendo inocente das acusações imputadas. Precisaria que as Leis Perfeitas e Imutáveis do Criador se tornassem imperfeitas e mutáveis para que acontecesse alguém expiar as culpas de outrem perante estas Leis. Mas, tal circunstância é simplesmente impossível e nem pode ser levada em consideração…
Se as pessoas que estavam no julgamento de Jesus, utilizassem sua intuição, que é a voz do espírito, logo reconheceriam o jogo de interesses e poder dos sumos sacerdotes e não dariam apoio à condenação do Nazareno. Até se usassem somente a lógica e analisassem as palavras do Mestre, estas chegariam em seus corações (espíritos), uma vez que continham a Verdade.
Jesus trouxe a Palavra de Amor do Criador, visto ser Ele mesmo esse Amor vindo do Pai. A Justiça do Criador, no entanto, é inseparável do Amor do Criador, e todos os Atos Dele emanados são perfeitamente acordes com Seus Atos em todos os tempos, passados, presentes e futuros, denotando total imutabilidade pois perfeitos em todos os sentidos.
Dois mil anos se passaram e a maioria continua aceitando sem refletir que Jesus sacrificou-se para purgar as culpas da humanidade. Aceitando sem a mínima reflexão intuitiva, lógica e justa, apenas aceitando pela conveniência material e para não pensar que a Lei da Reciprocidade não admite injustiças e outorga a cada um, com a mais perfeita imutabilidade, tudo aquilo que foi por ele praticado. Esta é a Lei que permite ao espírito o seu desenvolvimento, através de experiências vivenciais que lhe trazem de volta as consequências de seus atos, para que assim possa ser aprendido o caminho da existência auto-consciente, respeitando as Leis e cooperando na grande Obra.
Jesus veio à Terra da mesma maneira que todos os seres humanos, através de encarnação em um corpo terreno gerado como todos os demais. Sua Essência porém não era espiritual como a essência das pessoas, mas Divinal, e com isso muitíssimo mais forte e poderosa que a espiritual. Seus milagres continham a Força de Seu Pai, mas não se afastavam em nada, absolutamente em nada, das Leis Eternas do Criador, não sendo, em nenhuma hipótese, arbitrárias. E como todo corpo terreno ao morrer, não ressuscitou carnalmente nesta matéria grosseira. Apenas sua Essência saiu do plano terrestre e retornou ao Pai, deixando aqui o corpo material destinado a uns poucos decênios na Terra. Mas esta Essência não era nem material e nem espiritual, mas uma parte do Divino Pai.
A fé em Jesus, nas suas palavras, nos seus atos, nos seus milagres, juntamente com as vivência espirituais dos seres humanos nestes dois milênios passados, deveriam conduzir as criaturas à convicção das Leis Eternas e ao rumo do Reino Espiritual, que é a meta do espírito auto-consciente. Mas a fé foi muito fraca, e o intelecto interceptou ao espírito as vivências para o seu desenvolvimento.
Hoje resta ao espírito, o caminho do conhecimento irrestrito das Leis, que ao re-despertar para a verdadeira existência auto-consciente, possa humildemente curvar-se à Vontade do Criador de forma voluntária e completar a tempo o seu desenvolvimento.
A verdadeira missão de Jesus, trazer a Luz e a Verdade emanadas da Perfeição Criadora, ressurgirá vigorosamente em todos os cantos da Terra, destruindo as falsas interpretações que desviaram as criaturas humanas do rumo previsto nas Leis.
Que a Páscoa traga o reconhecimento espiritual!