A PRAGA DO SÉCULO
(03/11/2005)

Maria de Fátima Seehagen

“A verdadeira vida é vivida nas pequeninas mudanças”. (Leon Tolstoy)

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Conversavam animadamente, falavam de alguém. Não medindo as consequências das suas palavras, o que diziam era, de certa forma, ofensivo. Pior ainda, não condizia com a verdade. E quanto mais uma pessoa falava, mais uma outra perguntava, instigando sempre novos comentários. Mentiras, falsos testemunhos, afinal, como diz o ditado: "quem conta um conto aumenta um ponto". Rapidamente o grupo se dividiu em opiniões favoráveis e contrárias, terminando a conversa em completa desarmonia.

Não importa se o faziam por alguma desavença, por desamor, falta de escrúpulos, indiferença ao semelhante, ou por simples divertimento, o fato é que tais comentários poderiam destruir a reputação adquirida ou fazer quem escutasse formar um conceito negativo sobre a pessoa em questão.

Fiquei então imaginando esta pessoa, como se ela andasse tranquila, desavisada, no caminho selvagem dos atuais valores humanos, com um belo traje branco e, de repente, uma porção enorme de lama a alcançasse. Distraída com a sua própria vida e seus próprios pensamentos, nem nota a mancha em sua roupa que irá acompanhá-la por muito tempo, tanto que, talvez, quando perceber não possa mais a tornar alva…

A Fofoca, o mexerico, a intriga, a bisbilhotice, a difamação, filhos da cobiça e da inveja, são males contra a honra que, como uma praga, crescem em qualquer lugar e se multiplicam com facilidade. Seduzem e atraem, parecendo, superficialmente, não causarem mal a ninguém, enquanto, na verdade, solapam a reputação, não apenas da vítima. Na ótica dos “fofoqueiros de plantão”, esta é apenas uma brincadeira inconsequente, considerada tão normal que há muito já calou a voz da consciência, enquanto que, na realidade destrói os três envolvidos: quem fala, quem ouve e a pessoa sobre quem se fala.

Há séculos, tempero indispensável em reuniões e festas, na saída das escolas, nas mesas de bar e, agora com um alcance muito maior, através das redes virtuais, a fofoca foi recentemente definida por pseudo-estudiosos como antídoto para a monotonia e a solidão. Algumas curiosas estatísticas chegam a afirmar que 60% das conversas atuais são dedicados às fofocas… – Seria isto mais uma fofoca?

Chegando às raias de um problema social, nesta época de interdependência global, existe hoje uma verdadeira indústria por trás deste comportamento completamente inadequado. Revistas, programas de televisão especializados, jornais sensacionalistas, milhares e milhares de pessoas envolvidas na indústria milionária do mexerico. Celebridades são criadas diariamente apenas para nutrir este comércio sórdido.

Vamos inverter um pouco a ótica e analisar o problema pelo lado da vítima de uma fofoca. Mais, vamos nos imaginar como alvos indefesos de tais comentários. Passado o primeiro momento de revolta, sentimos vergonha e uma profunda tristeza como se tivéssemos sido roubados em nossa alegria de viver.

O escritor e filósofo alemão Abdruschin em uma das suas obras, em que comenta Os Dez Mandamentos, nos faz pensar quando explica o Sétimo Mandamento – Não roubarás! “À propriedade de um ser humano pertencem também a sua reputação, o conceito que goza na sociedade, os seus pensamentos, o seu caráter, e ainda a confiança que goza perante terceiros, se não de todos, ao menos perante este ou aquele”. De onde podemos deduzir com simplicidade que, ao fofocar, um indivíduo rouba de outro todas estas suas propriedades! Também no Quinto Mandamento, quando pergunta: “Já refletistes, uma vez que seja, se de fato não há no teu caso uma espécie de matar moralmente e que matar moralmente equivale a assassinar fisicamente?”

Chegando neste ponto, temos que ser realistas: nos mais primários princípios éticos, podemos encontrar que rebaixar uma pessoa só significa rebaixar a si próprio. De nada nos adianta lamentar a situação do mundo, suas guerras e maldades, pois tudo isto começa quando começamos a difamar, a caluniar, em suma, a fofocar.

Da mesma forma, não podemos nos valer da desculpa de que apenas escutávamos ou líamos passivamente. Na verdade, aquele que escuta é o único que pode, efetivamente, parar toda esta descarga verbal negativa interrompendo o mal e auxiliando a si próprio, protegendo a vítima da fofoca e salvando o fofoqueiro do seu suicídio lento.

Tudo o que vai, volta multiplicadamente, inclusive as palavras maldosas.