Com pesar venho acompanhando as notícias veiculadas pela imprensa sobre o Corredor Empresarial na Rua Maria José Ferraz Prado, bairro de Itatuba, em Embu das Artes (SP).
Residi nesta cidade por mais de 30 anos. Hoje, residindo em Brasília, acompanho com preocupação a situação de minha cidade na qual vivi a maior parte de minha vida e onde também trabalhei muito, pesquisando junto com especialistas e jovens a avifauna da região.
De 2002 a 2004, estive bastante envolvida com esse projeto de identificação da avifauna de Embu, embrenhada na mata, munida de binóculos, luneta e máquina fotográfica, junto com Marc Egger, nosso especialista em identificação de aves e animais e guia turístico internacional. Por diversas vezes, jovens residentes em Embu nos acompanhavam nessa empreitada, nos auxiliando com os instrumentos, inclusive captando momentos raros com a máquina fotográfica.
Um desses momentos de emoção indescritível foi quando estávamos perto da Estrada do Japonês, divisa de Embu com Cotia. Eu dirigia o carro bem devagar, Marc Egger estava ao lado olhando atentamente a mata e o jovem Luciano Russo com a câmera no banco de trás.
De repente, Marc num sobressalto pede para eu parar o carro e voltar um pouco. Ele precisava se certificar se realmente havia visto aquela imagem. Pensou ter visto o Gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus). Ele estava certo! Ficamos em êxtase. A presença do Gavião-pega-macaco, segundo Marc, é indicador de matas de boa qualidade, pois ele se alimenta de pequenos mamíferos, inclusive macacos, daí o seu nome. Conseguimos captar esse momento raro com a câmera, graças à rapidez de nosso companheiro Luciano. Aquela ave enorme, maravilhosa, estava lá, parecendo posar para nós.
Outro fato marcante que também pudemos registrar com nossa câmera foi a nidificação e nascimento de dois filhotes de Jacuguaçu (Penelope obscura). Essa espécie de aves esconde muito os filhotes. Já havíamos tido a oportunidade de ver filhotes bem pequenos, no entanto, sem registro fotográfico. Desta vez, porém, foi diferente. Sentindo-se protegida, a fêmea fez um ninho na forquilha de uma pitangueira, no meio de uma linda bromélia. Para nossa felicidade o ninho estava ao alcance de nossos olhos e também da câmera. Logo após o nascimento, a imagem dos pequenos filhotes recém saídos dos ovos foi captada por Indaia Emília Schuler Pelosini.
O aparecimento do macaco-bugio também nos emocionou e montamos guarda para fotografá-lo o que, finalmente, depois de muitas tentativas, tivemos a sorte de conseguir.
Esse trabalho nas Matas de Embu foi extremamente gratificante e trouxe muita alegria. Mas trouxe também muita preocupação. Ao pesquisar, descobrimos que alguns desses animais e aves que estávamos vendo no Embu, faziam parte de uma lista de espécies ameaçadas do Atlas Ambiental do Estado de São Paulo. Para que essas aves e animais pudessem encontrar no Embu, hoje e sempre, seu abrigo e alimento, o que só se torna possível com a conservação dos últimos remanescentes de matas que ainda temos, era urgente que tomássemos algumas atitudes. O que poderíamos fazer? Trabalhos relacionados à educação ambiental foi a solução imediata que encontramos para noticiar as nossas descobertas e ajudar a população a compreender a importância desse habitat (projetotangara.com.br).
Por causa de pessoas que não pensam no desenvolvimento sustentável, mas apenas nos lucros imediatos, é que a nossa Mata Atlântica está cada vez mais destruída, restando cerca de 7%. Atualmente, a cada 4 minutos, perdemos uma quantidade relativa a um campo de futebol desse incrível ecossistema.
Até quando isso vai continuar? Até vermos todos os nossos animais e aves serem extintos? Ou até ficarmos sem água? Será que realmente vamos ter que viver isso para aprender?
Mas então… será tarde demais. Temos que fazer algo AGORA! Não deixar que destruam o pouco que resta da Mata Atlântica!
Embora residindo atualmente em Brasília, faço minha todas as vozes de protesto e indignação contra a instalação desse Corredor Empresarial/Industrial na Rua Maria José Ferraz do Prado!
Vamos lutar para que a Mata Atlântica do Embu não seja destruída!
No Município de Embu das Artes, em São Paulo, querem transformar um corredor ecológico e turístico em corredor industrial, destruindo talvez o último pulmão verde da Grande São Paulo e o habitat de diversas espécies de animais silvestres, agora ameaçados de extinção. Isso agrava ainda mais o desequilíbrio da natureza que já vivemos, ameaçando o futuro de todos nós. Já não bastam as catástrofes que estamos assistindo e ainda vamos agravar a situação? Tem gente dizendo que o tempo ficou louco. Louco ficou o ser humano que destrói a natureza. Apelo às autoridades competentes que impeçam mais esse crime contra a natureza. (Mariano Cyganczuk)