O ocidente, recentemente, passou a ter maior contato com o Oriente nos mais variados campos, seja a filosofia, o modo de viver, a alimentação, as atividades físicas e a meditação, seja tudo o que se refere à saúde.
Os fluxos de migração, a globalização e a mídia contribuíram para essa mesclagem.
Há um grande fascínio do Ocidente pelo Oriente; com certeza, o contrário também ocorre. No seu íntimo, o ocidental sente uma ânsia de conhecer o modo de viver do oriental. Isto acontece porque o ocidental, mais voltado ao racional e ao material, percebe a existência de algo interior, mais intuitivo, junto com a evolução da tecnologia. Vários conhecimentos dos antigos chineses, sua filosofia e seus conceitos estão sendo aos poucos desvendados pela ciência ocidental.
Os antigos chineses criaram o dualismo universal, do Yang e do Yin, dois conceitos opostos que se completam, tornando-se únicos. Hoje, estes mesmos princípios encontram-se nas teorias da física quântica.
Os antigos chineses agregavam a importância da mente e da consciência, e eis que a física quântica vem mostrar a importância da consciência nos fenômenos subatômicos; surge na atualidade a medicina mente-corpo.
Na área médica, cada vez mais existem adeptos de uma medicina não ortodoxa, não convencional, bem como aumentam cada vez mais os consumidores desta prática médica.
É interessante observar que a medicina chinesa é uma das mais antigas do mundo; ao mesmo tempo, o povo chinês, que vive num extenso território com poucos recursos naturais, tem alta longevidade e forma o país mais populoso do planeta. Tudo isso, com certeza, deve-se ao sistema de saúde, à dietética e ao modo que os chineses têm de encarar a vida.
São poucos os livros no Ocidente que tratam de modo suave a medicina chinesa. Ou são publicações técnicas sobre a acupuntura ou tratam de assuntos específicos, como a fitoterapia chinesa, o Feng Shui, o Tai Chi Chuan ou a culinária chinesa.
A finalidade deste livro é esclarecer a maioria das dúvidas que assolam a mente dos ocidentais em tratamento pela acupuntura. As dúvidas mais frequentes foram listadas em forma de capítulos. O leitor tanto poderá ler os capítulos na sequência apresentada como consultar isoladamente as respostas de seu maior interesse, sem que isso prejudique sua compreensão.
Agradeço o levantamento das questões aos pacientes, aos alunos da graduação e da pós-graduação, aos meus colaboradores e as minhas filhas Márcia Lika e Érika.
Ysao Yamamura
center-ao.com.br
Acupuntura é a técnica de tratamento da medicina chinesa que consiste em inserir agulhas de acupuntura em determinados pontos do corpo humano, a fim de mobilizar o Qi (Energia) do corpo humano. Parte-se do princípio de que a não circulação adequada do Qi redundaria em desarmonia energética, podendo, então, ocasionar manifestações clínicas.
Segundo os conceitos médicos dos antigos chineses, o nosso corpo é percorrido por meridianos ou Canais de Energia. Através deles circulam Energias (Qi) de diversas naturezas, como a Energia de Nutrição (Yong Qi) e a de Defesa (Wei Qi). Os meridianos energéticos estão unidos aos órgãos internos (coração, pulmão, estômago, etc.). Estes, por sua vez, se comunicam com o meio exterior exatamente por meio desses meridianos, que afloram na superfície da pele através dos chamados Chen-Chui, que foram traduzidos como pontos de acupuntura. A estimulação desses pontos, além de fazer circular o Qi (Energia) pelos meridianos em si, também é um processo que estimula os órgãos internos.
Assim, por exemplo, uma doença inicial do pulmão, como asma ou bronquite, pode manifestar-se ao longo do trajeto do respectivo meridiano e desencadear dores ou falta de força. A estimulação de pontos de acupuntura localizados nesse trajeto é um dos meios de tratar essa dor e as doenças pulmonares.
A acupuntura originou-se no país do Centro, hoje, China, e a época de seu aparecimento perde-se no tempo; com certeza, isso ocorreu há mais de três milênios. Da China, ela propagou-se para a Coréia, a Indochina e o Japão. Somente no século XIX e que os ocidentais tomaram conhecimento dessa técnica milenar dos antigos chineses.
Por volta de 2.300 a.C., o Hoang Ti, juntamente com o seu médico Ki Pha, compilou os conhecimentos então existentes sobre a acupuntura, reunindo-os em dois livros, o Su Wen e o Ling Shu que compõem o Hoang Ti Nei King (Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo). O primeiro Iivro trata da filosofia e dos conhecimentos básicos da Medicina Tradicional Chinesa; o segundo descreve as formas de tratamento. Os preceitos contidos nesses dois livros é que norteiam os acupuntores ainda hoje e as pesquisas científicas cada vez mais têm confirmado a veracidade do conteúdo desses Iivros.
É importante frisar que a Medicina Tradicional Chinesa baseou-se na Natureza, aplicando ao ser humano o conhecimento a respeito dela. A Natureza não erra, o ser humano é passível de errar.
A acupuntura realizada no Ocidente foi trazida da China pelos sinólogos (estudiosos da cultura chinesa em geral). Ela é, portanto, a mesma, em termos de uso dos pontos de acupuntura. Mas os sinólogos estudiosos da acupuntura não adequaram a situação geográfica da China (hemisfério Norte, Oriente) com a do Ocidente (hemisfério Norte ou Sul, Ocidente). É o que ocorre, por exemplo, no caso do Brasil, que se situa no hemisfério Sul e no Ocidente, uma posição frontalmente oposta á da China. Sabe-se, no entanto, que os fenômenos eletromagnéticos terrestres são diferentes em relação à localização topográfica. Por isso, muitas vezes a metodologia aplicada em uma localização topográfica (como a China) pode não ter efeito idêntico em outra localização (como o Brasil, neste caso).
O Ocidente, pelo seu avanço tecnológico, tem procurado substituir a inserção de agulha de acupuntura por outros meios, como aplicação de laser (Iaserterapia), emprego de cores (cromoterapia), aplicação de estímulos elétricos (TENS), etc. No entanto, os recursos clássicos da Medicina Tradicional Chinesa são a inserção de acupuntura e aplicação de moxabustão.
As concepções da Medicina Tradicional Chinesa são derivadas de um conhecimento maior, a Filosofia Chinesa, baseada nas leis do Universo, da Natureza, das Concepções da Vida e da Morte, da Física, das Ciências puras e biológicas. A partir de um campo filosófico do Tao, da dualidade dinâmica do Yin e do Yang, do Princípio dos Cinco Movimentos, a Medicina Tradicional Chinesa reflete a integração do ser humano ao meio ambiente, e deste com a fisiologia do corpo humano.
O exemplo maior desta integração é o alimento, tanto Celeste (ar-oxigênio) quanto Terrestre (comida), que sofrem intensas alterações sazonais, topográficas, geográficas, climáticas. Estas duas formas de Energia, a Celeste e a Terrestre, inerentes ao alimento quando ingerido, vão fazer parte do nosso corpo, nutrindo, fortalecendo, reparando, harmonizando as nossas funções energéticas e fisiológicas, ou mesmo podendo trazer alterações do funcionamento dos Órgãos (Zang), Vísceras (Fu), tecidos; de modo que se forem introduzidas Energias muito diferente, por meio de alimentos, às da nossa composição, elas podem dar início a um processo de adoecimento.
A Medicina Tradicional Chinesa enfoca sobremaneira a importância do alimento para a constituição da forma física e do psíquico, pois é ele que vai constituir o nosso suporte material, a parte Yin à qual ao Yang vai fixar-se, para promover toda a nossa dinâmica da mente e do corpo.
O ser humano forma-se a partir de duas células, os gametas, de peso imensurável, que após a fecundação, à custa da Energia Ancestral Essencial formada, sofrem a multiplicação celular até o embrião chegar a fase trofoblástica, quando passam a receber a Energia Materna, proveniente dos Alimentos do Céu e da Terra. A partir deste momento, o feto passa a receber a matéria, os nutrientes e Energia Adquirida (pela mãe) para formar o seu corpo físico e mental. Do período de gestação ate o final da gravidez, o feto incorpora em torno de 3.000 a 3.500g de matéria proveniente da alimentação materna.
Quão importante é, portanto, a alimentação materna, assim como o estado funcional do tubo digestivo, dos Órgãos, das Vísceras e da Mente da gestante. Entretanto, é uma impropriedade pensar somente em alimentação; é necessária a integridade do corpo físico e men¬tal, a fim de que todos esses elementos possam se direcionar para a boa formação dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras), da Energia Vital e da Essência Sexual do feto. A gestante com os Zang Fu doentes, com a alimentação desregrada, com os Sete Sentimentos afetados (que constituem o estado emocional reprimido) fatalmente irá gerar criança já com alterações energéticas, funcionais e/ou orgânicas.
O recém-nascido passa a adquirir o "Qi Adquirido" à própria custa a partir da respiração (Qi Celeste) e da alimentação (Qi Terrestre). Por meio desta integração, vai-se constituir o seu corpo físico e energético. Obviamente, o tipo de alimento irá influir nesse corpo e moldá-Io, de maneira significativa, tanto em vitalidade quanto em durabilidade e resistência a agressões exógenas de origem física e psíquica.
Assim, a boa integridade, a vitalidade e o dinamismo dos Zang Fu estão Iigados intimamente aos aspectos energéticos dos alimentos e por isso a Medicina Tradicional Chinesa os leva em alta consideração.
Os alimentos compreendem dois aspectos: o nutritivo (composição química), largamente estudado em Nutrição, e o energético, ligado aos conceitos do Yang, do Yin, e as funções energéticas que esses alimentos produzem no nosso corpo.
O conhecimento integrado desses dois aspectos dos alimentos é o que vai nos proporcionar melhor adequação para a alimentação da pré-gestante, da gestante, do recém-nascido, da criança, do adulto e do velho.
Adequar a alimentação é saber dos seus efeitos sobre o nosso corpo, e saber a maneira de intervir nos casos de Vazio ou Plenitude dos Órgãos e das Vísceras, e saber o meio para repor os gastos energéticos e da matéria, proporcionar a vitalidade e a longevidade celular, evitar os processos degenerativos, o envelhecimento precoce e, principalmente, o aparecimento de processo tumorais.
A Natureza fornece-nos várias fontes de alimentos, cada qual com características que possam ser adequadas ao nosso organismo.
O ser humano, por natureza, é um ser onívoro que deve ingerir alimentos tanto de origem vegetal quanta de animal e de seus derivados. Sendo assim, o nosso tubo digestivo, principalmente os intestinos, foi adequado para este tipo de alimentação. Os herbívoros possuem os intestinos mais longos, os dos carnívoros são mais curtos, e os dos onívoros tem comprimento intermediário. Assim, se o ser humano alimentar-se exclusivamente de vegetais (vegetarianos) não terá os intestinos suficientemente longos para a digestão e a assimilação energética e nutritiva dos alimentos, assim como, se fizer alimentação somente de carnes (carnívoros), o seu intestino será longo para este tipo de alimentação, trazendo, em consequência, distúrbios do trânsito intestinal, retenção por um período mais longo das fezes, e consequentemente promovendo maior absorção de toxinas intestinais e de radicais livres devidos ao fenômeno de putrefação, e isso pode ocasionar processos degenerativos, envelhecimento precoce e formações de tumores.
O uso adequado e balanceado de alimentos de origens vegetal e animal e a maneira mais correta de harmonizar as necessidades alimentares do corpo com a fisiologia normal do tubo digestivo. A adequação depende de vários fatores: da idade, do crescimento, do desenvolvimento, das atividades física e mental, da localização geográfica, do clima, etc. De maneira geral, até o final do desenvolvimento e do início do declínio (+ ou - 40 anos), deve-se utilizar mais alimentação de origem animal (2/3, e 1/3 de origem vegetal) e, após o declínio, fazer (2/3 de origem vegetal e 1/3 de origem animal e derivados).
Alimentar-se bem não significa, necessariamente, comer do melhor, do mais caro, do importado, mas sim alimentar-se com aquele produto que contenha a Energia necessária para o corpo naquele momento, Energia esta que pode estar presente nas folhas da cenoura, na casca da laranja, no fígado da vaca, na ostra, e assim por diante.
A fim de entender melhor a interação dos alimentos com o corpo, é conveniente conhecer a origem energética dos seres vivos e as influências que as Energias Celeste e Terrestre exerceram sobre eles. Assim, pode-se usufruir, da melhor maneira, aquilo que a Natureza oferece, sem prejudicá-Ia, sem lesá-Ia, a fim de que ela possa servir ao ser humano eternamente.