A VERDADEIRA LIBERDADE
(09/07/2009)

Hamilton Serpa

…Livres das ansiedades, das exigências e dos sentimentos desestabilizadores que deixamos surgir dentro de nós…

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Assisti, há muito tempo, o filme Memórias do Cárcere baseado no livro de Graciliano Ramos, que tem como ator principal Carlos Vereza.

Tudo que assistimos, ou que lemos, ou que escutamos, e que não esquecemos, independente do tempo, ficando gravado na nossa memória, considero que passa a fazer parte, mesmo inconsciente da nossa personalidade ou do nosso modo de ver as coisas.

Para ilustrar cito duas frases que a mim marcaram em momentos distintos da minha adolescência, que são:

Uma de Dale Carnegie: “Quando uma situação estiver muito ruim, pense: Ela pode ficar pior? Se a resposta for sim, então quer dizer que ela não está tão ruim assim, e se a resposta for não, o que você está esperando, ela só tende a melhorar”.

E a outra, por conclusão, ao terminar um livro escrito pelo filósofo Krischnamurti, que é: “Se Krichnamurti pensa como alguns de nós pensamos ou se alguns de nós pensamos como ele pensa, nós temos um pouco de Krischnamurti e Krischnamurti tem um pouco de nós, pois todos captamos algo, desta grande enciclopédia que é o mundo dos pensamentos que nos envolvem e a todo o planeta e que influenciam tanto a nossa vida”.

Mas o filme, tão bem protagonizado por Carlos Vereza fez-me idealizar a liberdade que eu ansiaria adquirir um dia, quando ainda tinha lá meus quinze anos.

O filme me reafirmou a noção de que a liberdade é algo íntimo, está no que sentimos dentro de nós e não de espaço físico e nem na disponibilidade financeira de irmos ou não para qualquer lugar.

O Graciliano Ramos, representado no filme, não teve dificuldade nenhuma de conviver no cárcere, não era uma cela fechada, mas tinha limitações. Tinha uma postura como se estivesse livre e realmente estava livre. A alma, o estado íntimo dele, era livre, independente aos espaços em que o confinaram.

Eu lembro que fiquei maravilhado com o personagem, a forma como ele se relacionava com todos, era como se estivesse passeando lá, aproveitando aqueles momentos, não os vendo como perdidos, mas sim como, simplesmente, a continuidade da vida, como se aquela falta da liberdade fosse apenas uma contingência, e ele a encarava com a maior naturalidade e ela não o impedia de continuar com a sua vida normalmente.

Temos outros exemplos de pessoas que também tiveram a sua liberdade de ir e vir cerceada, mas que nem por isto desenvolveram rancores ou sentimentos negativos, embora a prisão em sí, tenha sido arbitrária, mas as suas vidas não perderam em riqueza e nem a qualidade íntima por causa disto.

O exemplo mais clássico é o caso de Nelson Mandela. Ele é a própria liberdade, de que falo,  em pessoa. Saiu da prisão sem nenhum ódio, nem nenhum ressentimento, e fez as reformas vitoriosas no seu país, sem destilar rancores, como se tivesse ficado preso só uma semana e não os mais de vinte anos.

É um tipo de homem que nunca é derrotado, por mais que lhe impinjam dificuldades, pois possui perseverança e paciência e é interiormente livre.

Eu vejo este estado de espírito como a verdadeira liberdade a que todos, acima das outras lutas diárias que temos, devemos ter sempre em mente em adquirir. Como objetivo final para a nossa vida e como o coroamento da nossa existência.

Pois com esta aquisição teremos conseguido o principal para nós, que é a paz e a liberdade interior e seremos felizes, não importando os frutos que a vida possa nos oferecer ou os bens materiais que tenhamos conseguido ou não. Eles passam a ser secundários.

Chegar ao ponto em que as vicissitudes não alterem o nosso íntimo, sempre focado num bem maior. Torná-lo inabalável, este, acredito, é o caminho a ser seguido para conseguirmos realmente nos sentirmos livres. Livres das ansiedades, das exigências e dos sentimentos desestabilizadores que deixamos surgir dentro de nós em função de causas externas ou não.

Se conseguirmos isto, teremos sido, principalmente, vencedores de nós mesmos.

O filósofo alemão, Abdruschin, também tem uma frase, dita na sua Mensagem do Graal – Na Luz da Verdade, que também exemplifica bem isto: “O homem que não é livre interiormente, será um eterno escravo, mesmo que seja um rei”.

“A felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo.”
(Roselis Von Sass)