MISTÉRIOS DA VIDA
(05/02/2011)

Hamilton Serpa

imagem

Como somos misteriosos nós seres humanos
Quantos pesos carregamos dentro deste peito
Quantas cicatrizes abertas carregam cada um
Tantas feridas deveriam estar sendo fechadas
Nesta caminhada que nos mantém sobrevivos.

No fim desta caminhada está um ponto fugaz
Um destino certeiro feito um tiro de morteiro
Que todos levarão e que não deveria assustar
O ponto crucial e que nos levará a continuar.

Sendo visto lá do nosso futuro daquele ponto
Só vemos um fio que todo dia vai diminuindo
Até vir propiciar a nossa passagem solitária
Ela deixará muitos a chorar por não saberem
Que a vida aqui é só estágio pelo qual passamos.

Chorarão os que nos amam e não sabedores
Assim como nós antes que a vida não tem fim
Seremos agradecidos pelos momentos tidos
Que nos propiciaram muitos enlevos afetivos.

O que será que já trouxemos lá daquele início
Onde chorávamos batendo pernas e bracinhos
Sempre esperando só receber bons carinhos.

Que passagem é esta que transcorreremos
Deixando os amigos e a nossa terna família
Onde aprendemos, sofremos e rimos felizes
A caminho do morteiro que propiciará a ida
Onde estupefatos os deixaremos chorando.

Para onde iremos sem malas nem bagagem
E nem o corpo que nos vestiu por um tempo
Saímos dele e por desconhecimento choram
Os muitos que não sabem sim que há continuação.

Choram por não saberem que se no amor vivemos
Alegrias ensolaradas podemos ter na nova partida.

Levaremos de bagagem as tantas experiências
Uma alma cheia de vivências que não tínhamos
Que nos tornaram leves com os perdões e amor
E pesados se nesta mala só carregamos o vazio
Coisas que aqui quisemos, mas que não valiam.

A mala é pesada se de egoísmos a carregamos
Se falsos amores e danos dolorosos causamos
Será pesada se só com Ferraris nos preocupamos
Se com ardis carregamos nossa conta no banco
Se ao povo, com fins ilícitos, sofrimentos causamos.

São sentimentos que na alma, com certeza, levaremos
E a tornará pesada feito chumbo, difícil de carregar
Teremos que arrastá-la e a nova viagem dura será
Até quem sabe talvez não venha algum merecimento
Que alivie das costas este peso que aqui foi traçado.

Triste andarilho que se arrastará com a mala cheia
Que só substituída por reconhecimentos e remorsos
Choro e lágrimas das quantas infelicidades causadas
Poderá ter se cair de joelhos e o perdão implorar
Pelos males que aqui ele causou com ambas as mãos.

Terá agrilhoado um carrinho com os frutos da colheita
Que aqui plantou pensando sabedor que a todos enganaria
E a todos ferrou feito um campeão astuto de ardileza
Não sabedor entanto o que no lado invisível foi criando.

Se na natureza só comemos os frutos que plantamos
De onde achar que neste mundo perfeito há diferença
Ao que fazemos pensamos e ao que aqui sentimos?
Porque achar que teremos paz se na alma temos ódio
Se no íntimo escondido cobiça e inveja alojamos?

O mundo futuro que teremos lá naquele encontro
Onde passaremos com a nossa mala imantada
Lá naquele momento em que parentes chorarão
Vislumbraremos que, interessante, ainda vivemos!

E ao mesmo tempo: surpresa, ali não tem dinheiro
Nem um cargo que me proteja nem amigos alheios
Que acontece neste espaço tão maluco onde sinto
Que ao tudo construído não será de nenhuma valia.

Porque ninguém me vê se estou logo aqui a chamar
Gritando e ninguém ouve, só tendo olhos para o corpo
Porque não me escutam se eu estou aqui estupefato
Como pode ser isto se eu os vejo e eles a mim não?

Oi minha esposa olha aqui para mim, estou aqui!
Estou tocando no teu ombro e você nada sente
Por que ninguém me disse que aqui seria assim
Onde está a explicação? Jesus não me esperaria?

Tanto dinheiro acumulado e aqui sem serventia
Cadê todo poder e a minha toga que me protegia
Cadê meu revólver que sempre me dava garantia
Estou aqui só e sem proteção, afinal onde estou?

Como é que vou aqui caminhar se não sei pra onde
Quem vai me dizer para o que senão tem ninguém
Ninguém escuta e todos já estão me abandonando
Porque ninguém sabia que é assim que aconteceria?

Mas que tanto papo furado eu só escutei
Rezava e até achava que estava tudo bem
Todos se enganam, não é nada do prescrito
Já estão me deixando, todos já estão indo.

E agora qual será o meu destino?
Como iniciarei aqui o meu novo caminho?

“Decorrente de lei eterna, uma pressão de expiação inalterável pesa sobre vós, a qual nunca podereis passar para outros. O que carregais mediante vossos pensamentos, palavras ou ações, ninguém mais, senão vós próprios, pode resgatar! Ponderai bem, pois de outro modo a justiça divina seria apenas um som oco, caindo tudo o mais consigo em ruínas.”
(Abdruschin – Na Luz da Verdade)